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    Violência política e insegurança perseguem o Equador enquanto cidadãos se preparam para votar

    Assassinato de Fernando Villavicencio só aumentou o temor da população; mortes no país andino tomou proporções assustadoras

    Rafael Romoda CNN

    Gissella Cecibel Molina, uma ex-membro do congresso nacional do Equador não sabe se perderá o olho direito, ferido na semana passada quando seu colega e amigo — o candidato à presidência Fernando Villavicencio — foi assassinado na frente dela, enquanto saía de um comício político na cidade de Quito, capital do Equador.

    “Eu estava saindo do local com Fernando e, conforme as pessoas empurravam [para se aproximar dele], me afastei cerca de um ou dois metros”, disse Molina, que está concorrendo à reeleição ao congresso do país.

    “Quando ele (Villavicencio) estava se aproximando do carro, havia um homem com uma bandeira no pescoço que dizia ‘Fernando Villavicencio para presidente’. O homem contornou o carro para o outro lado, sacou uma arma e começou a atirar”, disse.

    A última coisa de que Molina se lembra antes de desmaiar é de Villavicencio tremendo quando as balas o atingiram na cabeça. “Depois, senti como se algo me atingisse o rosto e caí no chão. Quando recuperei a consciência, ainda ouvia tiros e havia muitos feridos ao meu redor”, acrescentou.

    O brutal assassinato de Villavicencio, candidato abertamente crítico da corrupção e ex-jornalista investigativo, chocou o país antes da votação para presidenciais e legislativas a serem realizadas no domingo (20). O que também chamou a atenção internacional para as poderosas organizações criminosas que conduzem a violência que assola o Equador.

    O suposto atirador morreu sob custódia policial, segundo as autoridades, enquanto seis cidadãos colombianos foram detidos em conexão com o assassinato. Os suspeitos são membros de grupos criminosos organizados, disse o ministro do Interior do Equador, Juan Zapata, citando evidências preliminares.

    Mas o caso de Villavicencio não é isolado, já que outros políticos foram assassinados este ano. Na segunda-feira (14), Pedro Briones, dirigente de um partido de esquerda local, foi morto a tiros na província de Esmeraldas, segundo as autoridades. No mês passado, Agustín Intriago, prefeito da sexta maior cidade do Equador, Manta, sofreu o mesmo destino enquanto conversava com um jovem atleta na rua. E em maio, o candidato eleito Walker Vera foi assassinado pouco antes de assumir o cargo na cidade de Muisne, província de Esmeraldas .

    A raiz dessa violência política é que o Equador é um ponto de trânsito na rota da cocaína da América do Sul para os Estados Unidos e a Europa, disse à CNN Jan Topic, um dos oito candidatos à presidência. Segundo ele, as lacunas nas fronteiras facilitam a atuação de cartéis transnacionais de drogas no país.

    Violência de cartel

    A terrível situação representa uma mudança radical em relação a uma década atrás, quando o Equador era conhecido como um país relativamente seguro na região. Segundo dados da Polícia Nacional do Equador, a taxa de homicídios em 2016 foi de 5,8 por 100.000 habitantes. No ano passado, havia disparado para 25,6, um nível semelhante ao da Colômbia e do México, países com longas histórias de violência de cartéis de drogas.

    Agora, organizações estrangeiras como cartéis mexicanos, gangues urbanas brasileiras e até a máfia albanesa estão colaborando com grupos criminosos equatorianos, alimentando o conflito, segundo analistas. Um relatório publicado em março pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime afirmou que “traficantes dos Bálcãs e membros de grupos criminosos italianos se estabeleceram no Equador para estabelecer linhas de abastecimento para os mercados europeus”.

    O dinheiro das drogas ajudou a alimentar a corrupção no país, disse o candidato presidencial Topic. “Toda essa cocaína e toda essa heroína que entra no país ajuda a financiar a corrupção de políticos, policiais, soldados, juízes e promotores”, afirmou.

    “Pelo simples fato de não estarmos controlando nossas fronteiras, estamos recebendo um fluxo de dinheiro que está literalmente corrompendo o país”, acrescentou Topic.

    A luta contra o crime tem estado no topo da agenda política antes das eleições antecipadas deste ano, e ainda mais desde o assassinato de Villavicencio. Na última semana, os candidatos políticos foram rápidos em insistir em sua abordagem do problema.

    Topic, um empresário que lutou na Legião Estrangeira Francesa, foi descrito como “o Bukele [Nayib] equatoriano”, referindo-se ao presidente salvadorenho conhecido por sua estratégia de “mão de ferro” contra gangues criminosas.

    Topic disse à CNN que, embora admire Bukele, ele seria mais cuidadoso quando se trata de respeitar os direitos humanos. “Admiro a compreensão muito clara deles [de Bukele e outros defensores dessa política] da raiz do problema… e sua determinação. Isso é algo que não temos atualmente no Equador. O que temos é uma liderança temerosa que não toma decisões porque teme as máfias e a opinião pública”, disse Topic.

    Andrea González Náder, que era companheira de chapa de Villavicencio, disse à CNN que combater gangues criminosas e a corrupção era o principal objetivo de Villavicencio. Esses alvos não mudaram, disse ela à CNN de um local secreto no Equador, que a polícia pediu à CNN para não divulgar para sua proteção.

    A ambientalista de 36 anos destacou que quer mudar o Equador para melhor. “Quero que este país seja um lugar de paz, um país produtivo… Acho o Equador um paraíso e o transformaram em um inferno”, disse, referindo-se a grupos criminosos e políticos corruptos.

    Durante um debate presidencial televisionado no domingo, a favorita Luisa González disse que fortaleceria as forças de segurança e os sistemas de inteligência do Equador.

    González, do partido Movimiento Revolución Ciudadana, a coalizão política do ex-presidente esquerdista Rafael Correa, também falou em reiniciar uma força de inteligência conjunta com a Colômbia. “Já conversei com os embaixadores europeus da União Europeia e com o presidente da Colômbia [Gustavo Petro] e vamos restaurar a segurança para todas as famílias equatorianas”, afirmou.

    Molina, que é veterinária de profissão, agora corre o risco de ficar parcialmente cega devido ao ataque da semana passada, mas permanece confiante. “Os gangsters, os políticos corruptos que querem ser eleitos para a assembleia, os Latin Kings, os Zetas, os albaneses que agora operam no país, os extorsionários, os sequestradores e todos aqueles que aterrorizam a população não vão nos quebrar”, disse.

    Apesar de sua lesão, ela ainda está considerando concorrer às eleições de 20 de agosto, insistindo que quer garantir que a justiça seja feita.

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