Veja 10 fatos desconhecidos sobre a invasão de TV no Equador por criminosos
CNN conversou com jornalistas do canal, sediado na cidade equatoriana de Guayaquil
Uma semana se passou desde a dramática invasão do canal de televisão TC Televisión, do Equador, durante uma transmissão ao vivo, na última terça (9).
As imagens de trabalhadores no chão do estúdio onde o noticiário era apresentado, ameaçados por homens encapuzados com armas longas e explosivos, repercutiram em todo o mundo.
A CNN conversou com jornalistas do canal, sediado na cidade equatoriana de Guayaquil, e traz dez fatos que ajudam a explicar o horror vivido pela equipe que foi feita de refém dos criminosos.
1: O jornalista que aparece diante das câmeras não é apresentador do jornal
José Luis Calderón, o jornalista que aparece com as mãos juntas em modo de súplica, enquanto tem uma arma longa apontada contra o pescoço e uma dinamite colocada no bolso do paletó, diante das câmeras, é repórter há mais de 20 anos da TC Televisión.
No momento do ataque ao canal, os apresentadores do noticiário que estava no ar, Jorge Rendón e Vanessa Filella, foram avisados pelo ponto de que havia uma situação irregular na emissora, com homens armados que estavam roubando os trabalhadores.
Quando ouviram a ameaça dos criminosos atrás da porta mencionando seus nomes, eles conseguiram se esconder com a ajuda dos cinegrafistas do programa.
Já Calderón estava na redação no momento da invasão, e conta que por um instinto de sobrevivência se escondeu no banheiro com duas colegas.
Após cerca de 10 minutos, o trio foi descoberto por um grupo de seis criminosos fortemente armados.
“Sob ameaças, eles nos levaram até o estúdio, onde o sinal estava fixo, que era de onde se transmitem os noticiários”, lembra ele, que foi reconhecido por um dos criminosos.
Foi quando pediram que ele se levantasse do chão para passar uma mensagem e uma arma longa foi apontada para o seu pescoço.
2: Essa foi a 3ª vez em que este jornalista esteve na mira de uma arma ao vivo
Antes do episódio dentro do estúdio, Calderón já tinha sido assaltado duas vezes durante transmissões ao vivo como repórter.
Na primeira vez, conta ele, o roubo a mão armada aconteceu quando a câmera estava filmando imagens da rua e a fuga dos indivíduos acabou registrada.
Na segunda, o delinquente apontou uma arma contra ele ao vivo.
“Tive dois assaltos e roubos a mão armada e tive ideia da gravidade dos riscos que enfrentamos como jornalistas. Mas isso era na rua, nunca íamos imaginar que no nosso reduto sofreríamos um atentado contra nossa integridade física e emocional”, conta à CNN.
3: Um dos sequestradores se camuflou entre os reféns
Com a iminente invasão da polícia, que disparou contra a porta do canal, reféns e sequestradores se dispersaram. Alguns dos criminosos se esconderam e outros se renderam.
Quando o grupo de reféns finalmente conseguiu sair da TV com ajuda da polícia e os trabalhadores do canal começaram a se identificar, descobriram que um dos criminosos tinha se camuflado entre eles.
“Ele tinha roubado roupas da área de figurino e quando começou uma contabilização, ele saiu correndo, para a surpresa de todos”, lembra Calderón, contando que o homem foi perseguido por policiais e militares.
4: Um cinegrafista acabou ferido por um disparo
O sequestro começou a se desarticular quando a polícia disparou contra as portas do estúdio.
“Tiros foram escutados do lado de fora, com a polícia tentando entrar nessa sala hermética”, conta Calderón, explicando que seus companheiros gritavam para que a polícia não atirasse, porque os sequestradores também começaram a disparar.
Nenhum tiro foi dado pelos criminosos na direção dos reféns, mas uma das balas disparadas por eles contra a porta ricocheteou e atingiu a perna de um cinegrafista, que acabou internado, mas já está fora de perigo.
O ataque deixou um rastro da destruição nas estruturas da emissora.
“Por dentro, encontramos o canal destruído, com as portas e telões do estúdio de TV quebrados, caídos no chão. Além dos impactos de balas nas portas e nas paredes”, conta o jornalista Leonardo Flores, repórter do canal TC Televisión.
5: Um homem dava instruções à distância para os criminosos
Um dos sequestradores do canal realizava, durante a invasão, uma ligação por vídeo com um homem encapuzado.
“Obrigaram a que eu falasse com ele”, diz Calderón, contando que ouviu do homem, que parecia ser mais velho, “palavras grosseiras e insultos”.
“Ele me pedia para passar uma mensagem, mas nunca me disse o que queria que eu dissesse. A comunicação foi interrompida pelo caos e foi nesse momento em que colocaram a boca de uma arma longa no meu pescoço e uma dinamite no meu paletó”, lembra.
