Startup vegana de ‘estilo tecnológico’ planeja fazer roupas usando algas
A empresa espera 'aproveitar a energia das algas renováveis para criar um impacto real e genuíno contra as mudanças climáticas'
A indústria da moda global emprega milhões de pessoas e vale trilhões de dólares.
Também é responsável por 10% das emissões globais de carbono e cria poluição e resíduos: nos EUA, apenas 15% dos têxteis são reciclados, enquanto o restante é incinerado ou enviado para aterro.
É por isso que uma startup israelense está criando um tecido biodegradável, não tóxico e de baixo consumo de energia usando algas. Sua fórmula pode ser usada para criar fibras naturais e corantes usando menos água do que produtos convencionais, e produzindo zero resíduos e poluição, disse Renana Krebs, CEO e cofundadora da Algaeing.
A empresa espera “aproveitar a energia das algas renováveis para criar um impacto real e genuíno contra as mudanças climáticas”, disse ela.
Uma solução verde
Algas, que incluem algas marinhas, já estão sendo utilizadas em outras indústrias; os setores de alimentos, farmacêuticos e até mesmo de biocombustíveis estão todos olhando para esse grupo de organismos aquáticos como um material sustentável.
Krebs viu uma oportunidade de aplicar algas aos têxteis também. Trabalhando na indústria da moda por 15 anos, ela viu em primeira mão a poluição e o desperdício do setor. Depois de deixar o emprego em 2014, ela lançou a Algaeing em 2016.
A alga é fornecida por outra empresa israelense, a Algatech, cultivada em água do mar em “fazendas verticais” internas que funcionam com energia solar. Isso significa que, ao contrário do algodão, ele não ocupa terras agrícolas e não tem as emissões de carbono associadas ao uso de fertilizantes.
Algaeing converte as algas em uma fórmula líquida que pode então ser usada como um corante ou transformada em um tecido quando combinada com a celulose, uma fibra vegetal, que os fabricantes de roupas podem fazer eles mesmos usando a receita patenteada da Algaeing.
Outras empresas também estão vendo o potencial das algas nos têxteis. A marca de roupas masculinas Vollebak tem uma camiseta biodegradável feita de polpa de eucalipto e faia, além de algas, que pode ser enterrada no jardim e se decompõe em “comida de minhoca” em 12 semanas; e a startup AlgiKnit está desenvolvendo um fio tipo lã a partir de algas marinhas.
Krebs disse que o foco da Algaeing é mudar a cadeia de suprimentos e que a empresa está se preparando para o lançamento comercial de sua tecnologia patenteada em 2022.
Redesenhando a indústria da moda
São necessários até 2.700 litros de água doce para produzir o algodão para uma camiseta comum, de acordo com uma estimativa do WWF (World Wide Fund For Nature, ou Fundo Mundial pela Natureza, em português) – o que equivale à água potável de uma pessoa por dois anos, disse Krebs. Mas ela disse que as fibras da Algaeing reduzem o uso de água em 80%.
Há também um impacto humano: quem trabalha na indústria têxtil costuma estar exposto a produtos químicos perigosos e metais pesados – o corante à base de algas não é tóxico e não contém alérgenos – o que também é uma vantagem para os consumidores.
“Algaeing e Renana [Krebs] estão tratando de três pontos-chave da indústria da moda: a dependência de água doce para o cultivo de fibras; o uso de produtos químicos, tanto em pesticidas para o cultivo de fibras quanto no tingimento de tecidos; e em terceiro lugar, o uso de energia.”
Atualmente, as fibras à base de algas são mais caras do que as fibras convencionais como o algodão, mas Krebs afirma que, por ser um produto sustentável e ético, agrega valor à marca.
A indústria da moda está arraigada na tradição – mas também está madura para a ruptura, de acordo com Erik Bang, líder de inovação da Fundação H&M, uma organização sem fins lucrativos que é financiada de forma privada pelos fundadores e principais proprietários do Grupo H&M e apoia a moda de jovens iniciantes.
Bang disse que, nos últimos cinco anos, a consciência sobre a sustentabilidade na moda aumentou de forma constante, e isso está atraindo “novos tipos de investidores” com experiências diversas em tecnologia, ciências dos materiais e bioquímica.
A Algaeing recebeu o Prêmio de Mudança Global da Fundação H&M em 2018, e o trabalho da empresa com algas destaca uma “fonte potencial brilhante” de futuras fibras têxteis, disse Bang.
“Algaeing e Renana [Krebs] estão tratando de três pontos principais de dor da indústria da moda: a dependência de água doce para o cultivo de fibras; o uso de produtos químicos, tanto em pesticidas para o cultivo de fibras quanto no tingimento de têxteis; e em terceiro lugar, o uso de energia”, Bang disse.
Ele acrescenta que, embora o comportamento do consumidor esteja mudando, ainda é caro para a indústria investir em tecnologias sustentáveis e ampliá-las. “Precisamos de legisladores para mudar o campo de jogo, e incliná-lo muito mais a favor de práticas circulares e sustentáveis, e punir os velhos hábitos”, disse Bangs.
Além da moda
Enquanto a Algaeing estava inicialmente focada em reinventar os tecidos da moda, a pandemia apresentou outra oportunidade. Em 2020, a Algaeing começou a trabalhar com a Avgol, uma fabricante de têxteis não tecidos especializada em produtos de higiene, médicos e EPI.
Krebs disse que a pandemia mostrou às empresas e marcas que a adaptação a novos desafios é vital para a sobrevivência. Embora o desafio recente tenha sido a Covid-19, o desafio maior e de longo prazo é a mudança climática – e é aí que Krebs espera que as algas possam fazer a diferença.
“Estamos criando uma nova geração, uma nova categoria de produtos”, disse Krebs.
Texto traduzido. Leia o original em inglês.