Veja quem recebeu ligação da Casa Branca no dia da invasão ao Capitólio dos EUA
CNN soube da ligação no começo do ano e revela pela primeira vez de quem é o telefone celular
Às 16h34 de 6 de janeiro de 2021, um telefone celular registrado a um dos arruaceiros que invadiram o Capitólio dos Estados Unidos recebeu uma chamada de telefone de um número fixo da Casa Branca, de acordo com registros obtidos pela CNN.
A chamada durou apenas nove segundos.
O autor do telefonema permanece misterioso, mas sua existência é notável, já que é a única chamada conhecida feita da Casa Branca para um dos manifestantes durante aquelas horas críticas.
De acordo com os registros, a chamada veio do número (001) 202-456-1414, que é publicamente disponível como telefone da Casa Branca. Tal como muitas empresas, as chamadas efetuadas pela Casa Branca não mostram uma extensão específica, e sim um mesmo e único número.
A chamada foi feita no final da tarde, pouco depois de o ex-presidente Donald Trump publicar uma mensagem de vídeo nas redes sociais, dizendo aos desordeiros no Capitólio: “Vão para casa, nós amamos vocês, vocês são muito especiais”, às 16h17.
Não está claro o que existe de ligação entre a Casa Branca e o desordeiro, incluindo se a chamada foi feita por engano ou se a chamada foi para o correio de voz.
A chamada foi divulgada pela primeira vez por Denver Riggleman em uma entrevista ao programa “60 Minutes”, da rede americana CBS. Riggleman é um ex-deputado republicano que, em abril passado, deixou o seu cargo de consultor técnico para a Comissão de 6 de Janeiro.
A CNN soube da ligação no começo do ano e revela pela primeira vez de quem é o telefone celular.
O aparelho pertencia a um apoiador de Trump de 26 anos do Brooklyn, Nova York, chamado Anton Lunyk, que viajara para Washington na noite anterior ao 6 de Janeiro com dois amigos, Francis Connor e Antonio Ferrigno, de acordo com várias fontes conhecidas da investigação, bem como uma pesquisa de registros públicos.
Os três homens participaram do comício ““Stop the Steal” (“Parem o roubo”) “ na área chamada de Elipse e, em seguida, juntamente com centenas de outros, entraram e protestaram ilegalmente dentro do Capitólio. Indiciados, eles se declararam culpados em abril e foram condenados no início deste mês. Os advogados dos três homens se recusaram a comentar o caso para a CNN.
De acordo com várias fontes familiarizadas com a investigação, Lunyk diz que não se lembra de receber a chamada de nove segundos e afirma que não conhece ninguém que trabalhou na Casa Branca de Trump.
A chamada telefônica não foi mencionada na sentença de Lunyk ou em quaisquer documentos judiciais. Um porta-voz da Procuradoria dos EUA em Washington não quis comentar esse caso.
Sendo assim, qual a importância do telefonema para a investigação sobre o 6 de Janeiro?
Tim Mulvey, porta-voz da Comissão do 6 de Janeiro, disse à CNN que, “em sua função como membro da equipe do Comissão Investigadora, o Sr. Riggleman tinha conhecimento limitado da investigação da comissão. Ele deixou a equipe em abril, antes de nossas audiências e de grande parte de nosso trabalho investigativo mais importante”.
Numa entrevista dada a Jake Tapper no programa “State of the Union” da CNN, o deputado Adam Schiff, membro da Comissão do 6 de Janeiro, também menosprezou os comentários de Riggleman para a CBS e disse que o telefonema não era um fato surpreendente.
“Uma das coisas que deu credibilidade à nossa comissão foi a de que temos tido muito cuidado com o que dizemos, para não exagerar nem minimizar as questões. E, sem a vantagem das informações adicionais que reunimos desde que ele deixou a comissão, há um risco real de ele sugerir coisas”, disse Schiff a Tapper.
Na CNN, a deputada Zoe Lofgren, também membro da comissão, menosprezou o significado da revelação de Riggleman.
“Ele não sabe o que aconteceu depois de abril e tudo aconteceu em nossa investigação”, opinou. “Tudo o que ele conseguiu repassar antes da sua partida da comissão foi feito e não enfraqueceu o trabalho ou levou a uma decisão que sugerisse que havia uma conexão entre um número e um e-mail e uma pessoa. Por isso, seguimos trabalhando com tudo que ele deixou e, olha, não sei o que o Sr. Riggleman está fazendo agora”.
