Apenas 14% dos estudantes receberam assistência alimentar na pandemia, aponta pesquisa
Estudo do Observatório da Alimentação Escolar revela que 23% dos alunos de escola pública não ganharam nenhuma cesta de alimentos ou cartões-alimentação
Uma pesquisa feita pelo Observatório da Alimentação Escolar (ÓAÊ) apontou que, durante a pandemia de Covid-19, apenas 14% dos estudantes das escolas públicas receberam cestas de alimentos ou cartões-alimentação através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – que abrange cerca de 41 milhões de estudantes na rede básica de ensino dos municípios brasileiros.
Segundo os dados, 23% dos alunos ouvidos não receberam nenhum tipo de assistência alimentar entre abril de 2020 e julho de 2021, e 21% receberam assistência uma única vez. O levantamento foi feito com 900 estudantes da rede básica pública de ensino em 215 municípios espalhados pelos 26 estados brasileiros e Distrito Federal.
“O PNAE é um programa extremamente capilarizado. Para muitas crianças e adolescentes, sua principal refeição, ou sua única refeição do dia, é a alimentação escolar. Os prefeitos e governadores tinham um instrumento muito potente para fazer essa alimentação chegar ao estudante. Esses números mostram que houveram algumas escolhas que talvez não tenham sido tão corretas”, destacou em entrevista ao CNN Novo Dia a coordenadora de projetos do ÓAÊ, Mariana Santarelli.
A coordenadora apontou dois pontos principais que levaram à situação exposta pela pesquisa: uma escolha política dos governantes, e o contexto econômico da inflação e aumento no preço dos alimentos.
Primeiramente, ela afirma que, no começo da pandemia, houve uma escolha de que as cestas de alimentos distribuídas com os recursos do PNAE fossem destinadas para alunos cujas famílias fossem beneficiárias do Bolsa Família, ou que faziam parte de outro programa social. “Sabemos que muitas famílias entraram para a pobreza no contexto da pandemia. Essas famílias acabaram ficando de fora. O PNAE tem caráter universal, deveria chegar a todos os estudantes”, disse Mariana.
Ela reconhece, porém, que também é necessário reconhecer a ausência de aporte de recursos adicionais ao PNAE durante a pandemia. Isso fez com que parte relevante dos municípios, principalmente os mais pobres, não tivessem condição de fazer uma complementação de recursos ao programa para acompanhar a alta no preço dos alimentos, que atingiu uma máxima de 10 anos no mundo inteiro.
“Tem um aspecto que tem a ver com a vontade política dos governantes, aqueles que de fato estão comprometidos com a garantia do direito à alimentação. Mas também tem uma limitação do ponto de vista orçamentário, e muito por conta da inflação e aumento do preço dos alimentos”, ponderou a coordenadora do ÓAÊ.
A pesquisa apontou também para uma piora na qualidade da alimentação oferecida. Os alimentos mais presentes nas cestas foram: arroz (92%), macarrão (86%), feijão (81%), açúcar (66%) e óleo (54%). Apenas 23% dos estudantes receberam carnes em suas cestas, 29% legumes e verduras, e 19% frutas.
“Estamos muito preocupados. Estamos observando uma desestruturação muito grande do PNAE. Com a volta às aulas, ouvimos relatos de que a alimentação piorou muito nas escolas, com biscoitos, suco industrializado sendo servidos como lanche. Isso está relacionado a perda no poder de compra provocada pela inflação”, disse Mariana Santarelli.
Os dados dessa pesquisa fazem parte do “Anuário 2021 do Observatório da Alimentação Escolar – O Programa Nacional de Alimentação Escolar em tempos de Pandemia”, que será lançado no dia 7 de dezembro.
Veja alguns dos produtos mais afetados pela inflação:
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