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    Voluntários negros se unem online para ajudar estudantes africanos na Ucrânia

    Grupo arrecadou mais de US$ 250 mil de doadores em todo o mundo para ajudar refugiados negros, que sofreram racismo durante a fuga da guerra

    Catherine Thorbeckedo CNN Business

    Após algumas das centenas de estudantes negros retidos na cidade sitiada de Sumy, na Ucrânia, terem feito apelos desesperados nas redes sociais para obter ajuda no início do mês, um grupo de voluntários entrou em ação para ajudá-los a sair com segurança da zona de guerra.

    O Black Women for Black Lives (Mulheres Negras pelas Vidas Negras), uma nova coalizão empenhada em ajudar os residentes negros a escapar da Ucrânia diante da invasão russa, levou os apelos dos estudantes à comunidade internacional com a hashtag #SaveSumyStudents (salvem os estudantes de Sumy).

    O grupo criou um abaixo-assinado no site Change.org, que recebeu milhares de apoiadores, pedindo aos governos que reajam urgentemente à crise. Além disso, eles distribuíram mais de US$ 55 mil em doações para quase 500 estudantes retidos na Ucrânia para cobrir alimentos e necessidades.

    Em cerca de uma semana, o grupo anunciou que, após o incansável trabalho de defesa de sua coalizão e de outros voluntários, a Cruz Vermelha enviou alguns ônibus para realizar o deslocamento seguro de “todos os estudantes negros retidos em Sumy”.

    As três fundadoras do Black Women for Black Lives – Tokunbo Koiki, Patricia Daley e Korrine Sky – praticamente não se conheciam até algumas semanas atrás, segundo Koiki, mas compartilhavam uma angústia coletiva ao ver pessoas semelhantes a elas enfrentando discriminação ao tentar fugir da Ucrânia. As três mulheres se conectaram pelo Twitter e formaram a organização no primeiro fim de semana após o início da invasão russa.

    Desde então, o grupo arrecadou mais de US$ 250 mil de doadores em todo o mundo para ajudar refugiados negros, sobretudo estudantes africanos que fugiam do conflito. Também fizeram parceria com a plataforma Airbnb para ajudar a providenciar moradia temporária por meio do braço de caridade da empresa. Recentemente, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, elogiou o trabalho do grupo, frisando que está “muito orgulhosa de ver mulheres negras assumindo a liderança”.

    “Tudo começou com um tweet”, contou Koiki à CNN Business. “Eu queria fazer algo por nós, que fosse feito por nós, e acho que muitas pessoas se identificaram com isso no mundo todo”.

    Enquanto membros da diáspora africana global lamentavam na Internet a situação dos refugiados negros na Ucrânia, elas formaram coalizões digitais como Black Women for Black Lives (Mulheres Negras pelas Vidas Negras) e Black Foreigners in Ukraine (Estrangeiros Negros na Ucrânia), que fornecem apoio emergencial à comunidade africana envolvida na atual invasão russa.

    Mais de três milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde que a Rússia invadiu o país no mês passado, de acordo com o último cálculo realizado pelas Nações Unidas , e estima-se que mais de dois milhões de pessoas estejam deslocadas dentro do país.

    Embora alguns países vizinhos tenham recebido refugiados brancos ucranianos de braços abertos, muitos residentes negros da Ucrânia relataram episódios de abandono, racismo e até violência enquanto buscavam uma passagem segura.

    Tokunbo Koiki, assistente social britânica-nigeriana e cofundadora do Black Women for Black Lives / Reprodução CNN/Alexander Pemberton

    Em 2020, quase um quarto dos 76 mil estudantes estrangeiros na Ucrânia eram africanos, informou a BBC, citando dados do governo. Os defensores dizem que esses alunos foram atraídos pelas mensalidades relativamente baratas do país e pelo fácil acesso aos mercados de trabalho europeus. O governo ucraniano informou em 2015 que estudantes estrangeiros injetam mais de US$ 500 milhões por ano na economia ucraniana – quase a totalidade do financiamento do ensino superior público do país, segundo um ex-funcionário da educação.

    Enquanto estudantes africanos retidos no país no início da guerra lançavam pedidos de ajuda nas redes sociais, surgiram grupos de voluntários na Internet para garantir que alguns dos refugiados mais vulneráveis que tentavam escapar não fossem deixados para trás.

    “Somos negros e viemos salvar os nossos”, afirmou Janine Anthony, jornalista esportiva do Reino Unido e voluntária que trabalha com o Black Foreigners in Ukraine, à CNN Business. “Protegemos os nossos se ninguém nos protege.”

    Em uma guerra que foi acompanhada pela Internet como nenhuma outra, esses voluntários recorreram a uma variedade de ferramentas tecnológicas. Existem salas de bate-papo no Clubhouse e threads detalhados no Twitter que compartilham atualizações sobre a situação local; bate-papo no Telegram com recursos para quem está na linha de frente; doações de criptomoedas e NFTs para criar fundos para os necessitados; e abaixo-assinados online pedindo ação para ajudar os residentes negros da Ucrânia.

