Sob vigilância do Grupo Wagner, país africano faz referendo que pode perpetuar presidente no poder
República Centro-Africana realizou consulta popular neste domingo que, se aprovado, permitirá que o líder Faustin-Archange Touadera possa concorrer a mandatos ilimitados; líder mercenário confirmou a chegade de mais soldados
A República Centro-Africana realiza um referendo constitucional neste domingo (30) que, se aprovado, pode permitir que o presidente Faustin-Archange Touadera concorra a um terceiro mandato em 2025.
A eleição ocorre sob a vigilância do Grupo Wagner, a força paramilitar russa que atua em vários países da África como extensão dos interesses de Moscou no continente.
Na última sexta-feira, o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, afirmou que estava pronto para ampliar sua presença na África. E que um novo contingente de suas forças havia chegado à República Centro-Africana, para proteger o país durante a realização do referendo constitucional.
Presidente com mandato ilimitado
Touadera foi eleito pela primeira vez em 2016 para um mandato de cinco anos e foi reeleito em 2020 para o que deveria ser seu último mandato.
A nova constituição proposta aboliria o limite de dois mandatos e estenderia o mandato presidencial de cinco para sete anos, o que significa que o tempo que Touadera ou outro candidato poderia servir como presidente seria ilimitado.
Mathias Barthelemy Mourouba, chefe da comissão eleitoral do país, disse à Reuters que os resultados provisórios são esperados dentro de sete dias, mas eles começarão a divulgar os resultados de algumas assembleias de voto nesta segunda-feira (31).
Os partidos de oposição e alguns grupos da sociedade civil pediram um boicote ao referendo, dizendo que ele foi planejado para manter Touadera no poder por toda a vida.
Falando depois de votar no centro de Bangui no domingo, Touadera disse que estava “sereno porque a nova constituição foi a pedido do povo centro-africano”.
General se apresenta como novo líder do Níger
O comparecimento foi escasso em uma seção eleitoral em um subúrbio ao norte da capital Bangui na manhã de domingo, com cerca de duas dúzias de eleitores na fila, de acordo com um repórter da Reuters.
“Espero que os meus amigos votem em massa. O que realmente quero é estabilidade para o progresso do país”, disse Laurent Ngombe, professor e uma das primeiras pessoas a votar.
O país sem litoral, aproximadamente do tamanho da França e com uma população de cerca de 5,5 milhões, é rico em minerais, incluindo ouro, diamante e madeira. Ele testemunhou ondas de instabilidade, incluindo golpes e rebeliões, desde a independência da França em 1960.
Touadera, 66, um matemático, tem lutado para reprimir grupos rebeldes que controlam bolsões do país desde que o ex-presidente François Bozize foi deposto por outra rebelião em 2013.
Touadera pediu ajuda à Rússia para enfrentar os rebeldes em 2018. Desde então, mais de 1.500 soldados, incluindo instrutores e militares privados contratados do grupo Wagner da Rússia, foram mobilizados no país ao lado do exército nacional.
(Publicado por Fábio Mendes, com informações da Reuters)