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    Brasil tem 32 milhões de crianças vivendo na pobreza, segundo o Unicef

    Campanha Brasil sem Fome ressalta importância da boa alimentação na infância para o desenvolvimento humano e educacional

    Isabelle Salemeda CNN , em São Paulo

    Ao menos 32 milhões de meninas e meninos vivem na pobreza no Brasil, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o que corresponde a 63% do total.

    Além disso, os números mostram que o percentual de crianças e adolescentes que viviam em famílias com renda abaixo da linha de pobreza extrema (menos de 1,9 dólar por dia) alcançou em 2021 o maior nível dos últimos cinco anos: 16,1%.

    Já o número de crianças e adolescentes privados uma alimentação adequada passou de 9,8 milhões para 13,7 milhões, entre 2020 e 2021. Um aumento de 3,9 milhões.

    Para tentar reverter esse quadro, a Ação da Cidadania lançou nesta semana, pelo terceiro ano consecutivo, a campanha Brasil sem Fome. O objetivo é arrecadar e distribuir alimentos para famílias em todo o país, como forma de assegurar o direito à alimentação adequada, principalmente na primeira infância. Nos dois últimos anos, a campanha arrecadou 22 mil toneladas de alimentos.

    “Betinho [idealizador da campanha, que começou em 2002] já dizia que a democracia é incompatível com a miséria. Enquanto houver o desafio de superar a fome no país, não há como garantir que outros direitos sejam cumpridos. Se um cérebro saudável usa 20% da energia do corpo e essa energia vem dos alimentos, como uma criança com fome será capaz de aprender e ter bom rendimento escolar? Um corpo funciona em sua plenitude quando está nutrido. E o crescimento saudável só é possível com um Brasil sem fome”, ressalta Rodrigo Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.

    Um levantamento divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em parceria com a Ação da Cidadania, revelou que a fome no país dobrou nas famílias com crianças menores de dez anos e hoje está presente em 18,1% das casas com moradores dessa faixa etária. Além disso, em 37,8% das residências brasileiras onde moram crianças menores de dez anos, há insegurança alimentar grave ou moderada.

    Fome por região do Brasil

    A situação é ainda mais grave no Norte do país, onde 40% das casas com moradores nesta faixa de idade sofrem com a falta de comida, e no Nordeste, onde famílias de 7 dos 9 estados também passam por situações parecidas.

    Outro dado alarmante aponta que, todos os dias, em média, 11 crianças menores de cinco anos são internadas por desnutrição no Brasil, a maior média desde 2012, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com base em informações obtidas através do Ministério da Saúde. A região Nordeste concentra 36% dos casos, superando os demais estados do país.

    Além da falta de alimento, tem também a má qualidade dos produtos, que são mais baratos mas também promovem a desnutrição.

    “A falta de dinheiro para comprar alimentos e a diminuição da qualidade do que é consumido são fatores que confirmam a desigualdade social. Ainda que mães e pais deixem de comer ou tenham a alimentação reduzida para que os filhos sejam beneficiados, a associação entre desenvolvimento infantil e efeitos da nutrição irregular podem resultar em menor escolaridade e, consequentemente, menos oportunidades de trabalho, menor produtividade e salários mais baixos. Deixar que a fome impeça a realização de sonhos é uma violação da dignidade humana”, diz Afonso.

    Cenário no Brasil

    O Brasil chegou a deixar o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014. No entanto, oito anos depois, a ONU anunciou o retorno do país a essa condição. Segundo a organização, a prevalência da insegurança alimentar grave atingiu 15,4 milhões de brasileiros, ou seja, 7,3% da população, entre os anos de 2019 e 2021.

    Uma pesquisa da Rede Penssan mostrou que, atualmente, 33,1 milhões de brasileiros vivem com fome no Brasil.

    As doações para a campanha devem ser feitas no site www.brasilsemfome.org.br.

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