    “No início, os estudantes usavam as redes sociais para contar ao mundo o que eles estavam passando e enfrentando ao tentar deixar a Ucrânia”, comenta Koiki. “Eu sabia que quando começamos a usar as redes sociais para amplificar nossas vozes e a mensagem que estávamos tentando transmitir, as pessoas se sensibilizariam”.

    Koiki disse que espera que os esforços do grupo possam “mostrar o que é possível alcançar” com ações coletivas, mesmo que comecem com algo aparentemente tão efêmero quanto as redes sociais. “Não consigo mover montanhas, mas se eu, enquanto indivíduo, estiver agindo e atacando essa montanha, e todos os outros também estiverem fazendo isso, juntos podemos criar uma avalanche que a derrubará.”

    Fotos — Refugiados deixam a Ucrânia por causa da guerra

    Exército humanitário via Clubhouse, Twitter e Telegram

    O Black Foreigners in Ukraine teve início com uma reunião no Twitter Spaces liderada por Glory “Duwa” Attaochu em Atlanta. A cantora e criadora de conteúdo disse que no primeiro momento tentou usar a sala dela do Clubhouse, com três mil seguidores, para divulgar as mensagens de estudantes africanos que ela via na Internet, mas depois mudou para o serviço concorrente do Twitter a convite de um ouvinte.

    “Foi minha primeira vez no [Twitter] Spaces, e nós literalmente administramos aquela sala do Space por 24 horas seguidas, sem dormir”, acrescentou. “E simplesmente explodiu.”

    Attaochu disse que logo recebeu diversas mensagens privadas de pessoas de todo o mundo perguntando o que poderiam fazer para ajudar. Entre elas estava Ephraim “Phoenix” Osinboyejo, que se ofereceu para ajudar a traduzir mapas on-line e coordenar rotas de fuga para estudantes africanos.

    Em seu esforço para ajudar estudantes negros na Ucrânia, o grupo também teve que enfrentar as armadilhas das redes sociais, principalmente o fato de as informações compartilhadas na Internet nem sempre serem corretas. O grupo agora está fazendo o possível para agir com a urgência que a guerra exige, enquanto trabalha para analisar e disseminar as mensagens dos alunos e eliminar a burocracia na distribuição de ajuda o mais rápido possível.

    “Esse é o meu trabalho, sempre tentar garantir a veracidade das informações”, comenta Janine. “Então ninguém, nenhum de nós do grupo, será acusado de propagar informações falsas.”

    Janine Anthony, moradora do Reino Unido, trabalha com o grupo Black Foreigners in Ukraine para ajudar estudantes negros que tentam fugir da guerra / Reprodução CNN/Cortesia Janine Anthony

    O Black Foreigners in Ukraine agora conta com 27 voluntários que estão usando todas as ferramentas disponíveis para fornecer apoio direto àqueles que buscam uma passagem segura. Eles administram uma série de grupos no Telegram, inclusive um para quem não tem documentos legalizados e tenta fugir da guerra.

    O grupo ajuda os estudantes a se conectarem para viajarem juntos com mais segurança e arrumarem moradia. Também oferece dicas em seu site, como um guia para criar carteiras de criptomoedas para receber doações ou carregar um smartphone sem fio.

    O grupo arrecadou cerca de US$ 15 mil em doações, principalmente por meio de criptomoedas, e compartilha uma planilha pública de como esses fundos estão sendo distribuídos para ajudar os que estão no local.

    Daqui para frente, Anthony diz que é imprescindível oferecer assistência jurídica, suporte para vistos e serviços de realocação acadêmica para que a vida desses estudantes e refugiados não seja prejudicada pela guerra na Ucrânia.

    O Black Women for Black Lives também está trabalhando para analisar pedidos de doações, atuando com urgência de vida ou morte. O grupo examina os pedidos de assistência financeira criados por meio de um formulário Google disponível em seu site e distribui os fundos diretamente para os estudantes e refugiados que tentam sair da Ucrânia, enviando em geral doações de US$ 50 ou US$ 100 por vez.

    Koiki, cofundadora da Black Women for Black Lives, contou que está impressionada com a quantidade de manifestações de apoio recebidas de mulheres negras e aliados em todo o mundo, oferecendo as habilidades, tempo e dinheiro que conseguem.

    “Você vê o pior lado da humanidade, mas também acaba vendo o melhor com as respostas a essas circunstâncias trágicas”, comenta Koiki.

    Além de auxiliar as pessoas retidas na Ucrânia, essas ações estão ajudando a construir uma comunidade. Janine pode ter acabado de conhecer as colegas voluntárias com quem está trabalhando ou os alunos que está orientando para terem segurança, mas ela afirma: “Acho que não somos mais estranhos. Somos uma família, e a família permanece unida.”

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