Cuidar das árvores das grandes cidades é questão de urgência, dizem especialistas
Árvores não tratadas caem sobre a rede elétrica, causam danos ao fornecimento e deixam a população sem energia
Em cidades como São Paulo, cheias de prédios, as áreas verdes são refúgios: aliviam o calor, reduzem a poluição e previnem enchentes. Mas, as árvores também viraram motivo de preocupação. Na noite de quinta-feira (18), a queda de uma árvore de grande porte chamou a atenção em Osasco, na região metropolitana de São Paulo, durante um temporal. O impacto destruiu o muro de uma escola, dois carros, e uma idosa ficou ferida. A rede elétrica também foi danificada e toda a região ficou sem energia.
Somente neste ano, em meio às fortes chuvas que atingem o estado, o corpo de bombeiros já recebeu mais de 1000 chamados para queda de árvores. Um problema que provoca o bloqueio de vias, acidentes, destruição da rede elétrica e mortes. No começo do ano, um homem de 58 anos morreu ao ser atingido por uma árvore, durante um temporal em Itupeva, no interior paulista.
Os eventos climáticos explicam em parte o número de árvores caindo em São Paulo. São constantes temporais, e com rajadas de vento históricas. Em novembro do ano passado, por exemplo, a cidade registrou ventos com mais de 100 quilômetros por hora. Milhares de árvores caíram e a maior cidade do país ficou dias com bairros inteiros sem luz. Dois milhões de pessoas ficaram sem energia. Segundo o instituto Acende Brasil, mais de 90% das interrupções aconteceram devido aos danos que as quedas de árvores provocaram na rede elétrica.
A queda de árvores gera um grande impacto no setor elétrico do país e é um desafio para o poder público. A capital paulista, por exemplo, tem cerca de 650 mil árvores. Além das que já caíram, muitas outras ainda podem desabar, emaranhadas às fiações e em meio a casas e comércio.
Para Claudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil, a forma de tratar as árvores tem interferência direta nos problemas causados pelas quedas. “Se você tivesse essas árvores melhores tratadas, nesse aspecto preventivamente, você não teria as duas mil quedas, teria um número menor, não sei quão menor e, portanto, teria menos desligamentos”, diz.
Salles ressalta, ainda, que não é possível ter um sistema totalmente imune a um evento natural extremo. “Um evento extremo dessa natureza você não consegue ter um sistema que seja totalmente imune a isso, mas você consegue sim tomar um conjunto de medidas que em maior, ou menor grau mitigue esse problema, torne seus efeitos menores do que se não houvesse essas ações preventivas. Poda, fazer a poda mais tempestiva e até mesmo transplante, transplante de árvores que muitas vezes já não estão sadias e outras que têm que ser transplantadas, mesmo porque já chegaram em uma dimensão que nem mesmo uma simples poda pode resolver.”
O pesquisador e engenheiro-agrônomo da USP, Marcelo Leão, explica serem vários os motivos que podem causar as quedas, mas entre os principais estão o estado da madeira, o local e o espaço onde a espécie foi plantada e podas irregulares.
“A árvore, como todo ser vivo, apresenta sinais de que ela vai cair. Nem sempre esses sinais são super visíveis, mas cabe a nós, técnicos, monitorarmos, anteciparmos essas situações e atuarmos na mitigação do problema, principalmente cuidando das árvores ao longo do tempo”, afirma o pesquisador.
A prefeitura de São Paulo lançou em 2020, o plano municipal de arborização urbana, com duração de 20 anos, para melhorar o manejo e criar um sistema de gestão participativa das árvores da cidade. O plano, que tem período de revisão a cada cinco anos, tem 170 ações previstas, entre elas um inventário arbóreo. Segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da prefeitura, 42 ações do plano estão em andamento.
Para os especialistas, cuidar das árvores é um dever da gestão pública das cidades e uma questão de urgência, já que os eventos climáticos extremos, como temporais, enchentes e fortes rajadas de vento, são cada vez mais comuns.
“É muito triste, porque quando cai uma árvore, é um sinal da falta de zelo dos responsáveis por elas, o poder público, em relação a todas as atividades que deveriam ser tomadas, como plantar árvore no lugar certo, cuidar ao longo do tempo e também uma substituição quando é necessária”, complementa o pesquisador.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo diz que tem compromisso com a manutenção das árvores através da Secretaria Municipal das Subprefeituras. Diz, ainda, que “antes de qualquer serviço ser executado, um engenheiro-agrônomo realiza uma vistoria para determinar o tipo específico de trabalho necessário para cada árvore. Os quatro principais tipos de podas são: adequação, limpeza, correção/equilíbrio e emergencial. As 32 subprefeituras seguem um cronograma para assegurar que todas as solicitações sejam atendidas de maneira eficiente.”