Tratamento de detido em Guantánamo ‘afronta valores americanos’, diz painel militar
Em carta obtida pela CNN, grupo pede clemência para Majid Shoukat Khan – um dos 39 detidos que permanece na prisão militar


Um painel militar dos EUA pediu clemência no caso contra um detido de Guantánamo, dizendo em uma carta obtida pela CNN que o tratamento que o detido recebeu enquanto estava sob custódia nas últimas duas décadas é “uma afronta aos valores americanos e ao conceito de justiça.”
O New York Times foi o primeiro a noticiar a carta. Majid Shoukat Khan é um dos 39 detidos que ainda permanece na prisão militar na Baía de Guantánamo, Cuba.
Capturado no Paquistão em 2003, ele foi mantido por mais de três anos em prisões secretas da CIA conhecidas em inglês como black sites. Os advogados de Khan disseram que ele sofre “graves traumas físicos e psicológicos dos quais é improvável que se recupere totalmente” como resultado da tortura.
Khan, um paquistanês que cursou o ensino médio em Baltimore, Maryland, foi detido pelo governo dos Estados Unidos sem ser acusado de nenhum crime até 2012.
Ele se confessou culpado em 2012, como parte de um acordo que exigia que testemunhasse contra outros detidos. Depois de ser condenado, não recebeu a sentença final até outubro de 2021, dizia a carta do painel.
“Embora designado como um ‘inimigo estrangeiro sem privilégios beligerante’, tecnicamente sem os direitos dos cidadãos americanos, o completo desrespeito aos conceitos fundamentais sobre os quais a Constituição foi fundada é uma afronta aos valores americanos e aos conceitos de justiça”, afirmou o documento.
Os membros do painel também pediram clemência devido à extensão das torturas sofridas por Khan enquanto estava sob custódia do governo dos Estados Unidos.
“O Sr. Khan sofreu abusos físicos e psicológicos muito além das técnicas de interrogatório aprimoradas aprovadas, algo mais próximo da tortura praticada pelos regimes mais abusivos da história moderna”, disse a carta. “É uma mancha na fibra moral da América.”

“O tratamento dispensado ao Sr. Khan por funcionários dos Estados Unidos deveria ser uma fonte de vergonha para o governo”, acrescentou o documento.
Na semana passada, Khan fez um relato da tortura que sofreu enquanto estava sob custódia dos Estados Unidos – foi a primeira vez que um detido que foi torturado no programa de técnicas de interrogatório aprimoradas da CIA o fez em público.
O New York Times foi o primeiro a noticiar o depoimento de Khan diante do juiz militar e do júri militar no tribunal de guerra na Baía de Guantánamo.
Os EUA acusaram Khan de ajudar a Al Qaeda a planejar ataques nos Estados Unidos e em outros lugares e de conspirar com Khalid Sheikh Mohammed, acusado de ser o mentor por trás dos ataques terroristas de 11 de setembro.
Os EUA também acusaram Khan de dar US$ 50.000 em fundos da Al Qaeda para uma afiliada do grupo no sudeste da Ásia, que então deu o dinheiro ao Jemaah Islamiyah para financiar o atentado a bomba em agosto de 2003 ao JW Marriott Hotel em Jacarta, na Indonésia.
(Texto traduzido; leia o original em inglês)