Sobe para 4 o número de mortos em desabamento em Miami; 159 estão desaparecidos
Autoridades locais encontraram mais 3 corpos nos destroços do edifício em Surfside durante a madrugada; buscas por sobreviventes já duram mais de 24 horas
O número de mortos no colapso parcial de um prédio residencial no sul da Flórida, na quinta-feira (24), subiu para 4, disseram as autoridades dos Estados Unidos na manhã desta sexta (25), enquanto a busca meticulosa por sobreviventes no meio dos escombros continua.
Três corpos foram encontrados durante a madrugada nos destroços do Champlain Towers South em Surfside, disse o chefe dos bombeiros de Miami-Dade, Ray Jadallah, aos repórteres na manhã desta sexta-feira.
O número de pessoas desaparecidas agora está em 159, informou a prefeita do condado de Miami-Dade, Daniella Levine Cava – na tarde de quinta, as autoridades tinham divulgado que 99 pessoas ainda não tinham sido localizadas.
“Quero ser muito claro sobre os números. Eles são muito fluidos”, disse o prefeito.
Cerca de 55 das 136 unidades da Champlain Towers South ruíram por volta da 1h30 de quinta-feira, deixando enormes pilhas de entulho no chão e materiais pendurados do que restou da estrutura, disseram as autoridades.
“Não estamos desistindo”, disse o prefeito de Surfside, Charles Burkett, à CNN na noite de quinta-feira. “Essa é a única coisa que não estamos fazendo. Procuramos 24 horas por dia e estamos retirando o máximo de pessoas possível. Esse é o objetivo agora. Nada mais importa.”
A causa do colapso ainda é desconhecida. Duas pessoas foram retiradas dos escombros, disse Jadallah, sem revelar suas condições médicas. Outras 35 pessoas foram resgatadas de partes do edifício que não desabaram por socorristas, disse ele.
Equipes de resgate estão usando cães e aparelhos de escuta para procurar sobreviventes, disse o chefe distrital dos bombeiros de Miami-Dade, Jason Richard, à CNN.
Conforme os socorristas se movem pelos escombros, eles são acompanhados por engenheiros estruturais que determinam quais espaços são seguros e onde escoramento adicional e outros materiais são necessários para garantir que o prédio não se desloque ou caia sobre as equipes, explicou Richard.
“Assim, conforme avançamos pelo prédio, monitoramos constantemente, certificando-nos de que não haja movimento, cada pedaço de entulho que movemos, temos que pegar, fazer esforços para estabilizar o prédio, centímetro a centímetro”, disse o bombeiro.
Engenheiros avaliam o colapso
Embora a causa do desabamento parcial não seja conhecida, alguns engenheiros que viram o momento da queda em vídeo compartilharam sua experiência com a CNN sobre possíveis causas para o prédio ter caído daquela maneira.
Greg Batista, um engenheiro estrutural que trabalhou nesse edifício dois anos atrás, disse que reparos no concreto e um problema de lascamento podem causar desmoronamentos.
A fragmentação pode ocorrer quando parte da superfície do concreto se descasca, se quebra ou se lasca.
“A fragmentação pode chegar a um ponto que, se não for reparada, pode levar a um eventual desabamento. Eu já estive em locais onde ocorreram quedas de pisos, vigas, colunas”, disse Batista.
Ele lembrou que para que esse tipo de colapso ocorra, basta o mau funcionamento de uma coluna para derrubar uma estrutura. “Basta uma coluna e tudo pode cair como um Jenga”, disse ele.
“Depois de ver o vídeo… você vê o prédio real caindo, e o colapso real começa em um dos andares inferiores. Então, imediatamente, vejo que algo aconteceu lá embaixo”, afirmou.
Outro engenheiro estrutural, Kit Miyamoto, que é o comissário de segurança sísmica da Califórnia, concordou com a opinião de Batista.
“Este colapso é um verdadeiro clássico… falha de coluna, o que significa que o próprio edifício foi sustentado por uma série de pilares. Se os pilares falham, tudo falha. Então é exatamente o que parece [ter acontecido]”, disse Miyamoto à CNN.
Batista ofereceu um vislumbre de esperança para os desaparecidos, dizendo que é perfeitamente possível que mais pessoas sejam resgatadas com vida.
“Se você olhar vídeos de prédios desmoronando no passado, verá milagres de bebês sendo arrancados de pequenos vazios no dia seguinte ou na semana seguinte. Há certamente uma possibilidade de que isso possa acontecer aqui”, disse ele.
