Waack: Dois pesos e duas medidas nos discursos de Lula
O Brasil não possui grandes poderes de coerção. No momento, carece também dos poderes de persuasão
Os presidentes do Brasil e da Ucrânia trocaram severas acusações no âmbito da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque. Lula disse que Zelensky não consegue fazer a paz. Zelensky acusou Lula de se aliar à Rússia e à China ao apresentar um plano de paz.
Essa proposta, segundo Zelensky, significa condenar a Ucrânia a aceitar que a Rússia fique com cerca de 20% de seu território.
Na prática, o Brasil já havia perdido as condições de ser visto como mediador nesse conflito. E a causa disso não foram apenas rusgas entre os presidentes.
O problema está no fato de Lula minimizar o que aconteceu na Ucrânia, que foi a violação básica do direito à integridade territorial, consagrado na Carta das Nações Unidas.
De maneira semelhante, Lula não reconhece que direitos humanos fundamentais foram brutalmente esmagados pela ditadura venezuelana, outro princípio consagrado nas Nações Unidas.
Direitos humanos são princípios universais e autodeterminação dos povos também. É disso que se trata quando se condena o que Israel faz em Gaza ou no Líbano como resposta aos ataques que sofreu.
O que vale em um lugar tem de valer no outro — não se pode ter dois pesos e duas medidas, advertiu o presidente do Chile, Gabriel Boric, referindo-se diretamente às posturas do presidente brasileiro nos conflitos da Ucrânia, Oriente Médio e Venezuela.
O Brasil não possui grandes poderes de coerção. No momento, carece também dos poderes de persuasão.