Casas noturnas de São Paulo se reinventam para driblar a crise
No início de setembro, a prefeitura autorizou as casas noturnas a funcionarem como bares e restaurantes na fase amarela do plano São Paulo
O setor de entretenimento noturno de São Paulo teve de ser reinventar para não ter ainda mais prejuízos com a crise causada pela pandemia do novo coronavírus. No início de setembro, a prefeitura autorizou as casas noturnas a funcionarem como bares e restaurantes na fase amarela do plano São Paulo, desde que seguissem todos os protocolos de saúde e distanciamento social, o que inclui fechar as portas até as 22h.
Para se adequar, a boate Tokyo passou por uma reforma. Antes da pandemia a casa noturna ocupava quatro andares de um prédio no centro de São Paulo. No primeiro fim de semana com as novas regras, apenas três andares reabriram e com público reduzido.
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Segundo a produtora artística Tamara Salazar, mesas e cadeiras foram colocadas no local onde antes ficava a pista de dança e no espaço do karaokê só é possível cantar sentado. “Mudou bastante coisa, principalmente a capacidade. De quatrocentas [pessoas] estamos trabalhando com oitenta. Como equipe, a gente tentou manter o clima de união no meio de tanto caos para tentar trazer um pouco de alívio”, explica ela.
A analisa de recursos humanos Natália Brito e as amigas são fãs de karaokê. Mesmo com as limitações elas ficaram ansiosas para conseguir reservar uma mesa. “É um processo de adaptação, a gente chegou aqui e já queria tirar a máscara, mas a gente foi instruída a não tirar. É todo um processo, a gente tem que aprender a conviver com essa situação e se divertir da mesma forma”, avalia ela.
Dados preliminares de uma pesquisa inédita sobre a noite na capital feita pela Associação da Noite e do Entretenimento Paulistano (Anep) mostram que antes da pandemia o setor empregava, direta e indiretamente, entre 15 e 20 mil pessoas. Com a crise, metade já foi demitida.
Para tentar melhorar o movimento, a Anep entregou no dia 18 de setembro na prefeitura de São Paulo um pedido para que o horário das casas noturnas seja estendido pelo menos até a uma hora da manhã. O presidente da entidade, Beto Lago, diz que a maioria desses lugares só tem estrutura para funcionar como bar. “São Paulo supera Nova York e Londres em casas noturnas e a maioria tem no core business o entretenimento. Não dá para você colocar as boates concorrendo com restaurantes. Dos nossos setenta associados, só 10% também funcionavam como restaurante. Alguns se adaptaram, mas a maioria não”, conta ele.
As casas noturnas pedem ainda incentivos para retomar as atividades, como a isenção de taxas. Elas também querem que a autorização para eventos ao ar livre para até 1500 pessoas seja facilitada.
A cidade de São Paulo tem cerca de 300 casas noturnas. De acordo com a Anep, se não tiverem ajuda, 40% delas podem ter que fechar as portas definitivamente até o final do ano. E o que teme o empresário Caca Ribeiro, dono do Clube Jerome, também no centro da cidade. A casa reabriu como restaurante há três semanas, mas o faturamento ainda não chegou sequer a um quinto do que era antes da pandemia. “Se a gente puder estender, com protocolo, com responsabilidade e puder ir avançando em algumas questões, seria muito importante”, diz ele.
Questionada, a prefeitura não informou se vai anteder as solicitações do setor, mas reforçou por meio de nota que as casas noturnas têm de seguir os protocolos dos restaurantes e que os eventos com aglomeração na cidade continuam proibidos.