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    Surgem mais pedras republicanas no caminho de Trump

    Ron DeSantis surge como o mais forte adversário para as primárias que definirão qual será o candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, mas outros nomes chegam aos holofotes

    Fábio Mendesda CNN

    Se o caminho de Joe Biden está totalmente livre, dentro do Partido Democrata, para a candidatura à presidência dos Estados Unidos, no Partido Repúblicano a rota está mais para um percurso off-road, cheio de buracos, pedras, raízes e outros obstáculos pela frente. Foi-se o momento em que Donald Trump era visto como o candidato natural entre os conservadores norte-americanos. Hoje ele conta com a concorrência forte do governador da Flórida, Ron DeSantis, e outros candidatos que, senão têm o mesmo peso político, têm condições de fazer forte barulho.

    Poucos meses atrás, uma eventual primária do partido pareceria mais uma formalidade para legitimar a candidatura do sempre controverso empresário e, convém lembrar, ex-presidente. No entanto, a sombra do governador da Flórida surge cada vez maior e ameaçadora.

    Ameaçador a ponto de Trump sair de seu pedestal de favorito à indicação republicana e focar seus ataques a DeSantis. Não sem antes provocá-lo lembrando que ainda está à frente: “Eu realmente vou mirar no segundo (colocado) e acho que caiu tanto e tão rápido que não acho que ele vai ficar em segundo por muito mais tempo. Acho que ele vai ser terceiro ou quarto”, disse Trump ao apresentador da Fox News Sean Hannity.

    A mais recente pesquisa sobre a corrida no Partido Republicano foi divulgada no final de maio pela CNN. Nela, Donald Trump está à frente, com 53%, à frente de DeSantis, que tinha 26%. Na ocasião, entretanto, o governador da Flórida ainda não havia anunciado oficialmente que seria candidato.

    Essa vantagem de Trump sobre DeSantis é considerável, mas pode cair à medida que o governador da Flórida avançar com sua candidatura recém-anunciada. O ex-presidente, no entanto, tem um Calcanhar de Aquiles: ele segue perdendo para Biden nas pesquisas.

    No último dia 16 uma pesquisa Reuters/Ipsos mostra que o atual presidente segue à frente e pode vencer seu antecessor novamente, por seis pontos de vantagem (44% a 38%). Mais importante que isso é a tendência de alta. Em fevereiro a diferença era de três pontos percentuais, subindo para cinco em março.

    Se esses números se mantiverem, o eleitor republicano pode ficar desestimulado a escolher Trump nas primárias, o que colocaria DeSantis e outros no páreo. Animado com a possibilidade, o governador da Flórida resolveu buscar o eleitor mais radical, aprovando diversas leis anti-imigração e de restrição aos direitos LGBTQI+, além de entrar numa cruzada de grandes proporções contra a Disney, que descambou em uma guerra jurídica e na decisão do conglomerado de interromper um investimento de US$ 1 bilhão na Flórida para os próximos anos. Uma medida ousada, que pode lhe dar mas também tirar muitos votos.

    “A trajetória dos candidatos nas pesquisas mostra DeSantis ganhando apoio, enquanto Trump tem visto um declínio”, avalia Cesar Beck, analista político. “Isso sugere que a corrida republicana provavelmente testará qual candidato pode efetivamente desafiar o antigo e já não predominante domínio de Trump”.

    Um dos nomes que surgem com força para as primárias é o governador de Dakota do Norte, Doug Burgum. Assim como DeSantis, ele está à frente de um segundo mandato em seu estado, o que indica um status de alta aceitação por parte de seu eleitorado. Ele já se pronunciou como pré-candidato e deve anunciar de forma oficial sua posição no próximo dia 7.

    Governador da Flórida, Ron DeSantis, discursa em comício na cidade de Hialeah, na Flórida / 07/11/2022 REUTERS/Marco Bello

    Outro nome que surge com força é o de Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul, de origem indiana. Ela foi primeira embaixadora de Trump na ONU e tem uma brilhante carreira diplomática. Outro nome de destaque é o de Tim Scott, único senador negro do partido na atualidade. Beck destaca a força de dois nomes não-brancos dentro de um partido fortemente conservador.

    “Scott interrompe a narrativa da política americana e trabalhou em questões como a reforma da polícia. Apesar da percepção de não ameaça de Trump, Scott recebeu os parabéns do ex-presidente ao entrar na corrida”, comenta o analista. Sobre Haley, há um senão: “Sua ênfase em testes de competência com base na idade pode não ressoar com uma base de eleitores primários de tendência mais velha”.

    Outros nomes que seguem na corrida são Vivek Ramaswamy, Asa Hutchinson e Larry Elder também declararam suas campanhas. “Estes enfrentam batalhas difíceis em termos de reconhecimento e apoio nas pesquisas”, comenta Beck.

    Inimigo íntimo

    Outro nome que deve concorrer à indicação republicana é bem mais conhecido. Na verdade, apenas Trump é mais conhecido que ele em termos nacionais. Mike Pence foi vice-presidente na gestão do controverso empresário e foi escolhido por ser um nome mais moderado para atrair o voto do republicano menos afeito a extravagâncias. Agora, se prepara para mais uma vez concorrer nas primárias, o que deve anunciar na próxima semana.

    Mike Pence cumpriu galhardamente seu papel, ao funcionar com um contrapeso às declarações – e atos – de elevada polêmica de Donald Trump.

    No entanto, o aliado acabou sendo classificado como inimigo após as eleições de 2020, quando Joe Biden foi eleito presidente. Trump alegou fraude e até hoje se recusa a reconhecer a derrota. Ele pediu a Pence apoio nessa cruzada anti-eleitoral, mas não recebeu solidariedade. Desde então, estão às turras.

    Todos esses candidatos deveriam, em tese, ganhar força com os seguidos processos e condenações a que Trump tem sido alvo, que vão desde ocultação de documentos ultrassecretos até estupro. No entanto, não é o que vem acontecendo.

    Mike Pence foi vice de Trump, mas agora é seu desafeto / 31/03/2023 REUTERS/Kevin Lamarque

    “A principal fragilidade do ex-presidente, que seriam os processos e as investigações que ele virou alvo, acabou se tornando um ativo para ele”, analisa Leonardo Leão, especialista em direito internacional. Ele lembra que DeSantis passou a adotar medidas populistas, à moda de Trump, para ganhar força com o eleitorado mais radical, mas que não obteve êxito até agora. “Ele está tentando ser mais conhecido nacionalmente e mesmo assim não ganhou popularidade”.

    Eduardo Ludugel, professor de direito internacional, destaca o desafio que os pré-candidatos republicanos terão para suplantar Trump. “É um número historicamente grande de candidatos, um cenário como nunca visto antes, principalmente no reduto Republicano”. Para ele, a diferença estará na escolha dos estrategistas eleitorais. “(Terão de escolher) alguém que pense a economia de forma universal, uma equidade e consciência racial, pontos de equilíbrio sobre a massa imigratória e uma avalanche de conquistas”.

    A trilha ainda está no início, e muitos outros obstáculos devem surgir no caminho de Trump. No entanto, a liderança segue com ele, o que significa que basta manter o ritmo e desviar dos buracos maiores que se apresentarem à sua frente.

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