2022 inicia com maior volume nos reservatórios e menor carga energética
Especialista afirma que chuvas acima da média impulsionam recuperação do setor hídrico
Dados do Operador Nacional do Sistema elétrico (ONS) mostram um cenário hídrico otimista nos primeiros meses deste ano para os reservatórios do país. Segundo o último boletim de operação do ONS, a previsão é que até o fim deste mês de janeiro, o subsistema Sudeste/Centro-oeste, responsável por 70% das hidrelétricas do país, deve ter 41,4% de volumes nos reservatórios. No mesmo período de 2021, esse subsistema estava com 24,4% de armazenamento.
Nesta quarta-feira (19), os reservatórios do SE/CO estavam com 37,84% de volume hídrico, um crescimento significativo na comparação com vinte dias atrás, no fim de dezembro, quando esse valor era de 25%.
O professor e pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE-UFRJ), Marcos Freitas, explica que no último mês o volume de chuvas foi maior que o esperado, o que supriu a demanda dos reservatórios deixada pela crise hídrica do ano passado.
“As chuvas já são esperadas nessa época do ano, mas o que estamos vivendo agora é um evento extremo, nesse caso de mais chuva. Do ponto de vista elétrico, isso é muito bom, porque eleva o nível dos reservatórios. O problema é que a gente não sabe onde vai chover mais ou menos, então do ponto de vista de gestão, acho que precisávamos de mais reservatórios, porque precisamos guardar mais água.”, aponta.
O pesquisador explica que o Brasil tem 42 mil km² de bacias hidrográficas, quase o tamanho do estado do Rio de Janeiro, que tem 44 mil km² de extensão territorial. Entretanto, segundo ele, isso não é suficiente para um país nas proporções do Brasil, que tem cerca de 8,5 milhões km² de extensão.
“As hidrelétricas foram muito demonizadas, se a gente regulasse e armazenasse melhor as chuvas do país, resolveríamos problemas como a falta de recurso hídrico e inundações, por exemplo. Isso reduz nossas vulnerabilidades.”, esclarece.
Outro fator que deve contribuir para um cenário energético mais estável é a redução na carga energética. De acordo com o ONS, a carga de janeiro de 2022 deve diminuir cerca de 1,6% no Sistema Interligado Nacional (SIN), na comparação com janeiro de 2021. Ainda no mês de dezembro, houve um recuo de 1,3%na carga na comparação com o mesmo mês de 2020.
“Estamos em período de férias, muita gente não está nos ambientes de trabalho, já não estavam por conta da Covid-19, e agora as pessoas estão circulantes. Outro ponto é o nosso processo de desindustrialização, que está um pouco acelerado, e a indústria é responsável pela maior fatia do consumo de energia.”, explica.
Segundo o ONS, nos últimos meses de 2021 a indústria brasileira registrou volumes menores de vendas e produção. A avaliação do Índice de Gerentes de Compras industrial de dezembro (PMI, em inglês), da IHS Markit, é que a queda mais recente nas vendas foi associada à fraca demanda doméstica por produtos, amplos estoques entre clientes e problemas no setor automotivo, e esses fatos têm refletido no desempenho da carga do mês de janeiro deste ano.
Ainda segundo o especialista, devido aos altos preços da energia elétrica, é improvável que as temperaturas elevadas nesse verão façam o consumo doméstico aumentar a ponto de impactar na carga energética.
Cenário hídrico
Os reservatórios localizados no Sudeste/Centro-Oeste do Brasil apresentaram 35% da capacidade máxima na primeira quinzena de janeiro. É o maior patamar registrado pelo subsistema desde agosto de 2020, quando os níveis das usinas eram de 42%. O levantamento feito pela CNN usou como base os dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) na sexta-feira (14).
Dados compilados pela CNN mostram que os reservatórios o Sudeste/Centro-Oeste atingiram seu pior momento em setembro de 2021, quando o subsistema registrava 16% da capacidade hídrica total. No período, o Brasil registrava a pior crise hídrica dos últimos 90 anos, segundo o ONS.