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    Salman Rushdie é extubado e tem melhora no quadro clínico, diz seu agente

    Em 1989, o líder iraniano, aiatolá Ruhollah Khomeini, jurou o romancista indiano de morte

    Nouran SalahiehNicki BrownLiam ReillySamantha Beechda CNN*

    Salman Rushdie, o aclamado autor que foi hospitalizado na sexta-feira com ferimentos graves após ser repetidamente esfaqueado em uma aparição pública no estado de Nova York, foi extubado de seu respirador e sua condição está melhorando, disse seu agente neste domingo (14).

    O premiado autor de 75 anos – cujos escritos por décadas lhe trouxeram ameaças de morte – permanece em estado crítico, de acordo com um comunicado da família divulgado no domingo por seu filho, mas ele foi “capaz de dizer algumas palavras” no sábado.

    “Apesar de seus ferimentos que mudaram sua vida serem graves, seu senso de humor agressivo e desafiador permanece intacto”, disse o comunicado.

    Rushdie estava se preparando para dar uma palestra na Chautauqua Institution na sexta-feira quando um homem pulou no palco e o esfaqueou em vários lugares, incluindo o pescoço e o estômago.

    “Ele está fora do respirador, então o caminho para a recuperação começou”, escreveu seu agente, Andrew Wylie, em um e-mail à Reuters.

    Funcionários e convidados correram para o palco e seguraram o suspeito, identificado como Hadi Matar, de 24 anos, de Fairview, Nova Jersey, antes que um policial estadual designado para o evento o prendesse, segundo a Polícia do Estado de Nova York.

    “Foi muito difícil de entender. Parecia uma brincadeira de mau gosto e não tinha nenhum senso de realidade”, disse Ralph Henry Reese, outro palestrante do evento que sofreu um pequeno ferimento na cabeça durante o ataque. Ele foi levado para um hospital por ambulância e depois liberado com uma lesão facial.

    “E então, quando havia sangue atrás dele, tornou-se real”, disse Reese à “Reliable Sources” da CNN neste domingo.

    Os ferimentos do autor incluem três facadas no lado direito da frente do pescoço, quatro facadas no estômago, perfurações no olho e no peito direitos e uma laceração na coxa direita, disse o promotor distrital do condado de Chautauqua, Jason Schmidt, no sábado durante a acusação de Matar. Wylie disse anteriormente ao New York Times que o ataque deixou Rushdie com danos no fígado e nos nervos.

    Rushdie foi levado de helicóptero para um hospital após o ataque e passou por uma cirurgia, disse a polícia. O autor pode acabar perdendo o olho direito, disse Schmidt.

    “Somos muito gratos a todos os membros da plateia que corajosamente saíram em sua defesa e administraram os primeiros socorros junto com a polícia e os médicos que cuidaram dele”, disse o comunicado, “e pela manifestação de amor e apoio de todo o mundo”.

    Em um tweet no domingo, Padma Lakshmi, apresentadora de TV e ex-esposa do autor, disse estar “aliviada” por Rushdie estar “se recuperando depois do pesadelo de sexta-feira”.

    “Preocupada e sem palavras, posso finalmente expirar. Agora espero por uma recuperação rápida”, disse ela.

    Romancista é jurado de morte

    Rushdie nasceu na Índia, mas se mudou para a Inglaterra, onde estudou e se formou em história. Publicou sua primeira novela, “Grimus”, em 1975.

    A forma como ele aborda assuntos políticos e religiosos delicados em suas obras o transformou em uma figura controversa. Isso chegou ao ápice com a publicação de seu quarto romance: “Os Versos Satânicos”, em 1988.

    O livro foi amplamente criticado pela comunidade muçulmana, que o considerou um sacrilégio. Em 1989, o líder iraniano, o aiatolá Ruhollah Khomeini, afirmou que Rushdie cometia blasfêmia e que “era insulto ao Islã e ao profeta Maomé”, e emitiu um decreto religioso – ou fatwa – pedindo sua morte.

    “É um caso de fundamentalismo religioso. Uma instrumentalização política do texto religioso. Neste caso, em âmbito internacional. Uma vez que não compete ao governo de um país condenar os cidadãos de outros países com base nas leis de seu Estado”, afirma Luana Hordones Chaves, pesquisadora pela Unesp.

    Assim, nos anos seguintes, o escritor viveu sob um forte esquema de segurança.

    Em 1998, o governo do Irã informou que tentaria não executar a ordem. Mesmo assim, esse assunto não se encerrou e, em 2017, o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, destacou que o decreto ainda estava em vigor.

    Organizações iranianas, algumas afiliadas ao governo, levantaram uma recompensa de milhões de dólares pelo assassinato de Rushdie. Em 2019, Khamenei voltou a dizer que a medida era “irrevogável”.

    Chaves ressalta que o caso expõe um conflito, por exemplo, de soberania, visto que o Irã condenou um cidadão britânico – que também não estava em solo iraniano. Diversos veículos de imprensa e a Organização das Nações Unidas (ONU) se movimentaram pela defesa da vida do escritor.

    “Acontece que os direitos de liberdade de expressão (inclusive de cunho religioso) e a liberdade de religião que a carta da ONU defende entram em contradição com os direitos de muitos países muçulmanos. Exatamente porque, na perspectiva islâmica, apostasia e blasfêmia são consideradas crimes”, explica a especialista.

    Kiely Westhoff, Andy Rose, Paul P. Murphy, Aya Elamroussi, Ray Sanchez, Christina Maxouris, Artemis Moshtaghian, Sara Smart e Samantha Beech, da CNN, contribuíram para esta reportagem.

    *Com informações da Reuters

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