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    Ambientes monocromáticos: a grande tendência para a decoração em 2022

    A pandemia trouxe a possibilidade de olhar mais para dentro de casa e essa nova onda reflete a vontade de esvaziar a mente, desacelerar e desapegar dos excessos

    Julia Mellocolaboração para a CNN

    Com a pandemia, vivenciamos dois momentos na arquitetura e na decoração: o primeiro, foi levar a cor e o verde das plantas para dentro de casa. Em seguida, foi a vontade de criar um espaço sereno e mais livre de excessos.

    É assim que a jornalista especializada no tema Amanda Sequin define as transformações que presenciamos desde quando nos vimos obrigados a olhar para dentro, também de casa, nesses quase dois anos desde o início da pandemia da Covid-19.

    Ela chama esse movimento de o novo minimalismo (ou “minimalismo tátil”), que apresenta na decoração um fundo amadeirado ou com cores que remetem a pigmentos naturais e muita textura — elementos, segundo ela, ideais para acalmar os sentidos e a mente frenética dos tempos de pandemia. Para lidar com a frustração e o medo, que vinham tanto lá de fora quanto de dentro, com do excesso de informação, a casa tornou-se um refúgio individual, “quase como um templo pessoal”, conta Amanda.

    Os espaços monocromáticos, minimalistas e repletos de texturas se multiplicaram, e foram um dos grandes destaques também na CasaCor SP, importante mostra de decoração que chega ao fim neste domingo (14), após três meses em exibição. “Entre os 56 projetos desta edição, surgiram espaços com pequenas variações de tonalidade, com mais ou menos incidência de branco, apresentando aqui o ‘minimalismo aquecido’’’, descreve Amanda.

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    É o que acontece, por exemplo, na “Casa Olaria”, assinada por Nildo José, arquiteto baiano radicado em São Paulo, que participou desta edição.

    Com 200 m² e inspirada na cerâmica e no fazer artesanal, o espaço é coberto por tons beges arenosos e brancos pigmentados. Até as obras de arte e peças de design assinadas por brasileiros ali têm essa tonalidade. Mas se engana quem pensa que um ambiente assim seria frio ou tedioso: a premissa de Nildo é que os diversos volumes e texturas tornam-se convites táteis para os visitantes.

    Para Amanda Sequin, ambientes como esse têm tudo a ver com o momento pós-pandemia. “Surgiu em nós uma vontade de criar um espaço calmo e tranquilo, quase de spa. Não é a casa com cara de galeria de arte, vazia. É um minimalismo que reflete nossa vontade de esvaziar a mente, desacelerar, desapegar dos excessos, mas sem deixar de ativar o tato, sentido que fora de casa a gente foi obrigada a não usar”, afirma.

    Quem aposta na tendência dentro de casa desde 2014 é o diretor criativo e cenógrafo Michell Lott. Em sua residência paulista estrelam os ambientes pintados com predominância de um tom, do lilás rosado na sala, passando pela cozinha esverdeada a uma lavanderia toda laranja. Lott, que também trabalha como consultor de cores, afirma que “como estamos acostumados a conviver com paredes brancas, quando nos vemos cercado de cores, é como se elas transportassem a gente para um outro universo”.

    A lavanderia laranja de Michell Lott: aqui, o piso, as janelas, portas e eletrodomésticos levam o mesmo tom / Michell Lott

    De acordo com ele, quando um ambiente é coberto inteiro por um tom, o espaço ganha muito: “As cores são uma ótima (e barata) forma de alterar a arquitetura — para quem mora em casa alugada, como eu, é maravilhoso. Quando você pinta o teto, a parede, os armários da mesma cor, esses elementos se fundem, a luz e a sombra ficam mais interessantes e o espaço ganha uma sensação atmosférica”, comenta. É com isso em mente que ele já está de pincel, tinta e rolo na mão e entrega a cor que acredita que acredita que será tendência no próximo ano: verde pigmentado Eclipse, sua escolha para colorir a sala de sua casa em breve.

