Desmatamento na Amazônia em agosto é o pior em dez anos
Acumulado desde janeiro de 2021 também ficou como o pior da década, pelos dados do Imazon


A um mês e meio da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, na Escócia, os números de desmatamento no Brasil seguem batendo recorde.
De acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), uma área equivalente a cinco vezes o tamanho de Belo Horizonte foi desmatada na Amazônia apenas em agosto, o maior índice para o mês em 10 anos.
Com isso, o acumulado desde janeiro de 2021 também ficou como o pior da década.
Com 1.606 km² de floresta destruída, agosto foi o quinto mês deste ano em que o desmatamento atingiu o pior cenário desde 2012.
Março, abril, maio e julho também tiveram a maior área de floresta destruída em 10 anos, o que indica que as medidas tomadas para combater a derrubada não conseguiram baixar o ritmo do dano ambiental.
Em relação a agosto do ano passado, a área desmatada neste ano é 7% superior. Já o acumulado de janeiro a agosto, de 7.715 km², é 48% maior do que no mesmo período de 2020.
“As consequências do desmatamento na Amazônia legal são diversas. Entre elas estão: a intensificação do aquecimento global, a alteração do ciclo hidrológico, que vai afetar o regime de chuvas e piorar a crise energética”, diz Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
“Temos também ameaça aos povos tradicionais como indígenas e ribeirinhos, quilombolas e extrativistas, como a perda de biodiversidade tanto de fauna quanto de flora”, complementa ela.
Além disso, para o especialista da Imazon Antônio Fonseca, é preciso destinar terras públicas que ainda não tiveram seu uso definido para criação de novas áreas protegidas, como unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas.
Outras medidas, segundo ele, seria barrar projetos de lei que flexibilizam regras para regularização fundiária, retiram direitos dos povos indígenas e reduzem áreas protegidas – além de aumentar a fiscalização.
Pará segue como estado que mais desmata
Desde maio, o Pará segue consecutivamente no topo do ranking dos estados que mais desmataram na Amazônia, e teve 638 km² destruídos apenas em agosto. Essa área representa 40% de toda a devastação na Amazônia Legal e é maior do que São Luís.
Além disso, em agosto, o Pará concentrou 6 das 10 unidades de conservação do ranking das que mais desmataram e metade dos municípios, terras indígenas e assentamentos.
“Apenas os cinco municípios paraenses que figuram na lista dos 10 que mais desmataram, Altamira, São Félix do Xingu, Pacajá, Itaituba e Portel, concentraram 40% do total de desmatamento detectado no estado”, diz Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
“Todos estão na lista do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que indica os municípios prioritários para prevenção, monitoramento e controle do desmatamento. E eles ainda apresentam grandes blocos de áreas protegidas em seus territórios, o que torna esse desmatamento ainda mais perigoso e agravante”, comentou.
Municípios do sul do Amazonas são os que mais destruíram a floresta
Na lista dos estados, o Amazonas segue pelo quarto mês consecutivo como o segundo que mais desmata na Amazônia, com 412 km² de floresta devastada em agosto (26% do total).
Porém, no ranking dos municípios, duas cidades do sul amazonense ficaram em primeiro e em segundo lugar entre as maiores desmatadoras: Lábrea e Boca Acre. Ambas somaram 185 km² de destruição em agosto.
Com 236 km² de floresta desmatados em agosto (15% do total), o Acre entrou pela primeira vez no ano no terceiro lugar do ranking dos estados que mais destruíram a Amazônia. Apenas dois municípios, Sena Madureira e Feijó, somaram 95 km² de desmatamento, 40% do registrado no estado.
O Acre também teve duas entre as 10 unidades de conservação com as maiores áreas destruídas em agosto, a Resex Chico Mendes e a Resex do Cazumbá-Iracema.
Monitoramento
O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), desenvolvido pelo Imazon, é uma ferramenta que utiliza imagens de satélites (incluindo radar) para monitorar a floresta. Além do SAD, existem outras plataformas que vigiam a Amazônia: Deter, do Inpe, e o GLAD, da Universidade de Maryland.
Todas são importantes para a proteção ambiental, pois garantem a vigilância da floresta e a emissão de alertas dos locais onde há registro de desmatamento. Os dados fornecidos ajudam os órgãos de controle a planejarem operações de fiscalização e identificarem desmatadores ilegais.
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) afirmou que tem atuado de “forma integrada” com o Ministério da Justiça e Segurança Publica, Ministério da Defesa e demais órgãos do governo federal para realizar operações de combate ao crime organizado e ambiental.
“Como fruto dessa atuação integrada, segundo os dados do INPE, o desmatamento na Amazônia sofreu uma queda de 32,45% no mês de agosto, se comparado com o mesmo período do ano passado, através da atuação de 220 homens na região sul do Amazonas”, disse a pasta.