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    Colapso em mina de Maceió: pesquisadores cobram laudos técnicos dos órgãos responsáveis

    Dilson Ferreira, professor de Arquitetura e Urbanismo da Ufal, afirma que estabilização do solo não indica que cratera pode ser evitada

    Duda Cambraiada CNN

    Em entrevista à CNN, Dilson Ferreira, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), cobra mais transparência dos órgãos responsáveis pelo monitoramento das minas. “Até então não se foi feito nenhuma entrevista coletiva, não se apresentou realmente os dados técnicos. O que a gente sabe hoje, são informações que chegam igualmente à imprensa”.

    A Defesa Civil de Maceió (AL) afirmou, por meio de nota publicada neste domingo (3), o afundamento da mina número 18 da Braskem desacelerou. Segundo o professor, isso não significa que o colapso não acontecerá.

    “Quando chega num ponto desse, é um conjunto de eventos e de omissão. O sal-gema já é explorado há 40 anos, diversas gestões municipais e estaduais passaram e as licenças foram outorgadas ao longo do tempo”, afirma o pesquisador.

    Para Dilson, “tudo indica que foi uma série de omissões do estado em relação a essas minas”. O professor pontua que as minas estão muito perto uma das outras, que não cumprem com as normas. “Existem muitas irregularidades nessas minas, que estão em áreas urbanas e nem poderiam existir”.

    Ilhamento social

    Além de professor da Ufal, Dilson é coordenador técnico da Diretoria da Associação do Movimento Unificado das vítimas da Braskem e afirma que existe uma sensação de abandono na cidade.

    “Flexais é uma comunidade no final da lagoa, que não foi colocada no mapa. Inclusive, a Defensoria Pública pede a realocação dessas pessoas. A comunidade ficou isolada, num ilhamento isolado”, diz especialista.

    O professor enfatiza que “existem, sim, pessoas ainda na região que correm risco de um colapso que pode acontecer na mina”.

    Em nota, a Defesa Civil do município diz que “todos os dados são compartilhados com as Defesas Civis Nacional e Estadual, Agência Nacional de Mineração e Governo Federal*. Leia na íntegra:

    Nota — Defesa Civil de Maceió

    A Defesa Civil de Maceió monitora 24 horas por dia, por meio de um conjunto de equipamentos, o mapa de risco da cidade. Todos os dados são compartilhados com as Defesas Civis Nacional e Estadual, Agência Nacional de Mineração e Governo Federal. Diariamente a Defesa Civil emite boletins informando as pessoas sobre a evolução do quadro, com especial atenção para a situação da mina 18. Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União e Ministério Público de Alagoas fazem também parte da força tarefa de enfrentamento ao afundamento do solo. A eventual inclusão de novos territórios no mapa está em constante avaliação.

    Possíveis cenários

    Como a mina ainda não colapsou e o afundamento do solo diminuiu, o professor aponta três possíveis cenários nessa situação:

    • primeiro cenário: acomodação do solo sem abrir buraco;
    • segundo cenário: a cratera surgir e a água da lagoa entrar na cratera. “Como tem resíduo de sal-gema, vai aumentar a salinidade e afetar o bioma, como o sururu, o principal sustento da região”;
    • terceiro cenário: “se boa parte das minas colapsaram, porque são 35, aí sim vai entrar mais água, mais poluição, e a gente não abe qual seria o impacto ambiental”.

    Entenda o caso

    A Prefeitura de Maceió decretou situação de emergência, na última quarta-feira (29), por risco iminente de colapso de uma mina da petroquímica Braskem na Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange. Segundo o governo do estado, houve cinco abalos sísmicos na área no mês de novembro, e o possível desabamento pode ocasionar a formação de grandes crateras na região.

    A Defesa Civil de Alagoas alertou que uma ruptura no local pode ter um efeito cascata em outras minas.

    O que diz a empresa

    A Braskem informou que continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange, em Maceió. A petroquímica diz que utiliza de equipamentos de última geração para garantir a detecção de qualquer movimento do solo. A região de risco está isolada desde terça-feira (28) e a empresa vem apoiando a realocação dos moradores de 23 imóveis da região.

    “A extração de sal-gema em Maceió foi totalmente encerrada em maio de 2019, e a Braskem vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Esse plano registra 70% de avanço nas ações, e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2025”, pontuou a companhia.

    Minas de Maceió

    As minas da Braskem em Maceió são cavernas abertas pela extração de sal-gema durante décadas de mineração na região. Essas cavernas estavam sendo fechadas desde 2019, quando o Serviço Geológico do Brasil (SGB) confirmou que a atividade realizada havia provocado o fenômeno de afundamento do solo na região, o que obrigou a interdição de uma série de bairros da capital alagoana.

    Ainda em 2018, foram identificados danos semelhantes em imóveis e ruas do bairro do Mutange, localizado abaixo do Pinheiro e à margem da Lagoa Mundaú; e no bairro do Bebedouro, vizinho aos outros dois. Em junho de 2019, moradores do bairro do Bom Parto relataram danos graves em imóveis.

    Desde então, o Ministério Público Federal em Alagoas (MPF-AL) acompanha o caso, tendo assumido, em dezembro de 2018, a apuração dos fatos e iniciado atuação preventiva em favor dos moradores.

    Em julho deste ano, a prefeitura da cidade fechou um acordo com a empresa assegurando ao município uma indenização de R$ 1,7 bilhão em razão do afundamento dos bairros, que iniciou em 2018.

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