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    Saiba tudo sobre os protestos violentos no Irã

    Onda de manifestações foi desencadeada pela morte de Mahsa Amini, que morreu em um hospital três dias após ser presa pela polícia da moralidade por mau uso do véu

    Protestos em Teerã, capital do Irã, após a morte de Mahsa Amini
    Protestos em Teerã, capital do Irã, após a morte de Mahsa Amini West Asia News Agency/Reuters

    Nadeen Ebrahimda CNN

    Os protestos continuaram em todo o Irã neste domingo (25), apesar da repressão do governo e de relatos da imprensa estatal alegando que os manifestantes colocaram um fim em seus comícios. Os protestos, agora no décimo dia, foram desencadeados por causa da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, que morreu em um hospital três dias após ser presa pela polícia da moralidade em Teerã e levada a um “centro de reeducação” por não respeitar as regras do hijab (véu islâmico) do Estado.

    Desde então, houve manifestações em mais de 40 cidades, incluindo na capital Teerã. Houve relatos de dezenas de mortos em confrontos com as forças de segurança. Segundo a imprensa estatal, pelo menos 1.200 foram presos.

    As manifestações que começaram com pedidos de justiça pela morte de Amini se transformaram em um movimento maior, pois uniu uma série de facções sociais e classes, com muitos demandando a queda do regime.

    Veja abaixo o que você precisa saber sobre essas manifestações:

    Diferença para protestos anteriores

    Os protestos atuais não são diferentes dos movimentos antigoverno anteriores. Contudo, especialistas dizem que as questões centrais que promovem a mobilização de agora são diversas, tornando-os indiscutivelmente mais significativos.

    As ondas anteriores de manifestações –em 2019, 2021 e, mais recentemente, neste ano– foram alimentadas principalmente por queixas econômicas, afirma Esfandyar Batmanghelidj, fundador e CEO da Bourse & Bazaar Foundation, em Londres. Ele acrescenta que essa foi uma das principais razões pelas quais os protestos não se disseminaram para outros segmentos da sociedade.

    “Isso é diferente, pois o que as pessoas estão realmente pedindo é um tipo mais significativo de mudança política”, comentou Batmanghelidj. O especialista disse ainda que esse movimento tornou mais fácil “gerar solidariedade entre diferentes grupos sociais”.

    Os protestos também estão reunindo iranianos mais jovens com acesso à internet e que não conheciam um Irã antes da República Islâmica. Essa é a avaliação de Sanam Vakil, pesquisadora sênior do programa para o Oriente Médio e norte da África no think tank Chatham House, em Londres.

    Vulnerabilidade do governo do Irã

    O governo não parece se sentir mais vulnerável do que antes, disse Trita Parsi, vice-presidente do Instituto Quincy, em Washington, EUA. “E eles podem estar calculando isso mal.”

    Especialistas esperam que os protestos aumentem. No domingo (25), um dos principais sindicatos de professores do Irã convocou uma greve nacional. As paralisações dos trabalhadores são sensíveis no Irã pois trazem de volta memórias da revolução de 1979. Na ocasião, uma ação trabalhista coletiva atuou como uma tática útil que ajudou a derrubar o Xá.

    “Acho que é bem provável que teremos mais greves, já que elas estavam acontecendo antes mesmo desse movimento”, mencionou Parsi. “Eles podem acabar sendo mutuamente reforçados”, acrescentando que as greves poderiam aumentar a pressão sobre o governo.

    Probabilidade de concessões do governo

    É mais provável que o fim dos protestos venha por meio do uso da força bruta do que de concessões, dizem analistas.

    O governo culpou a imprensa ocidental por instigar os protestos, aludindo a conspirações estrangeiras. Analistas dizem que isso define como eles serão abordados.

    “Se eles veem isso como uma ameaça à segurança e não como uma questão de conveniência política, então tendem a responder usando as ferramentas de seu aparato de segurança”, comentou Batmanghelidj. “O governo tem muito mais capacidade de repressão do que para uma reforma neste momento”.

    Vakil afirmou que, mesmo que as autoridades façam concessões por meio de pequenas reformas, a questão maior será “como fazer com que essas jovens coloquem seus hijabs de volta”.

    Um resultado para preservar a reputação seria uma reversão da política da moralidade, avaliou a pesquisadora do think tank. Ela acrescenta, porém, que uma revogação completa da lei do hijab é pouco provável. Um referendo que permite aos iranianos votar sobre a questão do hijab também poderia ajudar a conter os protestos, acrescentou Vakil. Há, no entanto, dúvidas sobre se isso poderia acontecer.

    Possibilidades para o futuro do Irã

    Apesar dos dez dias de manifestações que se disseminaram pelo país à medida que o número de mortos aumentava, os protestos continuam sem um líder, com alguns dos mais enfáticos e visíveis defensores dos protestos vivendo no exílio, já que o governo restringiu o acesso à internet internamente.

    “Este é um movimento iraniano nativo”, afirmou Vakil, “e é importante enfatizar que os iranianos comuns dentro do país são os mobilizadores do que está acontecendo”.

    Uma pessoa representativa seria necessária tanto para negociar mudanças com o governo como para liderar internamente o movimento em si, esclareceu Batmanghelidj.

    Os protestos têm uma ampla gama de queixas, indo além do uso obrigatório do hijab e da brutalidade do aparato de segurança do Estado.

    Também não está claro se há membros dentro do governo iraniano que entendem o que está em jogo e estão dispostos a exercer uma pressão por mudanças significativas dentro da estrutura de poder existente, acrescentou Batmanghelidj.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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