‘Como túnel do tempo’, diz procurador sobre esquemas em governos Witzel e Cabral
Governador do Rio de Janeiro foi afastado do cargo nesta manhã
O procurador da República Eduardo El Hage disse que “não há motivação política” na operação Tris In Idem, que resultou no afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).
A declaração do procurador vem em resposta à fala de Witzel, no Palácio Laranjeiras, ao acusar interesse político da denúncia promovida pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
O procurador disse que se sentiu em um “túnel do tempo” ao rever esquemas de corrupção que se assemelham aos praticados pelos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB, como desvio de dinheiro público, contratos de fachada e uso de operadores financeiros, inclusive com doleiros no Uruguai.
El Hage afirmou que a operação vai continuar e, em breve, trará “novos fatos”.
De acordo com Tácio Muzzi, superintendente da Polícia Federal no Rio, foram cumpridos 82 mandados de busca e apreensão e 17 de prisão.
El Hage disse que a denúncia tem conteúdo probatório robusto e fatos contemporâneos. As investigações partiram das Operações Favorito, Placebo e da delação do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos.
O MPF afirma que a delação de Edmar foi firmada antes da sua prisão, em julho, e de forma “espontânea”.
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O alvo principal da operação desta sexta-feira (28) foi o empresário e fornecedor do estado Mário Peixoto. De acordo com as investigações, organizações sociais e operadores financeiros eram usados para o pagamento de propina para agentes públicos.
O MPF afirma que foram identificadas quatro empresas que pagaram serviços nunca prestados pelo escritório de advocacia da primeira-dama do estado do Rio, Helena Witzel.
Na peça, o MPF destaca o pagamento de R$554.236,50 para a esposa de Witzel entre 13 de agosto de 2019 e 19 de maio de 2020. O dinheiro seria fruto de propina.
A negociação servia para dissimular o pagamento de vantagens indevidas. Três destas empresas estão ligadas a Mário Peixoto.
A requalificação da OS Instituto Unir Saúde — Peixoto é considerado seu proprietário anônimo —, está sob investigação, pois, de acordo com a PGR, Witzel recebeu propina para permitir novos negócios da empresa com o estado.
O inquérito tem 400 páginas. O MPF endossou que pediu a prisão de Wilson Witzel, que acabou negada pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Fábio Cardoso Amaral, superintendente-adjunto da 7° Região Fiscal da Receita Federal, comentou que foram investigadas movimentações financeiras após a quebra de sigilos fiscal e telemático e que existem indícios dos pagamentos indevidos a Witzel durante a campanha ao governo em 2018.
Para o procurador Galtiênio da Cruz Paulino, assessor da PGR, a operação Tris In Idem deu ensejo para outra investigação sobre um esquema de funcionários fantasmas envolvendo Walter Alencar, político que foi candidato ao governo do Piauí em 2018 pelo PSC, mesmo partido do governador afastado do Rio, e que depois trabalhou na administração Witzel.