    Para Vanessa Ribeiro, arquiteta da Quattrino Arquitetura, um dos pontos altos da tendência monocromática é a capacidade de injetar identidade. “Acho que ela veio para ficar porque as pessoas estão se abrindo mais para as cores. Todo mundo tem uma história, uma sensação, uma cor predileta e levar isso para a morada é muito importante”, afirma.

    Em um de seus projetos recentes, a área de serviço e a cozinha, que são interligadas, ganharam uma tonalidade rosa vintage — o que trouxe ainda mais personalidade para o ambiente, que já era cheio de memória afetiva, fruto dos objetos garimpados pelos donos. “Usar uma mesma tonalidade cria uma caixa, marca cada espaço, traz profundidade”, descreve Vanessa.

    A cozinha rosa integrada com a lavanderia do projeto #QtMaurilio, da Quattrino Arquitetura/ Divulgação

    Além disso, ela conta que a possibilidade de usar as cores de forma imersiva ajuda a projetar a personalidade dos clientes nos espaços, transformando-os em suas casas. “Nós respeitamos muito as vontades, os desejos, as histórias dos nossos clientes e usamos a cor como forma de decoração extremamente democrática e personalizada”, conta.

    Desde 2015, Vanessa está voltada principalmente ao mercado de reformas de residências e a cor sempre esteve presente. “É o que torna cada projeto único”. No entanto, segundo ela, foi somente nos últimos anos que isso se intensificou.

    Pesquisas refletem essa vivência maior da casa: de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), todas as áreas que envolvem a morada — desde os materiais de construção até o comércio de almofadas — apresentaram um intenso crescimento desde o início de 2020. Uma pesquisa realizada pela Ebit/Nielsen, mostra que o setor de cama, mesa, banho e decoração teve um expressivo crescimento no 1º semestre de 2020: 23,5% — e a tendência é que para 2021 esse número tenha dobrado. O esperado de acordo com os órgãos de pesquisa, no entanto, não é uma acumulação de bens, mas sim uma transformação no jeito que moramos.

    Objetos brasileiros

    O design brasileiro também tem contribuído para a maior facilidade de aplicar a tendência: desde pequenos objetos aos sofás, as peças coloridas ajudam a criar a atmosfera imersiva nos locais onde entram.

    É o caso da mesa EVA, criada pela arquiteta Melina Romano em 2020, com cores verdes e avermelhadas. “A pandemia do COVID-19 acelerou um movimento já previsto: o home office. Desenhada e assinada pelo nosso studio, a EVA vem como resposta à necessidade de adaptação e mudança de hábitos”, diz a descrição da peça feita pelo studio. Com formas orgânicas e revestimento tátil, a peça estrela, por exemplo, o escritório da casa de Michell Lott, contribuindo para a estética única da casa.

    Casa Alma Duratex projeto do Studio Melina Romano na CasaCor SP/ MCA Estúdio

    É de Melina, também, o projeto da Casa Alma Duratex, na CasaCor SP. Brancos pigmentados com amarelo e com toques de cinza nos 160 m² criam uma atmosfera etérea para os sentidos. “No momento em que questionamos o que nos é essencial, essa casa que instiga as sensações para além da estética. Texturas, aconchego, cores claras e minimalismo traduzem pilares do projeto: nossa necessidade de ir mais devagar e de focar no bem-estar”, descreve o projeto.

    Para quem quiser experimentar o espaço de layout fluido e ver as cores pessoalmente, a mostra vai até este domingo. Para quem observará de casa, as fotos dos 56 ambientes podem ser encontradas no site do evento.

    Depois de toda essa vivência, a casa que nos aguarda pode ser mais inspiradora que imaginamos. De acordo com Michell: “Quando a gente pinta tudo de uma cor, parece que a gente cria um espaço dos sonhos. Em 2022, estamos prestes a passar por um tipo de renascimento, um retorno ao mundo numa possível pós-pandemia. A nossa casa com certeza refletirá isso, sendo um refúgio e ao mesmo tempo um espaço de pura expressão. Pintar a casa de apenas uma cor, apostar no monocromático, é uma escolha ousada, mas que pode transformar a casa num lugar único.”

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