“Tudo está inundando”: colapso da barragem na Ucrânia leva perigo a Kherson
Centenas de pessoas foram evacuadas; operações de resgate continuam mesmo em meio ao som de bombardeios
Nadejda Chernishova dá um suspiro de alívio ao descer de um bote de borracha, momentos depois de ser resgatada de sua casa inundada em Kherson.
“Não estou com medo agora, mas foi assustador em minha casa. Você não sabe para onde a água está indo, e ela vem de todos os lados”, disse a aposentada de 65 anos.
Sua casa em um dos distritos mais baixos de Kherson foi inundada depois que a barragem de Nova Kakhovka, 58 quilômetros acima do rio Dnipro, na Ucrânia ocupada pela Rússia, foi destruída na terça-feira (6).
“[A água] subiu em um instante. De manhã não havia nada”, acrescentou ela.
Chernishova deixou a maior parte de seu pequeno mundo para trás, levando apenas o que conseguiu reunir: duas malas e seu bem mais precioso.
“Esta é minha gata Sonechka, uma beleza”, disse, levantando a tampa de uma pequena caixa de transporte e revelando um animal assustado. “Ela está com medo, ela é uma gata doméstica que nunca saiu de casa”, ponderou.
A aposentada é uma das centenas de pessoas evacuadas pelas autoridades ucranianas em Kherson, onde a água se espalhou por vários quarteirões e chegou ao centro da cidade, isolando totalmente algumas áreas.
“Os civis estão sendo evacuados do distrito de Karobel. Mais de 1.200 pessoas já foram evacuadas desta área [na terça-feira]”, informou o chefe da administração militar da região de Kherson, Oleksandr Prokudin, à CNN no local.
Prokudin, que supervisiona os esforços de resgate em vilas e cidades a jusante de Nova Kakhovka, ressaltou que a operação se tornou mais difícil com o tempo, pois a água da enchente continua subindo.
“Se de manhã podíamos fazer com carros, depois com caminhões, agora vemos que carros grandes não podem mais passar. A água subiu tanto que agora usamos barcos. Cerca de oito barcos de vários tipos estão atualmente trabalhando para evacuar as pessoas da área”, explicou.
A CNN testemunhou a velocidade com que a água continuou subindo, avançando um quarteirão na cidade em menos de uma hora. O fluxo de água aumenta visivelmente a olho nu.
A operação de busca e resgate em Kherson continua em pleno andamento nesta quarta-feira (7).
A CNN viu autoridades e voluntários usando barcos de madeira e botes de borracha para evacuar pessoas – e um grande número de cães e gatos – que ficaram presos enquanto o nível da água continuava subindo durante a noite.
Eles trabalharam incansavelmente desde que a cidade começou a inundar e agora, exaustos e sobrecarregados, são uma faceta dessa tragédia.
As pessoas que desciam dos barcos ficaram visivelmente abaladas com a provação, algumas caindo no choro quando finalmente chegaram à terra firme. Os animais também pareciam angustiados, constantemente uivando e miando enquanto as operações aconteciam.
Várias áreas que eram acessíveis a pé na terça-feira ficaram submersas, com alguns locais inundados até quatro metros de profundidade. Há, no entanto, uma sensação das autoridades de que os níveis de água, embora ainda estejam subindo, agora estão em um ritmo mais lento.
Além disso, a guerra está sempre presente, e Kherson continua sendo uma cidade da linha de frente.
A artilharia enviada e recebida, incluindo foguetes e morteiros, podia ser ouvida a cada hora durante o dia de terça-feira e depois durante a noite até a manhã de quarta-feira.
Mesmo assim, o governo ucraniano prometeu que os conflitos não afetariam as operações de busca e resgate.
“Temos que continuar mesmo que o bombardeio esteja em andamento, como você pode ouvir. Nosso pessoal tem o equipamento de proteção necessário”, destacou o ministro interino do Interior, Ihor Klymenko, a jornalistas no local, enquanto a artilharia disparava à distância.
“Aqui é sempre muito perigoso. Este posto de controle geralmente está sob bombardeio. Você vê uma multidão de pessoas e acho que o golpe acontecerá em breve”, acrescentou Produkin.
Kiev e Moscou trocaram acusações sobre a destruição da barragem, mas nenhum dos lados forneceu provas concretas de que o outro é culpado.
Mas enquanto a responsabilidade pelo incidente permanece tão obscura quanto as águas cheias de detritos que agora correm pelo Dnipro, seu impacto é muito mais claro.
Antes do colapso da barragem, uma potencial ofensiva ucraniana através do Dnipro para o lado do rio controlado pelos russos era improvável devido à dificuldade de cruzar o rio. Isso parece quase impossível agora.
Ambos os lados foram severamente afetados pelo colapso – ainda mais no lado russo – deixando o terreno em condições muito difíceis.
E enquanto ela coloca seus pertences em um carro, Chernishova é perfeitamente clara sobre quem ela culpa – mesmo que a Rússia negue.
Os russos “nos inundaram”, disse ela. “Tudo está se afogando.”