Caso Marielle: Delegado é denunciado por vazamento ilegal de informação sigilosa
A denúncia foi feita contra o delegado Maurício Demétrio, da Polícia Civil, preso em junho deste ano por esquema que cobrava propinas a comerciantes
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) denunciou à Justiça o delegado da Polícia Civil Maurício Demétrio por vazamento ilegal de informação sigilosa referente à investigação do caso Marielle. A informação foi confirmada à CNN por fontes do MP.
Uma possível interferência externa e o vazamento de documento que, segundo o MP, era sigiloso, teria sido um dos motivos que fizeram com que as promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile, ambas do MP-RJ, deixassem a força-tarefa criada para investigar as circunstâncias do assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.
Em resposta, a Polícia Civil negou que o documento repassado fosse sigiloso, e afirmou que não houve interferência externa na investigação.
“O encaminhamento de um delegado que afirma estar sendo ameaçado de morte para ser ouvido pelo delegado de Homicídios é natural e não configura qualquer tipo de interferência”, afirmou, por nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro.
O delegado Maurício Demétrio, preso no fim do mês passado após ser acusado de participar de uma quadrilha que cobrava propina de comerciantes em Petrópolis, teria se encontrado com o delegado Moysés Santana, que conduzia as investigações do caso Marielle na época. O encontro teria sido a pedido do secretário de Polícia Civil, Allan Turnowsky.
Moysés, que na semana passada foi retirado da Delegacia de Homicídios (DH) por Turnowski — e por isso não está mais à frente do caso Marielle — , disse que o documento repassado à Demétrio não era sigiloso. No entanto, sua saída da DH ocorreu pouco depois do encontro com Demétrio e coincide com a denúncia do MP sobre o vazamento ilegal de informação sigilosa.
Exoneração da força-tarefa
O afastamento das promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile foi publicado na noite de segunda-feira (12), no Diário Oficial (D.O) do MP-RJ. Sibilio era a coordenadora da força-tarefa e Emile a promotora assistente.
Ambas investigavam o caso desde setembro de 2018. Porém, em um determinado momento, Sibilio se afastou da investigação depois que decidiu sair do agora extinto Gaeco. Agora, ela deixa de vez o caso, que ainda busca solucionar algumas perguntas sem respostas sobre a morte da parlamentar e de seu motorista.
Apesar de publicado em D.O, o MP-RJ ainda não divulgou os nomes que substituirão as promotoras que deixaram o caso. A expectativa é de que essa nomeação aconteça ainda nesta semana.
Em nota, o MP-RJ informou “que terá todo o cuidado necessário para que essa mudança não programada não prejudique a investigação destinada à apuração de eventuais mandantes do crime e tenha o êxito esperado pela sociedade”.
O procurador-geral de Justiça Luciano Mattos declarou que alterações como essas são comuns. Mattos disse que não acredita que as mudanças causarão prejuízos, principalmente no que diz respeito a um possível atraso nas diligências até que os novos encarregados pelas apurações assumam os postos e se integrem totalmente sobre a força-tarefa.
Trocas na investigação
A força-tarefa foi criada no início de março deste ano, logo após o fim do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc). O grupo foi criado especificamente para investigar quem foi ou quem foram os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, mortos em março de 2018.
Na ocasião da criação da força-tarefa, o promotor Luciano Mattos chegou a dizer que a promotora Simone Sibilio teria recusado um convite para coordenar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), apesar de aceitar o comando da força-tarefa criada. Simone teria deixado o Gaeco por causa da redução da equipe de trabalho.
Foi também durante o anúncio oficial da força-tarefa que Luciano Mattos informou ter conversado com Allan Turnowski e, na ocasião, soube que o delegado Moysés Santana, da Delegacia de Homicídios, se dedicaria exclusivamente à conclusão das investigações.
Porém, na semana passada, Turnowski decidiu trocar o comando da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e nomeou o delegado Henrique Damasceno para chefiar a investigação do caso Marielle, substituindo Moysés. Essa foi a quarta troca de comando feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro na unidade responsável pelo caso.
As constantes trocas no comando da investigação têm preocupado familiares de Marielle e Anderson, e também geraram críticas por parte da Anistia Internacional. Tanto os familiares quanto membros da Anistia indagaram quais teriam sido essas interferências externas que fizeram com que as promotoras deixassem o caso.