Análise: O impacto que fantasias sexuais no Halloween pode ter nas crianças
Estudiosas acreditam que houve uma grande mudança de comportamento em relação à infância
Uma das principais fantasias de Halloween para crianças deste ano, Red do filme “Descendentes: A Ascensão de Copas”, é frequentemente vendida por varejistas como um traje vermelho curto e justo com material de renda ou rede de pesca e zíperes.
Outra na lista anual do Google das dez principais fantasias infantis, a Rainha de Copas, muitas vezes se assemelha a uma fantasia de empregada francesa.
“Os meninos estão se vestindo como militares, policiais e exploradores. As meninas se vestem como adolescentes gostosas”, escreveram Sharon Lamb e Lyn Mikel Brown no livro de 2006 “Packaging Girlhood: Rescuing Our Daughters From Marketers’ Schemes”.
Lamb e Mikel Brown disseram que meninas se vestindo como “princesas, líderes de torcida e divas sensuais” era uma grande mudança em relação à infância. Quando as escritoras estavam crescendo, o Halloween era sobre fingir ser outra pessoa ou outra coisa para o feriado. Mas em vez de ajudar as meninas a explorar identidades como médicas ou cientistas — ou mesmo super-heroínas como os meninos — hoje em dia as fantasias geralmente sexualizam as meninas. É parte de uma tendência mais ampla.
Quando as meninas entram nas redes sociais, percebem logo que uma maneira fácil de acumular curtidas e atenção é se fazer parecer “gostosas” nas fotos que postam. Mas é uma péssima ideia no Halloween ou em qualquer época do ano.
Por que é perigoso para as meninas se objetificarem
Se uma menina quer uma fantasia sexy de Halloween, é melhor não julgar, mas sim abrir um diálogo, disse Elizabeth Baron, psicoterapeuta de Nova York e fundadora da With Elizabeth, uma plataforma para mães, por e-mail.
“Os pais devem explicar que se vestir de forma provocativa leva à objetificação de meninas e mulheres, o que prioriza seus corpos e diminui suas outras qualidades”, disse Baron.
“Quando essa objetificação acontece, elas correm o risco de serem maltratadas, desrespeitadas e até mesmo abusadas ou violadas — seja pessoalmente ou pela internet.”
Se elas postarem essas fotos publicamente, elas podem até atrair a atenção de predadores de crianças. Pediatras alertaram recentemente que algumas crianças que são abusadas sexualmente se conectam com seus agressores nas redes sociais.
Sexualizar-se também é um sinal de que as meninas podem pensar que sua aparência é de importância primária.
“Meninas que se vestem de forma sexy podem começar a se identificar demais com sua sexualidade e acreditar que sua aparência física é o que lhes dá autoestima”, alertou Baron. “Quando as meninas se preocupam com sua aparência externa, elas são mais propensas a lutar com a imagem corporal, bem como com problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e baixa autoestima.”
Ensinando autoconfiança às meninas
Embora seja ok que as crianças se importem com sua aparência, “queremos que meninas e mulheres jovens encontrem um equilíbrio entre se orgulhar de sua aparência e se concentrar em outras áreas de sua identidade que contribuem para sua autoestima, como ser uma boa aluna, uma atleta forte, uma amiga gentil e uma filha responsável”, disse Baron.
Portanto, é importante ensinar às crianças que sua confiança não deve estar vinculada à maneira como se vestem.
“Se uma criança exige uma roupa específica para ser confiante, significa que ela não é confiante”, disse Justine Ang Fonte, uma educadora sexual de Nova York.
Pode ser útil usar exemplos para enfatizar esse ponto. “Beyoncé é confiante em moletons e gola alta porque não é isso que a torna sexy — é sua crença genuína de que ela tem propósito, habilidade e pertencimento”, destacou Fonte.
Baron disse que também é importante falar sobre a pressão que as crianças podem sentir para se fazerem parecer “gostosas” se for a norma entre seus amigos.
“Reconheça que pode ser difícil fazer escolhas diferentes das de alguns de seus colegas”, disse.
Incentive outras fantasias
Os pais também podem ajudar as crianças a usarem a imaginação para experimentar identidades mais empoderadoras com suas fantasias.
“Fantasia para crianças é experimentar novos papéis, imaginar o incomum ou o impossível, usar qualquer identidade selvagem e louca que combine com sua fantasia ou as cative no momento”, escreveram Lamb e Mikel Brown em seu livro.
Então, os pais podem encorajar as meninas — e, na verdade, crianças de todos os gêneros — a serem coisas como juízas da Suprema Corte ou presidente dos Estados Unidos.
“Imagine que tudo é possível”, aconselharam Lamb e Mikel Brown. “Se o coração dela está voltado para o glitter, pelo menos ajude-a a imaginar uma fada mal-humorada que enfrenta o dragão maligno do reino mágico, uma borboleta que salva o mundo dos insetos ou uma princesa que pode usar um mapa para encontrar seu próprio caminho para o baile.”
* Nota do edtior – Kara Alaimo é professora de comunicação na Fairleigh Dickinson University. Seu livro “Over the Influence: Why Social Media Is Toxic for Women and Girls – And How We Can Take It Back” foi publicado recentemente pela Alcove Press.
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