TSE de El Salvador interrompe contagem de votos com vitória de Bukele praticamente garantida
Com a totalização dos resultados parada desde a noite de domingo (4) em cerca de 31%, a Justiça eleitoral solicitou aos conselhos eleitorais de todo o país que registrem manualmente os resultados da votação


O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) de El Salvador interrompeu a contagem eletrônica de votos nas eleições que praticamente já estão ganhas pelo atual presidente Nayib Bukele.
Com a totalização dos resultados parada desde a noite de domingo (4) em cerca de 31%, a Justiça eleitoral solicitou aos conselhos eleitorais de todo o país que registrem manualmente os resultados da votação.
O tribunal disse que tomou a decisão com base no código eleitoral do país após ações que “dificultaram” a transmissão dos resultados preliminares e “outros fatores fora do controle do TSE”, sem dar mais detalhes.
As juntas eleitorais terão agora de reportar manualmente os registros de votação, e tanto os funcionários eleitorais como os representantes dos partidos recolherão “evidências fotográficas ou digitalizadas” dos registros antes de os enviarem ao tribunal.
A decisão do tribunal poderá atrasar significativamente o que já foi considerado uma vitória esmagadora de Nayib Bukele, que obteve quase 1,3 milhões de votos – bem à frente do candidato em segundo lugar, que tem cerca de 110 mil – de acordo com a última atualização eletrônica antes da contagem estagnar.
Bukele se declarou vencedor da disputa eleitoral em um comunicado divulgado no domingo à noite, que depois reiterou diante de uma multidão de apoiadores, dizendo que venceu as eleições com a maior porcentagem da história.
Bukele a caminho da reeleição
O candidato Nayib Bukele (que solicitou uma licença da presidência) deve ganhar facilmente um segundo mandato em meio a uma mudança dramática nos níveis de violência do país.
Na madrugada desta segunda-feira, a contagem oficial deu a Bukele uma ampla vantagem, com quase 1,3 milhão de votos.
O candidato seguinte na votação é Manuel Floren da FMLN, que tem cerca de 110 mil votos e os restantes candidatos não ultrapassam os 100 mil votos.

O político de 42 anos enfrentou pouca oposição organizada e goza de um dos índices de apoio mais elevados da região, pontuando regularmente mais de 70% em pesquisas independentes.
Os seus apoiadores apregoam uma repressão às gangues criminosas no país, que resultou numa queda dramática na taxa de homicídios, que já foi a mais alta do mundo.
Mas as prisões em massa (El Salvador tem agora a maior taxa de encarceramento do mundo) também levaram a protestos de grupos de direitos humanos, que alegam que o governo de Bukele deteve pessoas inocentes e sujeitou prisioneiros a condições desumanas atrás das grades, incluindo tortura.
A dissonância elevou as eleições neste pequeno estado latino-americano a um referendo mais amplo sobre até que ponto os eleitores estão dispostos a abdicar das liberdades básicas em troca de relativa paz e segurança.
“Eu sei que não é perfeito, talvez dos mil que prenderam, cem eram inocentes”, disse Jackelyne Zelaya, cuja sobrinha era uma espectadora morta num tiroteio de gangue em 2017, à CNN no início desta semana.
“Aí eu olho para os meus filhos, tenho dois, de 16 e 23 anos, e vê-los poder sair à noite, ir jogar bola na estrada com os amigos sem medo de serem mortos ou recrutados para algo ruim, isso não tem preço”, completou.

A expectativa é que os resultados sejam divulgados ainda nesta segunda-feira.
Falando neste domingo pouco antes do fechamento das urnas, Bukele defendeu a repressão, comparando as prisões em massa à quimioterapia que eliminou o “câncer das gangues”.
“El Salvador teve um câncer metastático porque estava em todas as partes do país, em todas as áreas”, disse, afirmando que 85% do território era controlado por gangues.
“El Salvador teve metástases, mas fizemos cirurgia, quimioterapia, estamos fazendo radioterapia e vamos acabar saudáveis, sem o câncer das gangues”, completou.
“Nossa polícia cometeu alguns erros? Claro que sim”, acrescentou. Mas insistiu que o sistema judicial de El Salvador conseguiu a libertação de milhares de pessoas que foram detidas injustamente.
Uma vitória desigual de Bukele provavelmente daria ao jovem líder mais espaço de manobra para reformar El Salvador de acordo com a sua visão com mão de ferro.
Bukele não se esquivou de comparações com autocratas (ele mesmo já colocou na sua biografia no Twitter: “o ditador mais legal do mundo”) e o seu governo disse que estão “eliminando” a democracia no país.
A capacidade de Bukele de concorrer a um segundo mandato é um exemplo claro disso.
Como a constituição de El Salvador proíbe os presidentes de tentarem a reeleição, em 2021, o Congresso do país substituiu os principais juízes do Supremo Tribunal por uma nova classe disposta a conceder-lhe a força.
Os líderes da região estão prestando muita atenção.
O chamado “método Bukele” rapidamente se tornou a atual política de segurança latino-americana, com os presidentes de Honduras e Equador abrindo caminho a prisões em massa nos seus próprios países para interromper a espiral de violência de gangues.
Em pelo menos 13 países latino-americanos, a maioria da população “não se importaria que um governo antidemocrático chegasse ao poder se resolvesse os problemas”, de acordo com uma pesquisa de 2023 do Latinobarómetro.