Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Dia dos Pais: Eu sou um pai tóxico? Descubra se você é ausente ou tem comportamentos inadequados

    Demonstrações de toxicidade pelos pais podem ser feitas ainda durante a gravidez; cobranças, decepções e ausências são algumas das formas mais comuns

    Gabriel Fernedada CNN , em São Paulo

    Quando se fala da relação dos pais com os filhos, são frequentes estudos e informações sobre o papel e a importância da mãe no processo de criação. No entanto, pouco se fala sobre o impacto da relação paterna com as crianças.

    Dentro do universo de relações maternas e paternas, a palavra toxicidade vem despertando um interesse especial, muitas vezes devido aos impactos e consequências negativas que alguns comportamentos podem ter sob as crianças, da infância até a adolescência.

    No entanto, o que muitas pessoas talvez não saibam é que demonstrações de toxicidade de um pai podem começar a influenciar os filhos ainda durante a gravidez.

    Segundo a psicanalista Ligia Mattos, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), ainda no útero da mãe, as crianças podem reagir negativamente a questões emocionais do ambiente externo.

    “Atualmente, com registros de imagem feitos in útero, observam-se reações do bebê às questões emocionais da mãe e do ambiente desde a gestação”, explica.

    “Um pai autoritário, agressivo, violento, que maltrata a mãe, determina um tipo de relação do casal e, em consequência, nas emoções da mãe, que reage às agressões ou que sofre, mesmo em silêncio, e que podem deixar marcas psíquicas no bebê em formação”, completa Ligia.

    Para a psicanalista, existem muitos distúrbios psiquiátricos que podem ser adquiridos pelas crianças ainda no útero, de acordo com comportamentos nocivos dos pais.

    “Muitos diagnósticos psiquiátricos de distúrbios do desenvolvimento na criança podem assim ter como origem situações muito precoces. São marcas que vão ficando ao longo do tempo. A criança pode se tornar ansiosa, agressiva, hiperativa, desatenta, ou ter outras manifestações.”

    Cobranças, decepções e ausências

    Após o nascimento, outros fatores passam a afetar as crianças, e uma eventual toxicidade paterna passa a ser demonstrada via cobranças exageradas, decepções e ausências.

    “Há aqueles pais que não suportam a decepção de que seu filho ou filha não corresponda às suas expectativas e fantasias de excelência, e passa a criticá-lo de forma cruel, minando a autoconfiança da criança, do adolescente”, analisou Ligia.

    “São pais que, muitas vezes, na infância e na adolescência, não tiveram dos pais nem a continência de suas ansiedades, nem a compreensão das fragilidades de uma criança ou adolescente em desenvolvimento. Ao se tornarem pais, reproduzem o modelo conhecido, que chamaríamos de cruel”, completou.

    Ligia Mattos reforçou que uma figura paterna tóxica pode se manifestar também através da ausência, quando “o casal não chegou a se constituir”.

    “Mesmo quando o pai desde sempre esteve ausente e o casal nem mesmo chegou a se constituir, ele também pode ser uma figura tóxica para a mãe, que reage ao abandono ou à ausência com mágoa, ressentimento e observações negativas e críticas a respeito dele, que faz aos filhos”, explica.

    Outro momento que pode ser delicado e exercer uma influência negativa para os filhos é o comportamento em relação a uma separação ou divórcio.

    “Nos divórcios e separações, o pai ausente que mantém relação belicosa com a mãe e não busca o contato com os filhos é figura que os decepciona, sejam crianças ou adolescentes, causando também ressentimento, sofrimento e dor. Pode também ser considerado tóxico um pai que não atende às necessidades de contenção das angústias dos filhos e de suas expectativas de presença, carinho e compreensão”, afirma.

    Como lidar com um pai tóxico?

    Por mais que não haja uma resolução única ou uma fórmula para a questão, o início de qualquer tratativa, segundo Ligia Mattos, estaria na detecção do problema e, na sequência, um trabalho do ponto de vista emocional, tanto com a família quanto com o pai.

    “É indispensável a elaboração das marcas iniciais de sofrimento e das reações que elas determinam na atitude da pessoa em relação aos outros e a si própria.”

    “É importante o trabalho do ponto de vista emocional com a família, ou com o indivíduo que está sendo chamado de ‘pai tóxico’, porque talvez ele esteja reagindo a marcas antigas de sofrimento fixadas nas relações familiares ao longo de seu desenvolvimento.”

    Tópicos