“Cotista” e “pobre”: entenda caso de discriminação de alunos da PUC contra estudantes da USP
Nas imagens, que circulam nas redes sociais, é possível ver um integrante da torcida da PUC-SP gritando a palavra “cotista” aos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco
Estudantes de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foram filmados ofendendo com palavras de cunho racista os alunos da USP, a Universidade de São Paulo, durante os Jogos Jurídicos realizados neste final de semana, na cidade de Americana, interior de São Paulo.
Nesta segunda-feira (18), o escritório de advocacia Pinheiro Neto informou que uma das estudantes foi desligada da empresa após a repercussão do caso.
Nas imagens, que circulam nas redes sociais, é possível ver um integrante da torcida da PUC-SP gritando a palavra “cotista” aos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Outros envolvidos usam a palavra “pobre”, e uma menina chega a fazer gestos obscenos contra os uspianos.
A situação aconteceu durante uma partida de handebol entre as duas universidades, no último sábado, 16. A organização dos jogos, em conjunto com as instituições participantes, decidiu banir a torcida da PUC-SP até o restante das competições, que se encerram neste domingo, 17.
“Chegou ao nosso entendimento que as devidas ações já foram feitas contra os agressores visando assegurar que os atos racistas registrados sejam investigados e responsabilizados conforme a lei”, informou a página oficial dos Jogos Jurídicos, em comunicado.
Em uma nota conjunta, as diretorias das duas faculdades e os centros acadêmicos de ambos os cursos – XI de Agosto e 22 de Agosto – repudiaram o gesto e descrevem as cenas como “episódios lamentáveis”. A reitoria da PUC-SP ainda não se manifestou.
“Durante o evento, um grupo de alunos da Faculdade de Direito da PUC-SP proferiu manifestações preconceituosas contra estudantes da Faculdade de Direito da USP, utilizando o termo “cotistas” pejorativamente. Essas manifestações são absolutamente inadmissíveis e vão de encontro aos valores democráticos e humanistas, historicamente defendidos por nossas instituições”, diz o comunicado.
As entidades signatárias afirmam que vão apurar o caso e responsabilizar os envolvidos “de maneira justa e exemplar”. Dizem também que, diante do ocorrido, se comprometem a implementar protocolos para fortalecer ouvidorias, promover a educação antirracista e assegurar um ambiente inclusivo para os estudantes.
“Além da responsabilização dos envolvidos, é indispensável avançarmos na direção de políticas preventivas e de acolhimento”, afirma a nota. “Estamos determinados a transformar este episódio em um marco para o fortalecimento de uma cultura de respeito, equidade e inclusão em nossas instituições”, concluem as entidades.
“Cotista” e “pobre”: entenda caso de discriminação de alunos da PUC
A USP decidiu adotar o sistema de cotas para o ingresso na universidade em 2017, sendo implementado a partir do ano seguinte. Ficou definido que 50% das vagas abertas para estudar na instituição seriam destinadas a alunos de escolas públicas. Desse porcentual, 37% dos 50%, são voltadas para candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI).
Conforme os dados da USP, informados em maio deste ano, a universidade possui 60 mil estudantes de graduação, sendo que 45,1% que cursaram o ensino médio exclusivamente em escolas públicas e 23,2% se autodeclaram pretos, pardos e indígenas.
Bancada feminista do PSOL na Câmara diz que vai acionar MP-SP sobre o caso
Em uma postagem nas redes sociais, a covereadora Letícia Lé, da bancada Feminista do PSOL, na Câmara de Vereadores de São Paulo, criticou o episódio e disse que irá acionar o Ministério Público. “É um absurdo que estudantes negros não possam estar em espaço de lazer e de recreação da universidade sem serem ofendidos e sem sofrerem racismo”, disse a parlamentar.
“Por isso, a gente, da Bancada Feminista, está acionando o Ministério Público para que esse absurdo seja investigado e que os estudantes que proferiram essas ofensas sejam punidos”, acrescentou. O MP-SP foi procurado pela reportagem, mas não deu retorno até a publicação do texto.