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    CNN Bicentenário: Conheça as motivações da Revolução Pernambucana

    Revolta celebrada em 6 de março é lembrada por ideais republicanos contra a monarquia

    Letícia Britoda CNN

    Em São Paulo

    No processo de independência do Brasil, diversos movimentos separatistas, com diferentes motivações e em regiões distintas, buscaram romper tanto com as ordens vindas de Portugal quanto com o governo local, com sede no Rio de Janeiro.

    Dentre as maiores manifestações do período, está a Revolução Pernambucana, iniciada em 6 de março de 1817 e que durou até maio do mesmo ano. A revolta possuía um caráter separatista e republicano – diferentemente do que aconteceu com a independência do Brasil, que seguiu em um regime monarquista até 1889.

    “Há quem defenda, como o historiador Evaldo Cabral de Mello, que Pernambuco sempre teve uma verve republicana, e é fato”, comenta a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz. “Durante o período colonial, várias manifestações existiram partindo de Pernambuco e sempre com essa perspectiva republicana, e não imperial”, ressalta a professora.

     

    Com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, em 1808 e, junto com ela, o aumento expressivo de gastos envolvendo o modo de vida dos monarcas e de seus súditos, outras capitanias espalhadas pelo Brasil se viram sobrecarregadas com impostos, sem quaisquer vantagens econômicas, alimentando um sentimento generalizado de descontentamento.

    “Enquanto o Rio de Janeiro recebia todas as benesses da presença da corte, as outras capitanias não só não recebiam essas benesses, como tinham que sustentar, através de impostos e encaminhamento de recursos, o que a corte fazia no Rio de Janeiro e os recursos que eram encaminhados a Portugal”, destaca Cecília Helena de Salles Oliveira, docente da USP e do Museu do Ipiranga.

    “Enviados de Pernambuco foram para os EUA e para a Europa buscar esforços e reforços para esse movimento, que tinha uma grande infiltração, um grande enraizamento. Era um descontentamento muito grande”, comenta a docente.

    Para descrever o movimento, motivado por um descontentamento econômico generalizado, o historiador e professor UFRRJ/CNPq Álvaro Pereira do Nascimento menciona um “silêncio ensurdecedor”, em que ele vê uma ponte com o presente.

    “É aquilo que parece que está tudo calmo, tudo tranquilo”. “[Com uma faísca] as pessoas vão contra um forte e pressionam o governador ou qualquer outro grupo que esteja ali presente representando o que elas não querem que exista mais”, completa.

    Apesar da curta duração, a Revolução Pernambucana cumpriu um importante papel na formação do pensamento republicano no Brasil, além de discutir a distribuição de renda e a relação entre as capitanias do Brasil e a capital, no Rio de Janeiro.

    Segundo a docente Cecília Helena, o movimento formou “uma geração de políticos que atuou fortemente contra a monarquia no Rio de Janeiro e contra as condições para o exercício da política e da autonomia política naquele momento”.

    “Muito dessa divisão que temos hoje de Sudeste/Nordeste vem desse momento. A gente não nota, mas a nossa história oficial é muito sudestina, e nós não prestamos atenção para as consequências no Nordeste”, diz Lilia Schwarcz.

    “Províncias que tinham uma grande autonomia perdem essa autonomia por causa da gestão da família real no Rio de Janeiro. A questão central é essa: é uma rebelião contra o domínio do Sudeste.”