De acordo com uma fonte familiarizada com o trabalho da comissão, os trabalhos continuam investigando a chamada telefônica, mas até agora não conseguiram descobrir quem a faz ou por quê.
Mulvey disse à CNN que, desde a partida de Riggleman, “a Comissão tem seguido todas as pistas e analisado todas as informações que surgiram de seu trabalho. Apresentaremos provas adicionais ao público na nossa próxima audiência na próxima quarta-feira (28), e um relatório exaustivo será publicado até ao final do ano”.
Lunyk, Connor e Ferrigno foram acusados de entrar e permanecer no Capitólio ilegalmente, de entrar violentamente no Capitólio, de conduta desordenada dentro do Capitólio e de desfilar, protestar ou fazer piquetes dentro do Capitólio. Em abril passado, os três se declararam culpados e foram condenados em uma acusação por desfilar, protestar ou fazer piquetes no interior do Capitólio. No dia 15 de setembro, eles foram sentenciados a alguns meses prisão domiciliar, liberdade condicional e multas de pequeno montante.
De acordo com os documentos do tribunal, não há laços conhecidos entre os três homens e grupos organizados que atacaram o Capitólio, como os Oath Keepers e os Proud Boys. Os registros revelam que Lunyk e Connor participaram da marcha “Million MAGA” em Washington em novembro de 2020, mas não há qualquer menção de que os homens estejam ligados a qualquer pessoa que trabalhe na Casa Branca de Trump.
Dez minutos dentro do Capitólio
Embora a chamada telefônica continue a ser um mistério, os registros públicos fornecem muitos detalhes sobre Lunyk, Connor e Ferrigno, incluindo dezenas de páginas de mensagens privadas do Instagram.
Os três homens saíram de Nova York em 5 de janeiro de 2021 por volta das 23h54, de acordo com os radares e pedágios de Nova York que capturaram as placas do Lexus branco registrado em nome de Lunyk.
No dia seguinte, participaram do comício “Stop the Steal” e foram admitidos numa “área reservada na Elipse”, de acordo com documentos do tribunal, de onde assistiram Trump e outros discursarem. Não está claro o que os procuradores quiserem dizer com “área reservada”.
Às 15h08pm, uma câmera de vigilância dentro do Capitólio capturou Lunyk, Connor e Ferrigno entrando no Capitólio pela da porta do Senado. Eles invadiram o escritório do senador Jeff Merkley e foram vistos no fundo de uma transmissão ao vivo sendo gravada por outro arruaceiro, Tim Gionet, personalidade das redes sociais conhecido como “Baked Alaska”.
Num vídeo publicado nas redes sociais, “Lunyk e Ferrigno são vistos rindo e a gravando em seus celulares em segundo plano, à medida que o Baked Alaska finge uma ligação para o Senado da linha fixa do escritório do senador Merkley”, como descrevem os documentos do tribunal.
Alguns minutos mais tarde, às 15h12, Lunyk e seus amigos são vistos andando pelos salões do Capitólio, tirando fotos na cripta e finalmente saindo ao escalar uma janela.
Quase uma hora e meia mais tarde, os registros de telefone mostram a misteriosa chamada de nove segundos de uma linha fixa da Casa Branca. O Lexus branco de Lunyk foi visto de volta à Nova York às 20h28pm, por isso é provável que os homens já estivessem no caminho de volta no momento da chamada.
