Suspeito de atacar premiê eslovaco não mostrava sinais de extremismo
Robert Fico, de 59 anos, foi baleado na pequena cidade de Handlova, na região central da Eslováquia, e passou por uma cirurgia que durou hora
Um ex-segurança de 71 anos, acusado nesta quinta-feira (16) pela tentativa de assassinato do primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, é autor de três coleções de poesia e, segundo os vizinhos, não demonstrava sinal algum de extremismo político.
Fico, de 59 anos, foi baleado na pequena cidade de Handlova, na região central da Eslováquia, e passou por uma cirurgia que durou horas. Um funcionário do hospital disse que o estado do primeiro-ministro é “muito grave”, mas estável.
Preso no local, o suspeito não foi identificado pelas autoridades, mas detalhes esparsos sobre ele começam a surgir enquanto o país luta para entender o ataque.
Um vizinho do modesto prédio de sete andares em Levice, cidade de cerca de 36.500 habitantes ao sul de Handlova, onde o suspeito mora, disse que conhecia o homem há 40 anos e que ele nunca havia manifestado opiniões políticas extremas.
“Ele era um homem educado e não era muito forte em relação à política tanto assim, mas achava que algumas das medidas do governo não estavam corretas”, disse o aposentado Mile Ludovit, 68 anos, à Reuters por meio de um intérprete.
“Alguns relatos da mídia dizem que ele estava planejando isso há um mês, mas não havia sinal disso.”
O suspeito era um ex-segurança de um shopping center, autor de três coleções de poesia e membro da Sociedade Eslovaca de Escritores, informou a mídia local.
A agência de notícias Aktuality.sk publicou declarações do filho do suspeito dizendo que o pai era detentor legal de uma licença de porte de arma.
“Não tenho a menor ideia do que meu pai pretendia, do que planejou e do que aconteceu”, disse.
O filho disse que tudo o que podia dizer sobre as opiniões do pai a respeito de Fico era que ele não havia votado nele e que seu pai não era um paciente psiquiátrico.
Um membro do Rainbow Literary Club em Levice disse à Reuters que o suspeito foi um de seus fundadores. Em um comunicado, o clube condenou o ataque e disse que, como um grupo estritamente apolítico, havia revogado sua associação com efeito imediato.
Peter Klinko, membro do clube, disse à Reuters que esteve com o suspeito pela última vez há cerca de dois anos.
“Se eu tivesse que descrevê-lo, poderia dizer em uma palavra que ele é uma boa pessoa”, disse ele.
“Mas mesmo um bom jarro carrega água somente até quebrar. Não posso lhe dizer nada sobre seus últimos processos de pensamento.”
Conflitos políticos
Monika Nemcekova, editora de uma revista em Levice e membro do mesmo clube literário, disse que a poesia do suspeito às vezes tratava de temas difíceis, como atitudes em relação à minoria cigana.
Em um vídeo sem data publicado no Facebook, o suspeito foi visto dizendo: “Eu não concordo com a política do governo”.
A Reuters verificou que a pessoa no vídeo correspondia às imagens do homem preso após o ataque a tiros envolvendo Fico.
A Reuters conseguiu confirmar que a pessoa vista na filmagem da TV eslovaca TA3 de um protesto contra o partido governista em 24 de abril correspondia ao homem preso pelo ataque a Fico com base no tipo de corpo, características faciais e cabelo.
O suspeito apareceu duas vezes em fotos, verificadas pela Reuters, na página do Facebook de um grupo paramilitar que a mídia descreveu como extinto em 2016, mas um homem associado ao grupo disse à Reuters que o suspeito não era membro e que só o encontrou brevemente uma vez.
Embora os motivos do atirador permaneçam obscuros, o ataque ocorreu em um cenário de conflitos políticos ferozes e debates polarizados na Eslováquia, que se intensificaram ainda mais no período que antecedeu uma eleição presidencial muito disputada no mês passado.
“Essa tentativa de assassinato teve motivação política e a decisão do autor do crime nasceu logo após a eleição presidencial”, disse o ministro do Interior, Matus Sutaj Estok.
Ele descreveu o suspeito como um “lobo solitário” que havia se radicalizado.
Um aliado de Fico venceu as eleições, o que o ajudou a manter o controle do poder. Desde que retornou ao cargo de primeiro-ministro, em outubro passado, mudou rapidamente sua política, movimento considerado uma tomada de poder pela oposição.
O governo de Fico reduziu o apoio à Ucrânia e abriu o diálogo com Moscou, ao mesmo tempo em que procurou enfraquecer as punições para a corrupção e desmantelar um escritório especial de promotoria.
Há muito tempo crítico da mídia tradicional da Eslováquia, Fico também reestruturou a emissora pública em um movimento visto pelos oponentes como uma restrição à liberdade de mídia.
Fico foi forçado a renunciar ao cargo de primeiro-ministro em meio a protestos em massa em 2018, desencadeados pelo assassinato encomendado de Jan Kuciak, jornalista que investigava a corrupção de alto nível.