Fotos surreais registram fãs de “cosplay” nos subúrbios
Na série de fotografias de Thurstan Redding, "Kids of Cosplay", os universos mundano e fantástico colidem de maneiras inesperadas
Na série de fotografias de Thurstan Redding, “Kids of Cosplay”, os universos mundano e fantástico colidem de maneiras inesperadas. O Homem-Aranha encara de forma pensativa o horizonte enquanto tira o leite da geladeira. Um grupo de Batmans pulam do lado de fora de um pequeno bangalô de tijolos. A Mística, dos X-Men, deita-se na rua sob um sol laranja, com um cigarro nas mãos.
As figuras cotidianas escolhidas pelo fotógrafo de moda – que ele identifica somente por suas profissões: uma recepcionista, um palestrante, trabalhadores do comércio – são parte de uma vasta, mas elusiva subcultura do cosplay, que vê fãs de televisão, cinema, animê, mangá e videogames usando fantasias elaboradas e maquiagem para transformar-se em seus personagens favoritos.
É uma comunidade raramente documentada fora dos arredores de convenções de fãs. Mas inicialmente tendo tirado retratos na Comic Con de Londres em 2018, Redding passou os próximos três anos conquistando a confiança dos cosplayers e os fotografando em cenários suburbanos distintos, desde pontos de ônibus até matagais. Os cenários podem estar em qualquer lugar, e esta é exatamente a ideia.
“Queríamos garantir que nenhuma das locações fosse facilmente atribuída a um país específico. Muitas pessoas me perguntaram se foram fotografadas nos Estados Unidos, o que não foram…na verdade, foram fotografadas em um espaço pequeno”, ele disse em uma entrevista por vídeo diretamente de Paris, se recusando a revelar exatamente onde as imagens foram criadas.
O motivo, Redding explicou, é que os cosplays se tornaram um “fenômeno global” – um que conecta pessoas com mentalidades parecidas ao redor do mundo, independentemente de onde estejam.
“O aspecto social da coisa é provavelmente o mais importante, no sentido de que é uma comunidade de pessoas que realmente se apoiam e são genuinamente bons amigos”, disse o fotógrafo. “Durante as sessões, várias pessoas expressaram que tiveram dificuldades de fazer muitos amigos ou se sentir uma parte de uma comunidade durante a fase de crescimento, e o cosplay lhes deu isso.”
“É um espaço muito inclusivo”, acrescentou Redding, que inseriu modelos plus-size e LGBTQIA+ entre os fotografados. “É inclusiva de uma froma que outras comunidades geralmente não são.”
Fantasias de fãs, em um sentido contemporâneo, ganharam popularidade pela primeira vez na Convenção Mundial de Ficção Científica (WorldCon), que foi realizada nos EUA em 1939 e desde então viajaram para cidades ao redor do mundo. O termo “cosplay” – uma junção das palavras fantasia e jogo – originou-se no Japão, onde as subculturas de fãs explodiram em popularidade na década de 1990. Os animes e mangás japoneses continuam a ser uma fonte de inspiração para cosplayers, com um dos personagens de Redding, vestido como o antagonista da série de mangá “Kakegurui”.
Hoje, a subcultura compreende um ecossistema crescente de comunidades de fãs online.
“A Comic Con só acontece duas vezes por ano, e, no restante do tempo, a maior parte da comunicação é digital”, explicou Redding. “É uma comunidade muito fluida na forma como se comunica.”
Formas de expressão
Tendo exibido sua série em uma galeria em Paris no início desse ano, Redding está agora se preparando para lançar “Kids of Cosplay” como um livro de edição limitada. A publicação contém quase 60 cosplayers, com personagens indo desde a Bruxa do Oeste (do Mágico de Oz) até Indiana Jones.
As fotos são acompanhadas de comentários dos próprios personagens. Seus relatos demonstram como o cosplay não é apenas escapismo, mas autoexpressão. Assumir que um personagem pode, ironicamente, ajudar as pessoas a serem elas mesmas, disse Redding, que criou o projeto ao lado dos diretores de arte Jean-Baptiste Talbourdet-Napoleone e Lolita Jacobs.
Tomemos, por exemplo, um trabalhador do comércio vestido como um piloto da Resistência de Star Wars. Em uma legenda de foto, ela explica que o cosplay a ajudou a abraçar seu “verdadeiro eu” enquanto passava pela transição de gênero.
“O pai dela parou de falar com ela quando ela fez a transição”, explicou Redding. “E a única coisa que eles tinham em comum antes era ‘Star Wars’. Então essa obsessão dela era, de certa forma, a única maneira que ela poderia se conectar com seu pai, apesar do fato de que eles não estão mais se falando.”
“É um exemplo de como o cosplay é um meio de expressão e um meio de se conectar com as pessoas”, acrescentou.
Como fotógrafo de moda, Redding trabalhou em campanhas com grandes marcas como Dior, Gucci e Marc Jacobs, fotografando top models como Adwoa Aboah e Kendall Jenner. Talvez não seja surpreendente, então, que seus retratos de cosplay ostensivamente banais esbanjem um drama sutil graças à iluminação teatral e composições dirigidas de perto.
Sua experiência na moda também deu a Redding apreço pelo trabalho que vai em cada figurino. Muitas vezes, levando dias ou meses para ser concluído – e horas para estilizar – muitas das roupas apresentam acessórios elaborados e detalhes meticulosos.
“O artesanato não é tão diferente”, disse ele. “A atenção aos detalhes e as habilidades de costura são genuinamente incríveis, e acho que muitos deles poderiam trabalhar na indústria da moda se quisessem.
“Mas na moda, as roupas são (parte) constante linha de produção e ciclo de tudo ter que ser novo. Os cosplays, no entanto, são tratados como algo que é customizado, refinado e ajustado. Cosplayers muitas vezes reciclam seus figurinos e, com o tempo, adicionam elementos extras a ele…então é realmente interessante ver uma abordagem tão diferente da moda.”