‘Sociedade precisa rever seu racismo’, diz diretora da Anistia
Jurema Werneck analisou protestos em decorrência da morte de George Floyd nos EUA
Diretora-executiva da organização Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck analisou, em entrevista à CNN nesta terça-feira (2), os protestos em decorrência da morte de George Floyd, um homem negro, por um policial branco em Minneapolis (EUA), no último dia 25 de maio.
Perguntada sobre o motivo para a violência policial contra negros estar em pauta no Brasil após o caso americano, Jurema afirmou que a resposta não cabe a ativistas do movimento negro, mas ao restante da sociedade. “Durante todo esse tempo na história da brutalidade policial no Brasil, temos denunciado isso vigorosamente, mas uma parte parte da sociedade tem se mantido alheia e não tem compreendido a urgência desse debate”, justificou.
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Ela também mencionou o aumento de operações policiais nas comunidades cariocas desde o início da pandemia do novo coronavírus. “João Pedro foi assassinado no dia 15 de maio. Três dias antes, no Complexo do Alemão, a polícia matou 13 pessoas e foram os ativistas sociais, que estavam distribuindo cestas básicas, que tiveram que cuidar dos corpos. Na mesma semana em que João Pedro foi morto, foram mortos jovens em Acari, na Cidade de Deus, no Morro da Providência. Tudo isso a partir de ações policiais”, afirmou.
A diretora-executiva defendeu as manifestações como uma forma de dar protagonismo à população negra. “Nós, pessoas negras, precisamos ter voz. A falta de direito à voz também é um dos mecanismos para perpetuar o racismo. Aqueles que têm voz pública precisam escolher o lado da mudança”, afirmou ela, que também frisou a importância de uma população que seja antirracista.
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“A sociedade precisa rever o seu racismo. A gente está em um momento complicado, mas sabemos que é o racismo que está por trás disso. Enfrentar o racismo é uma responsabilidade de todas e de todos. Chamo atenção para um aspecto fundamental: é dever das autoridades agirem contra o racismo, no Brasil e nos Estados Unidos”, destacou.
“A sociedade precisa compreender que, para construir uma nação que respeite direitos e seus cidadãos, precisa demandar da autoridade que age agora para parar com a brutalidade policial e com o racismo. Não podemos mais viver encurralados. A solução não pode ser mais desespero, mas políticas públicas e construção de uma nova sociedade”, disse.
(Edição Leonardo Lellis)