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    Watergate 50 anos: Quando as audiências tinham o poder de mudar a história

    Análise traz paralelos entre audiências públicas ocorridas cinco décadas atrás, em escândalo na presidência de Richard Nixon, e as que investigam a invasão ao Capitólio em 2021

    Análise por Zachary B. Wolfda CNN

    Você lerá muito sobre como o 50º aniversário do caso Watergate tem se encaixado nas audiências públicas realizadas pelo comitê da Câmara que investiga a insurreição de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio dos Estados Unidos, que começaram na quinta-feira (9).

    Há muito para se comparar entre os dois presidentes acusados de influenciar eleições com quase meio século de diferença.

    Esforços para minar as eleições

    Os esforços secretos do ex-presidente Richard Nixon para se intrometer na eleição de 1972 ecoam no esforço público de Donald Trump para derrubar a eleição de 2020.

    Mas este não é o caso de a história se repetir. O esforço de Trump foi, sem dúvida, mais descarado e mais perigoso, pois ameaçou a transferência pacífica de poder pela primeira vez desde a guerra civil, quando os estados do sul se separaram da União após a vitória de Abraham Lincoln em 1860.

    Audiências de 6 de janeiro x Audiências de Watergate

    As audiências na Câmara sobre os ataques de 6 de janeiro são feitas para a TV –literalmente, há um produtor de TV ajudando a contar a história– e projetadas para reengajar o público no quase-acidente da democracia americana.

    Eles criarão um registro de fatos em um momento em que democratas e republicanos não conseguem concordar sobre o que é real. Eles vão potencialmente iniciar processos do Departamento de Justiça por coisas gravadas em vídeo e já no registro público.

    As audiências de Watergate, por outro lado, abriram caminho e ajudaram a descobrir a conspiração existente.

    Realizadas por um comitê especial do Senado quase um ano após a invasão de agentes apoiados pela Casa Branca na sede do Comitê Nacional Democrata, as audiências cativaram a atenção do país.

    Audiências do Watergate apresentaram um denunciante do alto escalão do governo Nixon

    Os principais assessores de Trump se recusaram a cooperar com o comitê da Câmara que investiga o ataque de 6 de janeiro.

    Em contraste, nas audiências do caso Watergate, o conselheiro de Nixon na Casa Branca, John Dean, entregou o presidente e contou ao mundo sobre uma conspiração tramada na Casa Branca. Seu testemunho impressionante em junho de 1973 foi o elemento principal das audiências.

    Ivanka Trump é vista em uma tela de vídeo durante audiência pública do comitê da Câmara para investigar ataque de 6 de janeiro ao Capitólio dos EUA / 09/06/2022 REUTERS/Jonathan Ernst

    Audiências do Watergate iniciaram uma reação em cadeia

    As audiências do caso Watergate também descobriram a existência das agora infames fitas das conversas de Nixon na Casa Branca que corroboraram o testemunho de Dean.

    O esforço de Nixon para manter essas fitas fora do alcance público levou ao “Massacre de Sábado à Noite”, em outubro de 1973, no qual as duas principais autoridades do Departamento de Justiça renunciaram em protesto.

    O que esperar das audiências de 6 de janeiro da Câmara

    Embora seja esperado que haja novas informações compartilhadas nas audiências da Câmara, a narrativa básica já é conhecida.

    Muitos americanos já ouviram o áudio de Trump pedindo às autoridades eleitorais na Geórgia que “encontrem” votos para ele. Eles sabem que os manifestantes estavam tentando atrapalhar a contagem dos votos do Colégio Eleitoral. Eles já viram relatórios sobre as mensagens de texto de republicanos e comentaristas do canal de TV Fox para seu chefe de gabinete, Mark Meadows, implorando por ajuda que não veio de Trump em 6 de janeiro.

    Podem ser os principais assessores do ex-vice-presidente, Mike Pence, que fornecerão depoimentos convincentes nas audiências da Câmara de 6 de janeiro. Pence, que presidia a contagem dos votos eleitorais em 6 de janeiro de 2021, foi alvo dos manifestantes.

    Republicanos do Senado nunca se voltaram contra Trump como fizeram com Nixon

    Nixon renunciou porque não tinha poder para vencer o impeachment. Os senadores republicanos lhe disseram que ele havia perdido quase todo o seu apoio entre os republicanos no Senado e seria expulso do poder em um julgamento de impeachment se não renunciasse.

    “Sr. Presidente, o senhor tem cinco votos. E um deles não é meu”, disse o então senador Barry Goldwater, do Arizona, a Nixon na Casa Branca, de acordo com o jornalista do Washington Post, Bob Woodward, na série de documentários “Watergate: Blueprint for Scandal”, reproduzida pela CNN nos Estados Unidos.

    Trump venceu o impeachment duas vezes: enquanto estava no cargo e logo após sua saída. Todos, exceto sete republicanos do Senado –mesmo muitos daqueles que criticaram Trump após a invasão do Capitólio, como o senador Mitch McConnell, do Kentucky– não votariam para desqualificar Trump de concorrer à presidência novamente.

    Mais de um ano depois, a maioria dos republicanos parou de criticar Trump.

    Apoiadores de Trump atacam o Capitólio em Washington / 06/01/2021 REUTERS/Leah Millis

    A diferença entre aquela época e agora

    Trump exerce mais poder absoluto sobre os republicanos do que Nixon exercia, o que é um sintoma ou um fator que contribui para o poder paralisante do partidarismo na política de hoje.

    Essa pode ser a diferença mais importante entre o escândalo de Watergate e a investigação de 6 de janeiro.

    “O que a América e o mundo viram em 1974 foi o homem mais poderoso do mundo perder o emprego”, diz o historiador Timothy Naftali, professor da Universidade de Nova York e ex-diretor da Biblioteca e Museu Presidencial Richard Nixon. “E para quem tinha dúvidas da força da Constituição dos EUA, o que eles testemunharam removeu essas dúvidas”.

    Trump sobreviveu ao impeachment e não renunciou. Mas ele perdeu o emprego quando os eleitores o expulsaram do cargo. A questão hoje é se a recusa dele em aceitar essa perda levantará novas dúvidas sobre a força da Constituição.

    O jornalista Carl Bernstein comparou Nixon e Trump durante uma aparição junto com Woodward no programa “Reliable Sources” da CNN americana no domingo (5). Ele disse que as más ações de Trump o tornam “o primeiro presidente insurgente dos Estados Unidos” e eclipsam o mau comportamento de Nixon, que foi criminoso.

    Mas a raiz de seus pecados é a mesma.

    “Ambos os crimes começaram por minar o elemento mais básico da democracia”, disse Bernstein, “eleições livres e justas”.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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