Kenneth Direktor, advogado da associação de moradores do condomínio, disse que o prédio passou por “inspeções de engenharia completas nos últimos meses” em preparação para o cumprimento de uma certificação por seus 40 anos.
O prédio foi construído em 1981, de acordo com registros de propriedades online de Miami-Dade. Os padrões de construção foram reforçados após o altamente destrutivo Furacão Andrew, em 1992.
“O que isso diz é que nada parecido era previsível, pelo menos não foi visto pelos engenheiros que estavam olhando para o prédio de uma perspectiva estrutural”, disse Direktor à CNN.
Um engenheiro já havia realizado inspeções para determinar os reparos necessários, mas o único trabalho que realmente começou foi no telhado, disse Direktor.
Shimon Wdowinski, professor do Instituto de Meio Ambiente da Florida International University, disse à CNN que determinou em um estudo no ano passado que o condomínio Champlain Towers South apresentava sinais de afundamento nos anos 1990.
O condomínio teve uma taxa de subsidência de cerca de 2 milímetros por ano de 1993 a 1999, de acordo com seu estudo, publicado primeiro pelo USA Today.
Embora Wdowinski tenha dito que esse afundamento por si só provavelmente não causaria o colapso do condomínio, ele disse que poderia ser um fator contribuinte.
“Se uma parte do prédio se mover em relação à outra, isso pode causar alguma tensão e rachaduras”, explicou.
O professor disse que prédios em outras áreas se moveram a taxas mais altas, e ele não achou o movimento do prédio incomum. “O que é incomum é que hoje [quinta-feira] ele entrou em colapso”, disse.
O que sabemos sobre os desaparecidos
Pelo menos 30 pessoas que se acredita estarem desaparecidas são de vários países latino-americanos, segundo autoridades dos respectivos países.
Pelo menos nove são da Argentina. Entre eles estavam Andrés Galfrascoli, de 45 anos, seu parceiro Fabián Nuñez, de 55 anos, e sua filha, Sofía Galfrascoli Núñez, de 6 anos, segundo um amigo. O grupo estava passando férias no apartamento de um amigo.
“Não sabemos de nada, não temos nenhuma definição e isso é o que dói”, disse o amigo Nicolás Fernández à CNN.
Seis paraguaios, incluindo a irmã da primeira-dama paraguaia Silvana López Moreira, o cunhado e seus três filhos ainda estão desaparecidos.
Os parentes da primeira-dama vivem no 10º andar do prédio parcialmente destruído, e o Ministério das Relações Exteriores do país não conseguiu localizar a família, disse o ministério à CNN en Español.
Autoridades que representam o Uruguai e a Venezuela também relataram cidadãos desaparecidos e pelo menos seis colombianos residiam no prédio, disseram as autoridades.
A família de uma mãe e avó que estavam na seção do prédio que desabou também disse não ter notícias delas, disse o filho, Pablo Rodriguez, à CNN. “Estamos orando por um milagre, mas ao mesmo tempo tentando ser o mais realista possível sobre isso”, disse ele. “Até que saibamos definitivamente, há esperança – [mas ela] está diminuindo a cada minuto.”
Alguns membros da sinagoga Shul of Bal Harbour também estão entre os desaparecidos, disse Rabi Sholom Lipskar à CNN.
“Isso é algo que transcende nossa capacidade de compreensão”, disse Lipskar sobre o colapso. “É uma realidade, nós a aceitamos e temos que aprender como fazemos em nossa cultura de resiliência para seguir em frente.”
O Rabino Eliot Pearlson, que lidera o Temple Menorah, disse a Chris Cuomo da CNN: “É difícil explicar. Isso não acontece nos EUA. Não acontece em Miami Beach. Não acontece em nossas casas. E é muito difícil compreender como isso é possível”.
Pearlson afirmou que viu as pessoas se unirem em compaixão após o colapso, e seu templo sediará um serviço de oração de emergência nesta sexta-feira (25).
Três gerações de uma família de seu templo estão entre as 159 pessoas desaparecidas, disse ele.
“Devo dizer que quando passei pelo marco zero, havia fileiras e mais fileiras de bombeiros que estavam literalmente esperando para entrar em um prédio que poderia cair a qualquer momento”, acrescentou.
Rebekah Riess, Amanda Watts, Theresa Waldrop, Ana Zuniga, Melissa Alonso, Jamiel Lynch, Camille Furst, Abel Alvarado, Valentina Moreira, Gerardo Lemos e Radina Gigova contribuíram para esta reportagem.
(Texto traduzido; leia o original em inglês)