Segundo o repórter, a única mensagem clara que pode entender que os sequestradores lhe pediam era para que a polícia não entrasse, senão todos seriam mortos.
“Adotei uma postura de calma, com as mãos à vista para verem que não era uma ameaça e perguntando o que queriam que eu dissesse”, conta ele.
Ele relata que chegou a dizer para o interlocutor da ligação de que o sequestradores não o deixavam transmitir mensagem alguma, porque “brincavam” diante da câmera.
Os criminosos “faziam gestos, demonstrações de emoção, de força, de superioridade”, lembra.
6: Uma das reféns estava em sua primeira semana de trabalho
Uma das jornalistas que se esconderam no banheiro com Calderón estava em sua primeira semana de trabalho na empresa.
“É uma menina muito jovem, e tanto ela como a jornalista experiente que estava conosco estavam muito assustadas”.
No tempo em que conseguiram se esconder, o repórter e as duas jornalistas conseguiram mandar mensagens para familiares e chamar equipes de resgate e salvamento para o canal.
Mas o grupo acabou sendo descoberto e levado, sob a mira de armas e agressões, para o estúdio onde os criminosos reuniram os reféns.
7: Explosivos foram deixados na recepção e em carros no estacionamento
Ao entrar no canal, os criminosos deixaram explosivos na recepção e em carros que estavam no estacionamento.
O relato é de Flores, que conta ter ido para uma emissora em um edifício ao lado 5 minutos antes do ataque dos homens armados.
“Por isso o canal teve que ficar fechado 48 horas, para que tudo isso fosse retirado”, explica ele, sobre o período em que o complexo passou por perícias.
Os criminosos também levaram os explosivos para dentro do estúdio e os utilizaram para ameaçar os reféns, em diversas ocasiões.
8: Trabalhadores foram ajudados por pedreiros de construção vizinha
Flores estava no canal Gama, localizado em um edifício ao lado da emissora TC Televisón. Ele conta que, no momento do ataque, bailarinas e coreografistas estavam ensaiando para um programa que seria transmitido no fim do dia.
Ao escutarem os gritos vindos do edifício vizinho, todos se esconderam, deixaram o celular no modo sem som, até que finalmente fugiram para o pátio.
A maneira que ele e um colega encontraram de escapar sem serem descobertos foi com a ajuda de pedreiros que trabalhavam em uma construção ao lado.
“Eles nos chamaram e nos ajudaram a sair”, diz Flores, que aparece em um vídeo que registrou como alguns trabalhadores escaparam da emissora, após pedreiros arrancarem tapumes de madeira de uma construção.
9: Jornalistas sofreram agressões sexuais durante invasão
No trajeto do banheiro ao estúdio, após serem descobertas no banheiro, as duas jornalistas que estavam com Calderón foram vítimas de agressões sexuais por parte dos criminosos.
Ele conta que os homens passavam a mão pelo corpo das jornalistas e roubaram correntes e outros objetos de valor das trabalhadoras.
Já Flores relata que ambas estão “destroçadas”.
“Tocaram nas partes íntimas delas. Essa foi a situação que mais doeu em nós, trabalhadores do canal. Foi muito triste, lamentável”, conclui.
10: Presidente equatoriano criticou transmissão do ataque por outro canal
O presidente Daniel Noboa criticou que o canal Teleamazonas tenha transmitido ao vivo o sinal do canal TC Televisión durante o ataque.
“Nós cortamos o sinal, mas, magicamente, e isso eu gostaria que fosse investigado, a Teleamazonas estava transmitindo o sinal [da TC]. Por que querem espetacularizar, por que transmitem ao vivo, pegando o sinal da TC?”, questionou.
O chefe de Estado equatoriano também insinuou que a transmissão por parte de outra emissora poderia ajudar no propósito dos criminosos. E afirmou que a polícia decidiu manter a transmissão da TC por um tempo antes de derrubá-la.
O canal criticado pelo presidente respondeu, por meio de seu apresentador, que “cumpriu com seu dever profissional de transmitir os fatos com a honestidade e responsabilidade de sempre” e questionou a decisão de investigação da emissora.
“Por que uma investigação? Talvez por informar um fato grave para o nosso país? Tão grave que imediatamente o governo declarou uma situação de guerra interna”, disse.
“A Teleamazonas não amplifica a mensagem das máfias que pretendem infundir terror na população. É necessário perguntar às autoridades: quando vão melhorar os serviços de inteligência para evitar episódios como este? O governo é responsável através da força pública, que é proteger os cidadãos. Nós cumprimos com nossa parte que é informar com responsabilidade”, questionou o apresentador.
A emissora também ressaltou que enviou repórteres para a TC Televisión, para que acompanhassem o trabalho da Polícia Nacional para controlar a situação e resgatar os trabalhadores, “expondo sua própria segurança para informar o país”.