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    Viagem de Biden à Europa pode ter pouco efeito para encerrar a guerra

    Líderes mundiais aliados dos Estados Unidos esperam finalizar e revelar um pacote de novas sanções para punir a Rússia

    Kevin Liptakda CNN

    O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os seus líderes mundiais aliados esperam finalizar e revelar um pacote de novas medidas para punir a Rússia, ajudar a Ucrânia e demonstrar a unidade ocidental em uma série de cúpulas de emergência na Europa esta semana.

    Mas, além de uma dramática demonstração de determinação durante a guerra, poucos observadores acreditam em qualquer coisa que os líderes possam assinar será suficiente para acabar com o derramamento de sangue na Ucrânia ou dissuadir o presidente russo Vladimir Putin de continuar seus ataques que estão, cada vez mais, prejudicando civis.

    Desde que a perspectiva de uma reunião de líderes da Otan foi abordada pela primeira vez, há cerca de duas semanas, autoridades americanas e europeias vêm discutindo possíveis anúncios para os líderes fazerem na conclusão, segundo várias pessoas familiarizadas com os planos.

    Seriam novas rodadas de sanções contra os oligarcas russos, medidas adicionais restringindo as finanças do país e novas medidas para limitar a importação de produtos russos do setor energético. Também estão em andamento discussões sobre quais medidas podem ser reveladas para fornecer mais apoio à Ucrânia, incluindo novos carregamentos de assistência militar ou ajuda financeira para reforçar as defesas do país.

    Além disso, Biden deixou em aberto a opção de ampliar o envio de tropas dos EUA para os membros da Otan ao longo da borda oriental da aliança, reforçando o compromisso americano com a defesa europeia em um momento crítico.

    Mas a dura realidade de que as medidas não devem conter a guerra de Putin vai pairar sobre a visita de Biden a Bruxelas. O presidente participará de uma reunião rápida da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), de uma sessão especial do Conselho Europeu e uma reunião do G7.

    Biden também pode adicionar outra parada na Europa Oriental, potencialmente na Polônia, disseram autoridades. Ele parte de Washington na quarta-feira (23).

    Embora Biden tenha sido bem-sucedido em reunir aliados europeus e asiáticos para um conjunto punitivo de sanções e níveis incomparáveis de assistência militar, ele e seus colegas da Otan já traçaram os limites de seu apoio. Embora todas as partes pareçam apoiar uma resolução diplomática para a crise, autoridades americanas e europeias dizem que os parâmetros de tal acordo permanecem obscuros.

    Isso deixa em aberto como a visita de Biden à Europa – um dos momentos críticos de sua presidência – pode alterar o curso do pior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. E apresenta outro ponto de discussão que os líderes mundiais devem começar a abordar: o que acontece se, ou quando, a Ucrânia não puder mais resistir ao ataque da Rússia?

    “Eles vão ter que ver o que acontece se a Ucrânia cair”, disse o general aposentado do Exército Wesley Clark, ex-comandante supremo aliado da Otan. “Depois de pesarem o problema do que acontece se a Ucrânia cair, eles precisam considerar o que mais pode ser feito para sustentar o país na luta. Sim, há um risco. Há sempre um risco quando se lida com o Sr. Putin”.

    “O líder do mundo”

    Biden foi desafiado publicamente pelo líder da Ucrânia na semana passada a assumir a responsabilidade de pôr fim aos combates. Em um discurso emocionado ao Congresso, no qual pediu uma zona de exclusão aérea e ajuda na aquisição de caças, o presidente Volodymyr Zelensky falou diretamente com Biden, que estava assistindo de sua biblioteca particular no terceiro andar da Casa Branca.

    “Ser o líder do mundo significa ser o líder da paz”, disse Zelensky em inglês. Biden também foi desafiado pelo ex-presidente da Ucrânia Petro Poroshenko a visitar a Ucrânia como um “símbolo de nossa solidariedade” durante sua viagem à Europa nesta semana.

    Falando à Jim Acosta, da CNN, no sábado à tarde, Poroshenko chamou Biden de “meu bom amigo e um grande amigo da Ucrânia”, acrescentando que uma visita de Biden seria “um passo extremamente certo para demonstrar que o mundo Inteiro está junto conosco contra a Rússia”.

    Os apelos pessoais devem ter ressoado em um homem que, durante a campanha presidencial, prometeu restaurar a liderança americana, renovar alianças com os EUA e defender a democracia da onda crescente de autoritarismo.

