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    ‘Surpresa de outubro’, Covid-19 de Trump muda dinâmica da reta final da eleição

    Por enquanto, a maior mudança que a infecção impôs a Trump foi a suspensão da campanha, determinada à força pela necessidade de quarentena

    Luiz Raatz, da CNN, em São Paulo

    Analistas políticos nos Estados Unidos dizem que as eleições americanas costumam ter uma “surpresa de outubro”. Assim são chamados notícias ou eventos políticos na reta final da eleição que muitas vezes alteram o curso da disputa.

    No começo desta semana, quando o “New York Times” publicou detalhes da vida fiscal do presidente Donald Trump às vésperas do primeiro debate eleitoral, esperava-se que a supresa de outubro envolveria o fato de o republicano não ter pago imposto de renda em 10 dos últimos 15 anos. Até que veio a internação hospitalar do presidente, infectado com o novo coronavírus, nesta sexta-feira(2). 

    Nate Silver, estatístico americano notório tanto por acertar a eleição de Barack Obama no colégio eleitoral em 2008 quanto por errar na vitória de Trump quatro ano atrás, desta vez foi cauteloso. “Não sei o que dizer”, escreveu no Twitter. 

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    O tamanho real do impacto do diagnóstico e da internação hospitalar de Trump na corrida ainda é incerto. Mas “surpresas de outubro” não são incomuns na história das eleições americanas.

    Muitos democratas acreditam que, a decisão do então diretor do FBI, James Comey, de investigar a candidata democrata Hillary Clinton pelo uso de um servidor privado de e-mails quando ela era secretária de Estado a poucos dias da eleição poderia ter ajudado Trump.

    Dias antes, o WikiLeaks havia divulgado milhares de e-mails do chefe de campanha de Hillary, com detalhes da campanha primária do partido e encontros entre Hillarys e doadores do mercado financeiro. Essa foi a última “surpresa de outubro” e, dias depois, Trump se tornaria presidente após conseguir o apoio do eleitorado branco de baixa renda de Estados como Pensilvânia e Michigan, que lhe garantiram a vitória no colégio eleitoral, apesar da derrota no voto popular. 

    Em 1972, Richard Nixon contou com o anúncio de seu assessor de segurança nacional,Henry Kissinger, de que um acordo de paz com o Vietnã do Norte estava próximo, para pôr fim à guerra. Ele venceu o democrata George McGovern com ampla vantagem, tanto no voto popular quanto no colégio eleitoral. A guerra, no entanto só acabaria em 1973. 

    Houve também quem conseguisse segurar a vantagem nas pesquisas, apesar da “surpresa de outubro”. Foi o caso de George W. Bush, em 2000, contra o democrata Al Gore, quando veio a público uma notícia sobre sua prisão por dirigir embrigado em 1976. O republicano, na época, foi a público reconhecer o episódio. Ele foi derrotado no voto popular, mas ganhou no colégio eleitoral graças à renhida disputa na Flórida, que contou até mesmo com uma recontagem de votos. 

    Campanha interrompida nos estados-chave

    A suspensão da campanha de Trump imposta pela internação do presidente em um hospital militar em Maryland afetará severamente a disputa eleitoral. Nas próximas duas semanas, o republicano terá de se afastar do terreno onde está mais à vontade: os comícios nos estados-chave onde atrai seu público mais fiel. Provavelmente, o debate de 15 de outubro também pode ser suspenso ou pelo menos adiado.

    É incerto até mesmo o quanto terá de se afastar de seu meio de comunicão mais valioso:o Twitter, onde o presidente angariou milhões de seguidores. Resta saber o quanto isso impactará na mobilização da base republicana, principalmente nos estados-chave.

    A nível nacional, Biden lidera com certa folga, com uma vantagem média nas pesquisas que varia entre 7 e 8 pontos porcentuais para Trump. O democrata está na frente também em alguns estados que podem lhe dar a vitória no colégio eleitoral, entre eles Michigan, Wisconsin e Arizona. 

    Na última projeção da CNN, Biden tem, segundo as pesquisas 269 delegados garantidos no colégio eleitoral. Se as eleições fossem hoje, ele precisaria apenas de mais um para se tornar presidente. Trump teria 160. 100 delegados estariam indefinidos, em estados-chave como Ohio, Pensilvânia, Flórida, Carolina do Norte e Geórgia.  

    Se nesses estados, a militância republicana desanimar sem a presença física do presidente, principalmente nos condados do interior, que tendem a votar nele,  Biden tem um caminho. Caso a doença sirva para mobilizar a base do presidente, ainda que ele não consiga estar presencialmente na campanha, o pêndulo pode se mover para o outro lado. 

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