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    A sutileza do preconceito

    Executiva e autora do livro “Sou Danielle, como me tornei a primeira executiva trans do país”, da Editora Planeta, fala sobre suas experiências

    Danielle Torresespecial para a CNN

    Eu estava em um almoço de negócios e havia somente homens a minha volta – a maioria dos quais não conhecia. Foi quando começamos a conversar que percebi que eu não era ouvida por aquele grupo. Se os diálogos entre eles eram eloquentes, para mim se limitavam a um sorriso, aceno com a cabeça ou uma resposta curta. E logo voltavam a falar entre si.

    Mais uma vez percebi que era tratada como alguém acessório e cuja presença ali era apenas “bonitinha”. E como se não bastasse eu ser feminina, sou transgênero – o que aumenta ainda mais a pressão que o gênero exerce sobre meu trabalho.

    É fato que sou privilegiada: em um país que marginaliza muitas pessoas trans, sou uma executiva de sucesso e ocupo posições de destaque. Reconhecida em mais de uma área, como seguros, inteligência artificial e sustentabilidade sou, também, autora publicada. Mas se tem algo que não consigo superar é essa preconcepção que o outro por vezes tem sobre mim – que leva algum tempo para se quebrar.

    Não acredito que seja exclusividade minha. Algumas amigas executivas têm queixas semelhantes em situações como a que descrevi. Parece que estamos constantemente brigando por espaços que não foram pensados para nós.

    Aí eu me pergunto se existe alguma saída, ou melhor, como ouvi de uma colega “Como que a gente faz para mudar tudo isso, Dani?”. Não tenho exatamente as respostas, mas sim algumas pistas.

    Começa por trabalhar em organizações que possuem programas estruturados de diversidade. Passa também pela sororidade e a aprendermos a nos impor e nos expressarmos com firmeza em situações difíceis, ainda que sejamos chamadas de “geniosas” ou “temperamentais”.

    Mas tem um pedaço deste todo que é maior. Tenho conforto em afirmar que não esperamos que uma mulher trans seja uma executiva bem-sucedida, e que daí surgem muitos dos contratempos que vivo.

    E vem o esperado mês do orgulho.

    Inúmeras empresas me convidam para palestrar sobre meu livro e carreira. É lindo ver as pessoas engajadas em acolher a comunidade LGBTQIA+, afinal, nem sempre foi assim.

    Talvez, o que desejo que tenho é que os esforços de inclusão da comunidade não se limitem a junho. Pois continuamos sendo pessoas LGBTQIA+ o ano todo e não somente no mês do junho.

    E quando falamos em inclusão e diversidade, cabe cada um de nós pensarmos qual o nosso papel. Quem sabe começar por refletir a respeito dessas manifestações sutis de preconceitos, como a que descrevi no início do artigo.

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