    Em nenhum lugar esse desafio será mais pertinente do que nas negociações de emergência desta semana, onde os líderes estão olhando para Biden em busca de direção e propósito enquanto a guerra na Ucrânia avança.

    “Ele está desafiando Biden a cumprir suas responsabilidades como líder do Ocidente, líder da comunidade democrática das nações. E ele desafiou a Otan”, pontuou Ian Brzezinski, vice-secretário assistente de defesa para a Europa e a Otan no governo de George W. Bush.

    “Ele [Zelensky] disse que, se a Otan não está à altura desse desafio, temos que pensar em outros arranjos de segurança”, disse Brzezinski. “Que desafio poderoso para a relevância da Otan nos dias de hoje. Isso define o contexto para a reunião de cúpula.”

    Os limites do apoio

    No entanto, quando as cúpulas foram anunciadas na semana passada, alguns diplomatas europeus revelaram preocupação com o que viam como falta de grandes medidas disponíveis para os líderes tomarem na reunião.

    Os principais itens que a Ucrânia quer, como a ajuda da Otan para estabelecer uma zona de exclusão aérea ou fornecer caças da era soviética, parecem por enquanto fora de discussão, já que os EUA e seus parceiros procuram evitar o confronto direto com a Rússia. Ou seja, qualquer anúncio que saia das reuniões
    provavelmente se concentraria mais em aumentar a assistência que já está sendo fornecida, incluindo ajuda militar e financeira, ou aplicar novas sanções à Rússia.

    Autoridades europeias e americanas disseram que as discussões sobre os anúncios e uma declaração conjunta conclusiva estão em andamento, enquanto os países procuram chegar a uma decisão ou conclusão a ser produzida na cúpula.

    “O presidente está ansioso para ver seus colegas cara a cara. Suspeito que eles terão uma série de novas medidas que poderão divulgar e implementar durante essas conversas, mas não vou adiantar com alguns dias de antecedência”, disse o vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jon Finer.

    A materialização de um grande anúncio durante a cúpula pode ajudar a destacar a unidade atual entre os aliados, que autoridades americanas dizem ter surpreendido Putin enquanto seus militares lutam com perdas no terreno.

    “Ele [Putin] calculou mal em relação ao Ocidente. Acho que ele pensou que haveria algumas repreensões, talvez algumas sanções, mas que poderia resistir, continuar e seguir em frente”, disse Marie Yovanovitch, ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia.

    “Em vez disso, ele inspirou o ressurgimento da Otan. E o Ocidente está unido na oposição e tentando fornecer não apenas uma espécie de fortalecimento da Otan e dos países do flanco na fronteira da Ucrânia, mas também no apoio à Ucrânia”.

    A questão chinesa

    As próximas cúpulas também apresentarão a Biden a oportunidade de medir a temperatura de seus colegas em outro assunto: o que fazer se o presidente chinês Xi Jinping decidir fornecer apoio militar ou econômico à Rússia, como Putin solicitou.

    Em uma ligação de 110 minutos com Xi na semana passada, Biden expôs as “implicações e consequências” de seguir em frente com esse apoio, segundo a Casa Branca. Mas punir a China, a segunda maior economia do mundo, seria muito mais complicado do que foi com a Rússia e exigiria a mesma unidade
    com a Europa, que nem sempre concordou com Biden sobre como abordar o governo chinês.

    “É uma cúpula incrivelmente importante, ocorrendo de forma extraordinária em meio a uma crise. É em parte para garantir que nós e nossos aliados estejamos na mesma página, o que é bom. Mas também é muito importante enviar um sinal a Vladimir Putin”, afirmou Kurt Volker, ex-embaixador dos EUA na Otan e enviado especial para a Ucrânia.

    Volker identificou várias mensagens que a aliança deve enviar durante sua cúpula, incluindo o compromisso com a garantia do Artigo 5 de defesa coletiva e deixando claro que o uso de armas nucleares pela Rússia justificaria uma resposta ocidental. Mas ele disse que a Otan também deve deixar claro que a
    Ucrânia, que não é membro da aliança, é uma questão de importância crítica para seus membros.

    “Acho muito importante que a Otan também envie um sinal sobre a Ucrânia, que a sobrevivência da Ucrânia como um estado independente e soberano na Europa é um interesse da Otan”, opinou Volker. “Não queremos dizer o que não fazemos.

    Não queremos ser muito específicos sobre o que faremos. Mas precisamos enviar um sinal a Putin de que não vamos ficar sentados enquanto ele destrói e elimina um país europeu soberano”.

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