Chuva em Petrópolis para funcionamento de laboratório que sequencia genoma do coronavírus
LNCC trabalha na identificação de linhagens do novo coronavírus e abriga o Supercomputador Santos Dumont, um dos mais poderosos do mundo


A enchente que atingiu Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, e espalhou o caos pela cidade, com um saldo de mais de 100 mortos, afetou o funcionamento um importante instrumento de vigilância genômica da pandemia de Covid-19: o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), equipamento federal, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, que tem sede na cidade. A unidade não sofreu danos estruturais, mas está sem funcionar, como boa parte da rede de serviços da cidade.
O LNCC é um dos poucos laboratórios do estado do Rio de Janeiro que fazem sequenciamento genômico do novo coronavírus, um trabalho importante para detectar eventuais mutações e para saber quais são as linhagens dominantes em circulação. Coordenadora do laboratório de bioinformática do LNCC, Ana Tereza Vasconcelos explica o tamanho do drama.
“O LNCC não foi atingido, mas estamos sem internet e as operadoras de telefonia foram afetadas também. Pessoas que trabalham conosco tiveram perdas familiares, é muito triste a situação. Estamos fechados, pois as pessoas não têm como chegar. Estamos tentando ajudar as vítimas e as famílias”, explica a pesquisadora.
O LNCC não fica no Centro Histórico, área mais afetada pela tragédia, pela proximidade com o Morro da Oficina, onde houve e enxurrada mais forte, e ao Rio Piabanha, que subiu de nível e transbordou. Em todo o estado, há sequenciamento genético apenas nos laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e no Instituto Nacional do Câncer (Inca), além do LNCC.
Nesta quinta-feira (17), o laboratório divulgou um comunicado, no qual detalha o posicionamento sobre o ocorrido. “O LNCC compartilha da tristeza da nossa cidade de Petrópolis em decorrência dos danos causados por conta das chuvas intensas. Lamentamos profundamente a dor pela qual nossa população petropolitana está passando e nos solidarizamos às pessoas e às famílias atingidas, inclusive, familiares de nossa equipe”.
Em outro trecho do posicionamento, o órgão federal explica as razões que o fizeram suspender as atividades neste momento. “Nossas atividades presenciais estão suspensas devido à precariedade das vias e dos transportes, encontrando-se a cidade em estado de calamidade reconhecido pelo governo municipal”, conclui a nota.
O LNCC foi responsável pela identificação de algumas variantes do coronavírus que ainda não tinham sido descritas no mundo. Ex-ministro da Saúde, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) lamentou a tragédia que levou ao fechamento do laboratório, o que considera um prejuízo importante para o trabalho de vigilância genômica.
“A interrupção do trabalho do LNCC é uma perda nessa guerra contra a pandemia. Estamos em uma grande guerra, que leva a centenas de milhares de mortes em nosso país, e o surgimento das variantes exige cada vez mais a necessidade de fazer o mapeamento genético, identificar variantes e novos riscos da progressão da doença no Brasil e no mundo. A paralisação é uma perda importante, sobretudo no Rio, que recebe muitas pessoas de fora, com muita circulação e, por isso, é um dos estados mais estratégicos”, afirma o parlamentar.
Celso Pansera, ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, destaca ainda que o LNCC abriga ainda, desde 2015, o Supercomputador Santos Dumont, que teve a capacidade ampliada em cinco vezes em 2019.
“Esse equipamento tem uma das maiores capacidades de processamento de informações do hemisfério sul e é um orgulho para a ciência brasileira. É capaz de fazer modelagens bastante complexas de sistemas voltados para o pré-sal, planejamento, análises de tempo e temperatura. E o LNCC desempenha um papel importante de pesquisa e soluções para o coronavírus. A situação de Petrópolis cria uma nova questão, porque inviabiliza o funcionamento temporário do LNCC e do Santos Dumont e, por isso, o trabalho de resgate e de volta á normalidade é importante. Para a população e para a ciência”, explica o ex-deputado federal.
Em edição extra do “Diário Oficial” do estado, nesta quinta, o governador Cláudio Castro (PL) homologou o decreto municipal, do prefeito Rubens Bomtempo (PSB), que declarava estado de calamidade no município. Até o momento, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e a bancada fluminense do Congresso Nacional destinaram, somados, R$ 79 milhões para a recuperação da cidade. A primeira, como doação do fundo especial, e a segunda, na condição de emendas de bancada.
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Veículos arrastados pela enchente que atingiu o município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Lucas Lamela
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Funcionários trabalham para retirar lama de suas lojas na Rua Washington Luiz, no caminho do centro histórico da cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Veículo arrastado pela enchente é visto no Rio Quintadinha, na Rua Washington Luiz, no caminho do centro histórico de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Veículo arrastado pela enchente que atingiu o município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no Centro Histórico de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Cidade de Petrópolis (RJ) foi atingida por fortes chuvas na noite desta terça-feira (15) • ESTADÃO CONTEÚDO
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Diversas ruas da cidade foram alagadas e veículos foram arratados pela água • Gabrielle Ravasco
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Muitos locais da cidade estão cobertos de água das chuvas e lama • Gabrielle Ravasco
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A força das chuvas foi o suficiente para arrastar veículos no centro de Petrópolis • Gabrielle Ravasco
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Veículos amontoados após inundações na cidade • Gabrielle Ravasco
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Dois ônibus são arrastados em Petrópolis após as fortes chuvas • Cleber Rodrigues/CNN
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Carro submerso em rio depois de fortes chuvas em Petrópolis, RJ • Ricardo Moraes/Reuters (16.fev.2022)
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Árvores caídas e carros destruídos pelas chuvas em Petrópolis (RJ) • Carlos Elias Junior/FotoArena/Estadão Conteúdo
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Ministério da Saúde calcula destruição de locais de atendimento à população em Petrópolis • Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Casa e carro são destruídos pelas fortes chuvas em Petrópolis (RJ) • Carlos Elias Júnior/FotoArena/Estadão Conteúdo (17.fev.2022)
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Trabalhos das equipes de resgate em Petrópolis (RJ) • Cleber Rodrigues/CNN (17.fev.2022)
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