Conheça a história das cartas de tarot mais famosas do mundo
Artista britânica criou as pinturas do design mais usado no mundo para o baralho em 1900 - que segue em uso até hoje
Antes do caso do acaso bem marcado em cartas de tarot – ou “tarô” – ser lido por alguém e se tornar letra de “Escrito nas Estrelas”, o design desse baralho era diferente. Hoje, as ilustrações mais conhecidas no mundo são graças à criação da artista britânica Pamela Colman Smith e Arthur Waite, por volta de 1900.
Um baralho de tarot contem 78 cartas ilustradas, cada uma com símbolos e personagens específicos. A origem do tarot remonta o século 15.
Em um artigo de 1908, a artista britânica Pamela Colman Smith compartilhou como ela achava que suas pinturas deveriam ser vistas: “Aprenda com tudo, veja tudo e, acima de tudo, sinta tudo. Encontre olhos no seu interior, olhe para a porta do desconhecido”. Essa frase poderia também ser aplicada a um baralho de tarot – pois, afinal, ela é responsável pela criação das ilustrações utilizadas no design mais popular do mundo para as cartas.
Smith conheceu Arthur Waite em 1909, em uma reunião de uma sociedade secreta chamada “Hermetic Order of the Golden Dawn” (“Ordem Hermética do Amanhecer Dourado”, em tradução livre). Os dois compartilhavam o interesse em espiritualismo, rituais, simbolismo e práticas psíquicas. Da amizade, nasceu a união do conceito de Waite para as cartas de tarot com base nas artes feitas por Smith.
A primeira publicação do baralho foi em 1910. Atualmente, esse deck é conhecido como “Waite-Smith” ou “Rider-Waite-Smith”. O nome de Smith chegou a ser apagado com a publicação pela editora Rider, até por volta de 1990. Hoje, uma nova edição é publicada pela editora Taschen, da Alemanha, relembra a história da pintora britânica, além de abordar a história da criação do baralho e ressaltar o papel importante de Smith e Waite no baralho mais conhecido do mundo.
As cartas foram criadas durante o verão de 1909. Segundo o editor do livro “The Tarot of A. E. Waite and P. Colman Smith” (“O Tarot de A. E. Wite e P. Colman Smith”, em tradução livre), Johannes Flebig, a criação do baralho por Smith e Waite reflete “uma junção cultura importante” do começo do século XX. “Existia um conceito positivo de liberação pessoal, de viver livremente, mais artisticamente [nessa época]”, explicou à CNN. “Mas esse espírito foi interrompido pelas primeira e segunda guerras mundiais.”
A criatividade de Smith foi influenciada pela vida colorida e internacional que ela teve. Nascida em Manchester, na Inglaterra, Pamela Colman Smith se mudou com a família para a Jamaica ainda quando criança. Ela então entrou em uma universidade em Brooklyn, Nova York, nos Estados Unidos. Depois, ela se estabeleceu em Londres e se interligou com a cena artística da capital da Inglaterra, com pessoas como os escritores W.B. Yeats, Mark Twain e Rudyard Kipling, além do compositor Claude Debussy, conhecidamente um fã do trabalho de Smith.
Em um artigo sobre Smith, a escritora Mary K. Greer escreve que o estilo artístico da pintora – com sua ousadia, cores vívidas e detalhes – foi influenciado por fatores como sua exposição às lendas folclóricas da Jamaica e pinturas japonesas, além de seu envolvimento em performances teatrais e no design nos palcos para essas apresentações. Ainda segundo o estudo feito por Greer, Wait e Smith visitaram uma exibição de um deck de tarot do século XV da Itália no British Museum, em 1907, o que teria inspirado os dois.
Durante a década de 70, houve um aumento de interesse no tarot. O baralho de Smith e Waite se popularizou principalmente entre feministas, pessoas contra as guerras e os movimentos de direitos humanos. Hoje, o uso é para autoconhecimento, com pessoas realizando leituras, interpretação de sonhos e até tirando a carta do dia.
“Tarot é uma oferta para as pessoas”, continua Flebig, que estuda as cartas há mais de 40 anos. “É mais do que apenas adivinhação. Você, como o leitor das cartas, é convidado a ter uma conversa com as imagens – então é como se isso se tornasse um espelho.” Como a imagem é crucial na jornada do tarot, por isso o design criado por Smith e Waite é tão importante. “Eles eram gênios, mas, naquela época, poucas pessoas reconheceram isso”, diz Flebig.
A beleza das ilustrações, segundo o editor Flebig, é que as artes permitem diversas interpretações, com cada carta representando tanto uma recomendação quanto um aviso. Por exemplo, “O Homem Enforcado” pode não ser necessariamente algo para se preocupar, mas sim uma oportunidade para compartilhar. Já a “Estrela” pode não apenas representar luz e algo puro, mas também narcisismo e rigidez. “Essa é a sabedoria de Pamela e Arthur”, explica Flebig.
Essa abertura de interpretações significa que o baralho criado por Smith e Waite foi reinterpretado inúmeras vezes, especialmente durante a última década com o aumento do interesse por tarot. Para Flebig, a atração e apelo dessa versão das cartas é por causa da habilidade que essas ilustrações tem de encorajar as pessoas a encontrar sua próprias verdades – especialmente durante tempos de crise. “Muitas pessoas insatisfeitas com a situação e procurando novos jeitos de viver, novas identidades e novos valores coletivos”, explica. “As pessoas querem respostas. É um sentimento que parece ser o mesmo do jeito original que Smith queria que sua arte fosse vista: ‘Aprenda de tudo, veja tudo, e, acima de tudo, sinta tudo’.”