80% das crianças brasileiras consomem alimentos ultraprocessados com frequência
Estudo inédito da UFRJ sobre ’Indicadores de alimentação da criança’ será divulgado nesta terça-feira (7)
Um estudo inédito coordenado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que 80% das crianças brasileiras de até 5 anos costumam consumir alimentos ultraprocessados, como biscoitos, farinha e refrigerantes.
O levantamento faz parte do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), que será divulgado nesta terça-feira (7). Foram realizadas visitas domiciliares em 123 municípios brasileiros entre fevereiro de 2019 e março de 2020, totalizando 14.558 crianças menores de 5 anos.
Segundo a pesquisa, o consumo dos alimentos ultraprocessados também faz parte da rotina de bebês menores de 2 anos, grupo que menos ingere frutas e hortaliças no Brasil, alimentos que deveriam compor a base da alimentação infantil.
O estudo mostra que apenas 22,2% das crianças brasileiras de 6 a 23 meses são alimentadas preferencialmente com vegetais e frutas, em detrimento de produtos industrializados.
À CNN, o cardiologista e coordenador da UTI da Beneficência Portuguesa, André Gasparoto, explicou o motivo desses alimentos serem nocivos à saúde das crianças.
“A ingestão de alimentação rica em gorduras e açúcares desde a infância está intimamente ligada à obesidade infantil, surgimento de hipertensão arterial, diabetes e aumento do risco cardiovascular precoce, além de outras complicações. Vários países e alguns estados no Brasil estão se empenhando para reduzir a alimentação inadequada, o que é muito válido. A obesidade infantil duplicou nos últimos 10 anos no Brasil”, destaca André Gasparoto.
O pesquisador do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ, Gilberto Kac, aponta a falta de conhecimento sobre as propriedades dos alimentos como um dos motivos para os responsáveis alimentarem os filhos com esses produtos. Outro fator que ele destaca é a desigualdade social.
“Os resultados do ENANI mostram que, em geral, a alimentação das crianças brasileiras está distante das recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS). As prevalências dos indicadores estudados apontam as grandes desigualdades sociais do Brasil. Esperamos que os novos resultados possam ajudar a planejar estratégias de promoção da alimentação saudável, bem como o monitoramento da evolução desses indicadores ao longo do tempo”, finalizou Gilberto Kac.