Djamila Ribeiro: sem ações antirracistas, coisas continuarão como estão
A escritora e filósofa analisa protestos nos Estados Unidos por conta da morte de George Floyd e situação no Brasil
A escritora e filósofa Djamila Ribeiro falou à CNN na tarde desta segunda-feira (1º) sobre a violência contra a população negra e os protestos que acontecem em pelo menos 140 cidades dos Estados Unidos devido à morte de George Floyd, um homem negro que foi asfixiado quando estava sob a custódia da polícia em Minneapolis (EUA).
Para Djamila, as manifestações precisam acontecer e são importantes, mas é preciso ir além.
“É necessário que a sociedade dê respostas a esses assassinatos sistemáticos de jovens negros, e que as pessoas enxerguem a importância de saírem às ruas para cobrar. Mas é necessário que no nosso dia a dia entendamos a importância de ações antirracistas, porque senão, mais uma vez, nós vamos às ruas, nos manifestamos e depois as coisas continuam como estão”, disse.
Segundo a escritora, para acabar com a violência de Estado contra negros, é preciso, por exemplo, discutir um outro tipo de segurança pública.
“Não podemos ter uma segurança pública que é de ‘guerra às drogas’, que nada mais é que guerra contra as populações negras e periféricas”, disse.
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“Precisamos discutir que tipo de governo e projetos estamos apoiando. Não podemos apoiar projetos que tenham como objetivo essa política de morte, a redução de políticas públicas para a população negra e periférica”, acrescentou.
Racismo no Brasil
Djamila lembrou que o Brasil, além de ter uma polícia violenta, é um dos países que mais mata defensores e ativistas de direitos humanos no mundo e que, por isso, a população negra sabe o custo de ir às ruas.
“É importante entender todos os movimentos de resistência na sua amplitude. [Participar de] manifestações é uma maneira de nos posicionarmos contra a violência racial, assim como a luta histórica por acesso à educação, as diversas organizações quilombolas que existem no Brasil, o movimento negro que lutou por cotas na educação, as religiões de matriz africana no Brasil, que apesar de todo o processo de marginalização ainda existem”.
Segundo a filósofa, vivemos em um país em que durante muito tempo existiu o mito da “democracia racial” e esquecemos que o Brasil foi um dos últimos países das Américas a abolir a escravidão.
Djamila disse também que o primeiro passo para esta realidade mudar é “desnaturalizar o olhar a essas questões e criar empatia de fato”.
“Mas não empatia nesse sentido que muitas vezes é utilizado, como se fosse algo espontâneo. A empatia na nossa concepção é uma construção intelectual e política. É importante que as pessoas não negras leiam sobre essa questão, entendam o que dizemos quando falamos que o racismo estrutura todas as relações sociais no Brasil, que racismo não é somente quando uma pessoa negra e famosa sofre ataques nas redes sociais. Isso também é, mas racismo também é vivermos em uma sociedade em que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, que por mais que sejamos a maioria da população, não ocupamos espaços de poder. É entender o racismo como estrutura”, explicou.
(Edição: Bernardo Barbosa)