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    Vinte anos depois, Lula volta a cobrar reforma da ONU e combate à fome

    Diante de retrocesso global em relação a vários temas, presidente decidiu repetir em Nova York importantes demandas apresentadas em seu primeiro discurso na Assembleia-Geral da ONU, em 2003

    Américo Martinsda CNN , Londres

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU algumas importantes cobranças feitas por ele mesmo há exatos 20 anos, na primeira vez em que falou para o mesmo colegiado.

    Em setembro de 2003, no seu primeiro mandato, Lula aproveitou o palco da Assembleia-Geral para pedir uma ampla reforma da ONU e do seu Conselho de Segurança.

    Além disso, criticou o protecionismo comercial dos países ricos e defendeu o lançamento de um “Comitê Mundial de Combate à Fome”, o que nunca ocorreu. De forma diferente e mais contundente, as mesmas demandas foram feitas no discurso desta terça-feira (19).

    Entre as novidades, no entanto, estavam a defesa de investimentos em energia renovável e medidas para combater as mudanças climáticas. O próprio Lula destacou que, na época do discurso original, “o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática”.

    Um dos motivos para a insistência nas mesmas mensagens é o fato de que o mundo continua enfrentando, sem sucesso, muitos dos mesmos problemas levantados pelo presidente há duas décadas.

    E com alguns agravantes: em vários pontos, a situação até retrocedeu, como a própria ONU, que hoje está numa situação ainda mais frágil, e a recente explosão no número de pessoas enfrentando insegurança alimentar (mais de 730 milhões, segundo a FAO).

    O mundo em 2003 x 2023

    Na época do primeiro discurso de Lula na ONU, a comunidade internacional lidava com a invasão ilegal, feita sem aprovação do Conselho de Segurança, do Iraque por forças dos Estados Unidos.

    Durante o governo do Republicano George W. Bush, os americanos tentaram justificar suas ações com o uso de informações falsas de que o ditador Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa em seu arsenal. Eles derrubaram o ditador, mas acabaram permanecendo no país conflagrado até 2021.

    Hoje, o conflito central também envolve um membro permanente do Conselho de Segurança, a Rússia, que invadiu ilegalmente um outro país soberano, a Ucrânia.

    Cabe, obviamente, ressaltar as diferenças entre o regime ditatorial de Hussein, que reprimiu seu próprio povo por mais de 23 anos, e o governo democraticamente eleito de Volodymyr Zelensky, atacado sem justificativa nenhuma.

    No entanto, nos dois casos membros permanentes do Conselho de Segurança, justamente o órgão encarregado de manter a paz no mundo, ignoraram o próprio colegiado e ajudaram a desmoralizar a ONU.

    Um aspecto interessante merece ser lembrado sobre a Assembleia-Geral de 2003: foi naquele encontro que o então ministro da Cultura, o cantor Gilberto Gil, tocou a música Toda Menina Baiana no próprio plenário – acompanhado no palco por ninguém menos do que o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que tocou percussão sem desafinar.

    A cena de dezenas de diplomatas dançando ao ritmo de Gil foi provavelmente o mais icônico símbolo de soft power já demonstrado pelo Brasil num fórum internacional. É também uma lembrança de que o início dos anos 2000 parecia ser uma época mais otimista, pelo menos no campo das relações internacionais.

    Semelhanças nos discursos de Lula

    A CNN encontrou várias semelhanças e algumas diferenças entre os discursos feitos pelo presidente Lula em 2003 e em 2023.

    Há 20 anos, como hoje, Lula reafirmou “a crença (do Brasil) nas Nações Unidas. Seu papel na promoção da paz e da justiça permanece insubstituível”.

    Nesta terça-feira, ele repetiu essa ideia, lembrando o que disse há 20 anos, e acrescentou: “volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na humanidade”.

    O próprio presidente lembrou que, então, a fome foi “tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás” e acrescentou que o problema “atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã. O mundo está cada vez mais desigual”.

    Em 2003, seu discurso sobre o tema foi: “a fome é uma emergência e como tal deve ser tratada. Sua erradicação é uma tarefa civilizatória, que exige um atalho para o futuro. Vamos agir para acabar com a fome ou imolar nossa credibilidade na omissão? O verdadeiro caminho da paz é o combate sem tréguas à fome e à miséria, numa formidável campanha de solidariedade capaz de unir o planeta ao invés de aprofundar as divisões e o ódio que conflagram os povos e semeiam o terror”.

    Uma das grandes semelhanças se deu em relação à defesa de reformas da ONU. Mas este ano, ele foi mais duro.

    “O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”, afirmou.

    Veja também: Sem reduzir desigualdade, Agenda de 2030 pode ser o maior fracasso da ONU, diz Lula

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