Carta ao presidente: Novo governo traz otimismo para os ambientalistas e indígenas
Lula terá que enfrentar problemas de segurança, proteção ambiental e respeito aos povos originários
A vitória de Lula nas urnas trouxe alegria aos povos originários e protetores da floresta; entre as promessas está zerar o desmatamento na Amazônia.
Pela primeira vez o Atlas da Violência, elaborado a partir de uma parceria entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Instituto de Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), traz dados sobre violência letal contra indígenas. Mais de 2 mil indígenas foram assassinados entre 2009 e 2019 no Brasil, os números têm como base o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. Em dez anos, a taxa de mortes violentas de indígenas aumentou 21,6%, saindo de 15 para 100 mil indígenas, em 2009, para 18,3 mil, em 2019.
Lula terá que enfrentar problemas de segurança, proteção ambiental e respeito aos povos originários, principalmente após o mundo olhar para o Brasil com a perda do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, assassinados na região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Estado do Amazonas, no dia 5 de junho deste ano. O ato evidencia as anulações da política indigenista durante o governo Bolsonaro e reforça críticas.
Para Mahryan Sampaio, ativista climática e diretora do Perifa Sustentável, a vitória de Lula é para as minorias, ativistas e pessoas que lutam pelos direitos humanos uma grande vitória. “Quando eu digo vitória, não é só uma vitória do presidente Lula em si, ou só uma vitória do Partido dos Trabalhadores. Porque a gente já está há quatro anos lutando contra os retrocessos ao meio ambiente. Então pra gente representa um sopro de esperança num Brasil em que a gente sabe, a gente tem consciência de que não vai mudar de uma hora pra outra”, afirma.
A promessa da criação de um ministério específico para tratar das questões dos povos originários e que deve ser gerido por uma pessoa indígena, também chama a atenção. “Não se trata por exemplo de convidar um preto, um amarelo para sentar-se à mesa enquanto você fala, enquanto você legisla, enquanto você decide. É a caneta, é o poder de decisão na mão que mais sofre com a questão do meio ambiente. É reconhecer também de forma muito clara toda a sua capacidade, porque são pessoas que vivem essas realidades todos os dias, que sofrem com o preconceito, com a opressão, essas são as pessoas que mais precisam”, destaca Mahryana.
Proximidade com os povos originários
Lula defende o fortalecimento de órgãos como a Polícia Federal, o Ibama e a Funai para uma atuação efetiva contra o desmatamento da Amazônia e outras regiões e no combate ao garimpo ilegal.
Em 2019, Bolsonaro assumiu a presidência e o desmatamento já apresentava tendência de alta. Mas foi durante seus quatro anos de mandato que a taxa medida anualmente pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) disparou de 7,5 mil km² para 13 mil km², uma alta de 73%.
Erisvan Guajajara, comunicador indígena da Mídia Índia, ressalta que “no governo Bolsonaro, ele não demarcou nenhum território. Alguns estão em situações de conflitos e podem ser demarcados, isso é uma prioridade. Então acho que a principal pauta mesmo é essa da marcação dos territórios indígenas e proteção do meio ambiente, a proteção da Amazônia”. Erisvan também é membro da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), rede criada em 2005 com representação em todos os estados brasileiros através das organizações regionais: Coiab, Apoinme, Aty Guasu, Arpinsul, Arpinsudeste, Comissão Guarani Yvyrupa e o Conselho Do Povo Terena.
Em seu discurso após a vitória das eleições presidenciais, Lula destacou que “o Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica […] Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva”.
Para Erisvan Guajajara, tudo precisa ser dialogado com as lideranças indígenas para escolher a melhor saída. “A gente está apostando que a democracia vai exercer dessa vez e nós apostamos em dias melhores para os povos indígenas”, finaliza.