Conheça a modelo trans Gabi Ádie, revelação brasileira que desfilou em Paris
Natural de Caratinga, cidade do interior de Minas Gerais, profissional conquistou marcas internacionais e desfilou na Semana de Moda da capital francesa
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Gabriela Ádie, modelo trans brasileira, em viagem para o Rio de Janeiro • Instagram/Gabi Ádie
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Gabi Ádie durante evento da Guerlain • Instagram/Gabi Ádie
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Gabi Ádie no desfile da grife brasileira Misci • Instagram/Gabi Ádie
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Gabi Ádie em ação da Paco Rabanne • Instagram/Gabi Ádie
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Gabi Ádie durante viagem para Paris • Instagram/Gabi Ádie
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Gabi Ádie desfilou para a Marine Serre em Paris • Instagram/Gabi Ádie
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Gabi Ádie desfilou para a Patou em paris • Instagram/Gabi Ádie
Da cidade de Caratinga — próxima a Governador Valadares, no interior de Minas Gerais — para as passarelas da Semana de Alta-Costura de Paris. Essa é a trajetória de Gabriela Ádie, modelo transexual brasileira que bombou nas redes sociais com seus conteúdos sobre maquiagem e levou seu talento para o mundo da moda.
Colecionando trabalhos para marcas de renome internacional, como Paco Rabanne, Carolina Herrera e Yves Saint Laurent, a jovem de 21 anos já é uma veterana da São Paulo Fashion Week, da qual participou por quatro temporadas, e chegou às passarelas mais relevantes do mundo, na capital da França. Por lá, Gabi Ádie desfilou pela Patou, na Semana de Alta-Costura, e pela Marine Serre, na Semana de Moda.
Todo o potencial revelado no ofício de modelo nasceu mesmo no universo da maquiagem. Foi vendo sua mãe se maquiar e se cuidar que Gabriela percebeu seu amor pelo mundo da beleza. Aos 14 anos, a mineira começou a fazer conteúdo para as redes sociais, onde documentou sua transição de gênero e explodiu para o mundo.
“Sempre brinco com ela [sua mãe], que ela foi, ainda é, a minha maior inspiração. Olho para trás e vejo a Gabizinha bem pequena, que amava ficar pegando as maquiagens da minha mãe e amava ver o momento em que ela parava à noite para passar um creme no rosto”, relatou a modelo à CNN.
“Comecei fazendo maquiagem, como um menino que se maquiava, depois me descobri, e a minha transição foi toda ali. Nesse processo, de fazer tudo isso na internet, eu acabei gerando um público e crescendo.”
Dos tutoriais de maquiagem para as passarelas
Gabi contou que seu scouter, isto é, olheiro, se encantou por seu trabalho sem saber que ela era uma mulher transgênero e viu nela um potencial para as passarelas. Em 2022, com o fim da pandemia, ela se mudou para São Paulo e passou a investir e se preparar para cruzar as passarelas.
“O desejo de entrar numa passarela é algo que permeia cabeça de muitas meninas. A gente veio de uma geração muito marcada pelas modelos dos anos 2000 e, atualmente, nas minhas redes sociais, só dá desfiles de grandes modelos. Começou dali, o meu desejo de entrar na passarela”, explicou.
Depois de se preparar, a modelo chegou à São Paulo Fashion Week, que classificou, em entrevista à CNN, como a principal porta de entrada para o mundo da moda
“É onde estão todos os holofotes da moda nacional. Participar de uma Fashion Week é muito importante para uma modelo. O jeito que as pessoas se vestem é muito diferente das semanas de moda internacionais”, defende a mineira.
Como Gabi Ádie chegou às passarelas de Paris?
Já com o caminho no mercado nacional pavimentado, Gabi decidiu, por si só, desbravar o universo da Meca da moda: Paris. Ela conta que, como nenhuma agência quis levá-la para a capital francesa, precisou juntar seu próprio dinheiro para arcar com os custos das passagens aéreas, da hospedagem e até de um curso de francês.
“Eles corriam um certo risco de levar uma menina trans e, quando eu chegasse lá, não fizesse nada, não trabalhasse. Seria um prejuízo para eles”, contou. “Pensar sobre isso é extremamente pesado.”
“Quando você é modelo trans, você tem que ter um trabalho 20 vezes maior do que o de outras meninas cis.”
Uma vez em Paris, Gabi Ádie foi conhecer a cidade e as pessoas, ampliar sua rede de contatos e, claro, fazer castings. Para ela, esses momentos em que as modelos “aplicam” para as vagas em desfiles e sessões de fotos são cruciais para as novas modelos que desejam fazer seus nomes. É neles que elas vão entender como funcionam o mercado e as pessoas.
Depois de ter desfilado para grifes como Patou e Marina Serre, a modelo mineira revelou ter vontade de ir além e marcar sua presença no universo de modelos internacionais.
“Ainda estou engatinhando muito no mercado internacional. É tudo muito recente. Fiz [desfiles internacionais apenas] para a minha primeira temporada [em Paris], então ainda não considero que entrei de fato neste mercado”, argumenta.
Mercado da moda para modelos trans
Refletindo sobre o mercado da moda, Gabi disse à CNN que, por conta das estruturas sociais dificultarem os caminhos, as mulheres transexuais tendem a batalhar dentro da indústria com mais “sede de fazer acontecer”. Segundo ela, o medo atrelado a sua condição de gênero a impulsiona a conquistar cada vez mais na vida.
“É algo muito interno que permeia a gente, um certo medo que, às vezes, até move a gente. Temos essa sede que vem junto com o medo”, afirma.
Seu objetivo é ter uma carreira duradoura, fixar seu nome na indústria e não ser lembrada meramente para preencher uma espécie de cota.
Reconhecendo seus privilégios, como o de ter crescido em uma família que aceitou sua transição de gênero, Gabi pontua que cada mulher trans tem uma trajetória única e foge da ideia de ser posta como espelho para outras meninas que sonham em cruzar as passarelas do mundo. O que ela quer fazer é ajudar a abrir portas, para que cada vez mais mulheres transgênero alcancem seus sonhos.
“Não quero ser a única, eu não tenho esse desejo de ser a primeira, a única pessoa que faz tal coisa. Quero trazer comigo pessoas e mais referências para esse mercado, para que ele se torne cada dia mais diverso e tenha pessoas que apresentam recortes sociais diferentes, além do meu.”