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    Após expulsão de aluno, coletivo negro cobra que USP mude política de cotas

    Alunos defenderam a interpretação de que, para se enquadrar dentro da cota racial, o candidato deve ter "traços fenotípicos que o caracterizem como negro"

    Reitoria da Universidade de São Paulo
    Reitoria da Universidade de São Paulo Foto: Marcos Santos/USP Imagens

    Giovanna Bronze e Guilherme Venaglia, da CNN em São Paulo

    O coletivo Lélia Gonzalez, grupo que representa os alunos negros do curso de Relações Internacionais da USP, apoiou nesta segunda-feira (13) a decisão da universidade de expulsar um aluno considerado culpado de fraudar o sistema de cotas sociais e raciais.

    “O resultado obtido hoje é a materialização de décadas de lutas do movimento negro e do movimento estudantil dentro e fora da USP”, diz o grupo, em nota. Os alunos defenderam a interpretação da universidade de que, para se enquadrar dentro da cota racial, o candidato deve ter “traços fenotípicos que o caracterize como negro, de cor parda ou preta”.

    O estudante que terá a matricula anulada se declarou, no momento da inscrição no vestibular, como sendo de baixa renda e integrante do grupo PPI (pretos, pardos e indígenas), o que lhe possibilitou o acesso à universidade.

    Após uma denúncia e a investigação feita por um comitê, a USP concluiu que ele não possui os traços que o caracterizem como sendo desses grupos étnicos e, portanto, não poderia ter usufruído da política de cotas.

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    “Somos (negros) também quando perseguidos em ambientes brancos, quando desprezam nosso cabelo, nosso nariz, nossa cultura e hipersexualizam nossos corpos”, afirmam os alunos. “Isso significa que, para além da autodeclaração, a política pública não se aplica à pessoas brancas mesmo que autodeclaradas pardas”.

    Procurado pela CNN, o estudante expulso não quis se manifestar.

    Política de acesso

    O coletivo defendeu, em sua manifestação, uma mudança definitiva na política de análise dos candidatos às cotas, considerando que o episódio provocou um dano irreversível.

    “O erro em atos de matrícula não se relaciona apenas ao dinheiro público, um erro como o que ocorreu define o sonho e o futuro de alguém. Talvez nunca saberemos quem era o próximo candidato ou candidata, negro ou negra e de baixa renda, que entraria no IRI. Não sabemos o que aconteceu com ele ou ela”, argumentam.

    Os estudantes sugerem que a universidade busque “instrumentos mais eficientes” do que o atual, que é baseado na autodeclaração. Ou seja, o candidato é o responsável por definir em qual raça se encaixa. O coletivo elenca como uma das possibilidades o modelo da banca avaliadora.

    “Este processo é um reflexo da implementação de uma política pública, e nós, como coletivo, desejamos a mais adequada aplicação possível. Proteger a Lei das Cotas, sua aplicação eficiente e respeitosa é proteger o princípio republicano, a coisa pública, especialmente quando se trata da inclusão daqueles que nunca foram beneficiados pela máquina estatal, pelo contrário”, concluem.