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Manifestantes invadem o Capitólio, sede do Congresso dos EUA • Foto: Stephanie Keith/Reuters
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Jacob Chansley, o chamado “QAnon Shaman”, foi condenado a 41 meses de prisão • Foto: CNN / Reprodução
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Apoiadores de Donald Trump protestam em frente ao capitólio • Foto: REUTERS/Mike Theiler
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Manifestantes pró-Trump invadem Capitólio • Foto: Leah Millis/Reuters
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Ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 • Shannon Stapleton/Reuters
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Apoiadores de Trump invadem o Capitólio • Foto: Reuters
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Apoiadores de Trump invadiram o Capitólio • Foto: Reprodução/CNN
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Apoiadores se manifestam contra certificação da vitória de Joe Biden no Capitólio, Washington D.C. • Foto: REUTERS/Stephanie Keith
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Policiais em frente ao prédio do Capitólio, nos Estados Unidos • Win McNamee/Getty Images
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Ataque ao Capitólio dos EUA por apoiadores pró-Trump em 6 de janeiro • 06/01/2021REUTERS/Leah Millis
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Partidários de Trump invadem o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 em um esforço para interromper a ratificação da vitória do presidente Joe Biden nas eleições de 2020 • Getty Images
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Jacob Anthony Chansley durante invasão ao Capitólio
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Capitólio dos EUA em Washington • 6/12/2021 REUTERS/Elizabeth Frantz
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Manifestantes pró-Trump invadiram o Capitólio em 6 de dezembro de 2021 para impedir a confirmação da eleição de Joe Biden no Congresso • Evelyn Hockstein/For The Washington Post via Getty Images
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Gás de efeito moral foi usado para tentar conter os manifestantes • Evelyn Hockstein/For The Washington Post via Getty Images
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Policiais foram feridos nas tentativas de barrar a invasão • Michael Robinson Chavez/The Washington Post via Getty Images
“Verdadeiros idiotas”
A sentença proferida pelo advogado de defesa de Lunyk alegou que Lunyk e os seus dois amigos se dirigiram ao Capitólio após terem sido “varridos numa multidão, ludibriados pelo presidente dos Estados Unidos e alimentados com uma dieta constante de desinformação durante meses”.
No entanto, o documento de sentença do governo revela que os três homens começaram a enviar mensagens de texto uns aos outros pouco depois da eleição de novembro de 2020, dizendo que ela fora “roubado e era fraudulenta”. Os procuradores alegam que os três homens “vieram a Washington pelo caos”.
Eles enviaram mensagens que incluíam retórica sexualmente violenta e ameaçadora sobre o ex-vice-presidente Mike Pence, a presidente da Câmara Nancy Pelosi, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez e o ex-governador de Nova York Andrew Cuomo, como provam os registros do tribunal.
“Eu teria dito que ‘o nosso trabalho de ontem não estava completo. O nosso objetivo final era assassinar Pence e Pelosi com brutalidade e, infelizmente, hoje eles ainda estão respirando, então vamos ter de voltar mais fortes e ferozes da próxima vez”, escreveu Connor numa mensagem do Instagram a Ferrigno, Lunyk e outros, no dia 8 de janeiro de 2021.
“Se eles aceitarem meu dinheiro, vou atirar na Pelosi”, disse Lunyk a Connor, Ferrigno e outros em 12 de janeiro de 2021.
“Nós estupramos AOC”, Connor escreveu para Lunyk, Ferrigno e outros em 8 de janeiro de 2021. AOC é como a deputada Ocasio-Cortez é conhecida.
Embora não haja nenhum registro público ligando Lunyk, Connor ou Ferrigno aos Oath Keepers ou aos Proud Boys, eles mencionam os dois grupos nas suas mensagens do Instagram.
Em novembro de 2020, Ferrigno renomeia um dos chats do grupo de Instagram como “The Proud Boys” e depois muda o nome para “The Proud Boys and Friends” em dezembro e, depois, em janeiro, para “The Oath Keepers”.
Durante a leitura de sentença perante o juiz federal de Washington Rudy Contreras, os três homens pediram desculpas por suas atividades em 6 de Janeiro.
“Lamento sinceramente a minha conduta e estou determinado a fazer um melhor juízo”, declarou Lunyk.
O juiz Contreras declarou aos três homens: “Vocês três acabaram de se mostrar como verdadeiros idiotas… Todos em seus vinte anos, todos vivendo em casa, nenhum de vocês está avançando na educação”. Ele concluiu: “vocês poderiam usar uma dose forte de maturidade”.
Qualquer chamada de um telefone fixo da Casa Branca para um celular de uma operadora certamente atrai muita atenção, mas, a menos que Lunyk ou a pessoa que fez a chamada seja divulgada publicamente, o conteúdo da chamada ou a possível importância podem continuar a ser um mistério.
Evan Perez, Shimon Prokupecz, Matt Friedman, Holmes Lybrand e Andrew Millman, da CNN, contribuíram para esta reportagem.