Trump foi ‘kamikaze’ e Biden poderia ter sido ‘mais assertivo’, diz professor
Para o pesquisador do INCT-INEU Felipe Loureiro, Trump quis 'atrapalhar e colocar Biden em situação de nervosismo'
O professor Felipe Loureiro, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre Estados Unidos (INCT-INEU), analisou para a CNN, nesta quarta-feira (30), o primeiro debate presidencial entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden. O evento foi transmitido pela CNN Brasil – veja aqui a íntegra.
Para o professor, Trump usou uma estratégia que ele classificou como “kamikaze e suicida”, enquanto Biden perdeu oportunidades de confrontar o opositor e ser mais assertivo.
“De uma certa maneira, houve momentos em que Biden poderia ter sido mais assertivo, como na questão do imposto de renda do Trump. Ele tinha um trunfo e não fez”, exemplificou Loureiro. “Com relação à pandemia, Biden foi bem em alguns momentos, mas deixou de questionar Trump no que, claramente, é um dos pontos fracos da administração dele”, acrescentou.
Em relação ao comportamento de Trump, o especialista em Estados Unidos defendeu que o presidente não pretendia debater, de fato.
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“É difícil até dizer se tivemos um debate. Tivemos um candidato que tentava, minimamente, responder às perguntas do moderador e do outro candidato, e o presidente Trump interrompendo a todo momento, fazendo provocações e trazendo várias desinformações, dificultando que a coisa andasse de forma civilizada. Se tiver sido uma estratégia [de Trump], foi estratégia kamikaze”, analisou.
Loureiro justificou a classificação explicando que a eleição atual é “atípica”. “Isso porque presidentes nos EUA, durante o final do primeiro mandato, tem muitas possibilidades de se reeleger – e, historicamente, conseguem. São exceções os casos que não conseguem”, disse.
“Trump chega nesse contexto eleitoral com os números muito ruins nos estados-pêndulo e no nacional. Então, precisava, neste debate, tentar convencer os poucos eleitores norte-americanos que ainda estão indecisos a votarem nele ao invés do Biden, ou simplesmente a ficar em casa. Mas absolutamente não foi o que ele fez”, acrescentou.
Para Loureiro, Trump quis “atrapalhar e colocar Biden em situação de nervosismo”. “Claramente tirar Biden do controle era uma estratégia”, considerou. “E Biden, inclusive, em alguns momentos saiu do controle – chamando Trump de palhaço e dizendo que ele deveria calar a boca, mas, no geral, conseguiu manter a compostura. Mas se tiver sido estratégia, foi suicida”, frisou.
Para o professor e pesquisador, apesar da tentativa de desestabilização protagonizada por Trump, Biden teve um bom desempenho no geral. “Ele se saiu muito melhor do que poderia ter saído em um debate muito difícil com um candidato que não estava ali para debater, mas desestabilizar, questionar e colocar desinformação a todo momento”, afirmou.
“Apesar de ter perdido algumas oportunidades, Biden foi bem no geral e conseguiu manter a compostura e o mínimo de civilidade – se é que é possível usar essa palavra em um debate que não foi um debate”, destacou.
Repercussão
O encontro presencial trouxe a repetição de ataques mútuos que têm marcado a campanha e diversos momentos de hostilidade. Em um dos episódios de maior tensão, Joe Biden, seguidamente interrompido pelo republicano, chegou a pedir que “calasse a boca”.
Em um levantamento exclusivo, a CNN americana mostrou quanto tempo cada candidato falou ao longo da noite. E houve quase um empate: Donald Trump teve a palavra por exatos 39min06s, enquanto Joe Biden se manifestou por 37min56s.
Em pesquisa pós-debate, com participação de 568 espectadores ouvidos pela CNN americana, 60% consideram que Biden foi o vencedor do debate, enquanto 28% opinaram que Trump foi superior.
No próximo dia 7, os candidatos a vice-presidente Kamala Harris e Mike Pence participam de um novo debate. Trump e Biden voltam a se encontrar presencialmente no dia 15.