Soldados ucranianos lutam para manter controle de Kursk
Segundo autoridades, russos já retomaram 40% do território conquistado em agosto
O ataque ao amanhecer dentro da região de Kursk, na Rússia, nem chegou a um tiroteio, mas revelou a intensidade da batalha no território do Kremlin. Cinco russos avançaram na madrugada cinzenta de domingo (1°), mas, como mostram as, foram mortos ou feridos por um drone enquanto tentavam se esconder na linha das árvores.
“Tenho a impressão de que (os russos) têm pessoas ilimitadas”, disse Oleksandr, comandante de unidade do 225º batalhão de assalto, descrevendo o confronto em um café na cidade ucraniana de Sumy, 11 horas depois.
“Eles enviam grupos, e quase ninguém permanece vivo. E no dia seguinte, os grupos vão novamente. Os próximos russos, ao que parece, não sabem o que aconteceu com os russos anteriores. Eles vão para lá, para o desconhecido. Ninguém lhes conta nada sobre isso, e ninguém volta”, disse ele.
Oleksandr e dois colegas com quem ele está sentado estão com dificuldade de ouvir por causa do bombardeio constante. Eles fornecem uma visão rara da ocupação ucraniana de Kursk, que durou quase quatro meses.
A invasão de agosto marcou um raro sucesso tático e ganho estratégico para Kiev, embora o uso de mão de obra e blindados significativos no ataque tenha levado a críticas de que a escassez criada pela invasão contribuiu para o avanço da Rússia na frente oriental de Donbass.
Os defensores da operação em Kursk sugerem que ela forneceu a Kiev uma alavanca vital para quaisquer futuras negociações de paz — talvez iniciadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump — o que significa que a Ucrânia precisa manter uma posição na área, pelo menos até a primavera.
Oleksandr expressou confiança de que sua unidade poderia resistir, mas menos certeza sobre o porquê. “Não sei qual é realmente o objetivo”, disse ele. “Talvez devêssemos andar por aqui por quatro meses e dar meia-volta e ir embora, por exemplo… Se o objetivo é resistir até certo ponto, nós o faremos.”
Questionado sobre qual seria sua mensagem para Trump, Oleksandr exigiu que o Ocidente mantivesse as garantias de segurança que deu à Ucrânia em troca de Kiev desistir de suas armas nucleares, em um tratado de 1994 conhecido como Memorando de Budapeste, no qual a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos deram à Ucrânia, Belarus e Cazaquistão garantias por desistirem de suas armas nucleares da era soviética.
“Você tirou nossas armas nucleares? Você nos prometeu seu teto”, disse Oleksandr, usando uma gíria para proteção. “Mantenha sua palavra. Estamos sendo massacrados, e você ainda está tentando jogar, para defender seus interesses. Você teve que dar tudo o que podia para acabar com esta guerra em dois dias. Quem vai acreditar nas palavras dos Estados Unidos ou da Inglaterra, que tremem diante da Rússia? Perdoe meu inglês”, disse ele rindo.
Ataques russos recentes em sua área de Kursk provaram ser tão ineficazes quanto custosos, ele disse. Separadamente, autoridades ucranianas admitiram que 40% do território que tomaram no final do verão já foi recuperado pelos russos. A unidade de Oleksandr não dormiu por três dias, ele disse, ou deixou a linha de frente por oito meses, e esteve envolvida em combates ferozes nas cidades ucranianas de Bakhmut, Avdiivka e Chasiv Yar.
Ele disse que as tropas russas que os ucranianos enfrentaram em Kursk eram uma mistura de paraquedistas bem treinados da 76ª Brigada, mas também chechenos menos organizados e mercenários africanos. Mas ele não viu nenhum sinal das 12 mil tropas norte-coreanas que, de acordo com o Pentágono, foram enviadas para Kursk. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também disse à agência de notícias japonesa Kyodo no domingo (1º) que alguns norte-coreanos foram mortos pelas forças ucranianas e que eles acabariam sendo usados como “bucha de canhão” pelo Kremlin.
“Quando os pegarmos ou virmos um corpo”, disse Oleksandr, “então terei certeza de que eles estão aqui”.
Três semanas antes, sua unidade havia enfrentado um ataque de 40 veículos blindados e cerca de 300 soldados de infantaria, ele disse. Seu comandante de drone, indicativo “JS” para Java Script, disse que a unidade matou 50 russos naquele dia. “Os veículos que conseguiram passar descarregaram a infantaria”, JS relatou, “então nós acabamos com a infantaria. E foi assim por quase 24 horas, sem dormir, e no dia seguinte acabamos com aqueles que conseguiram se esconder do bombardeio de drones no primeiro dia.”