Rússia usará “meios militares mais fortes” se pressão ocidental continuar, diz autoridade
Vice-ministro das Relações Exteriores ressaltou que risco de escalada militar não deve ser subestimado e depende das decisões dos EUA
A Rússia usará “meios militares ainda mais fortes” na guerra contra a Ucrânia se os Estados Unidos e aliados ocidentais continuarem pressionando o país, declarou o vice-ministro das Relações Exteriores para Fred Pleitgen, da CNN, em uma entrevista exclusiva nesta quarta-feira (4).
“Os riscos são elevados e estão crescendo, e isso é bastante perturbador”, comentou Sergei Ryabkov, acrescentando que as atuais tensões geopolíticas são inéditas mesmo em relação “ao auge da Guerra Fria”.
Ryabkov disse que “não havia solução mágica” para o conflito. Ele afirmou que há falta de bom senso e “contenção no Ocidente, em particular nos EUA, onde as pessoas aparentemente subestimam a determinação [russa] em defender os principais interesses de Segurança Nacional”.
A administração do presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou na terça-feira (3) um pacote de assistência de segurança de US$ 725 milhões (aproximadamente R$ 4,3 bilhões na cotação atual) para a Ucrânia.
O valor foi considerado uma tentativa de colocar o país europeu “na posição mais forte possível”, à medida que a Rússia intensifica os ataques e Biden se prepara para deixar o cargo em janeiro de 2025.
O governo tem apenas algumas semanas para gastar quase US$ 7 bilhões (cerca de R$ 42,2 bilhões na cotação atual) que fazem parte de um pacote autorizado pelo Congresso no início de 2024 para ajudar a Ucrânia na guerra, que começou em fevereiro de 2022.
O risco de uma escalada militar não deve ser subestimado e depende das decisões dos EUA, advertiu Ryabkov, ao mesmo tempo que citou a “incapacidade do governo dos EUA de compreender que Moscou não pode ser pressionado indefinidamente”.
“Chegará um momento em que não teremos outra escolha senão recorrer a meios militares ainda mais fortes”, destacou, observando que é improvável que uma escalada aconteça “imediatamente”.
“Mas a tendência está aí”, comentou.
Referindo-se ao governo Biden, Ryabkov informou que a Rússia responderá a qualquer provocação.
Ameaça de novo ataque com míssil hipersônico
A Rússia também ameaçou atacar novamente a Ucrânia com o míssil balístico Oreshnik — que tem capacidade nuclear — que Moscou utilizou no ataque contra infraestruturas energéticas críticas no final de novembro.
Ryabkov falou que Oreshnik “não é um míssil balístico estratégico, é um míssil de alcance intermediário testado em combate”.
A decisão de 2019 de Donald Trump de retirar os EUA do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, um acordo de controle de armas de décadas entre os EUA e a Rússia, abriu caminho para a Rússia desenvolver um novo arsenal balístico, argumentou Ryabkov.
Se não fosse a decisão de Trump, “não haveria nenhum Oreshnik nas nossas mãos e seríamos restringidos na capacidade de desenvolver tais armas”, compartilhou Ryabkov.
Chance “zero” de compromisso
A Rússia não teve contato direto com o republicano ou a equipe dele sobre comentários do presidente eleito sobre acabar com a guerra na Ucrânia em um dia, segundo Ryabkov.
“Estaremos lá quando eles surgirem com ideias… mas não à custa do nosso interesse nacional”, comentou.
Abordando a possibilidade de conversas de paz com a Ucrânia, Ryabkov afirmou que as posições dos dois países são incompatíveis.
“As chances de um acordo neste momento são zero. No momento em que as pessoas em Kiev começarem a compreender que não há forma da Rússia seguir o caminho que sugeriram – poderá haver aberturas e oportunidades”, adicionou.
Entenda a Guerra entre Rússia e Ucrânia
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e entrou no território por três frentes: pela fronteira russa, pela Crimeia e por Belarus, país forte aliado do Kremlin. Forças leais ao presidente Vladimir Putin conseguiram avanços significativos nos primeiros dias, mas os ucranianos conseguiram manter o controle de Kiev, ainda que a cidade também tenha sido atacada. A invasão foi criticada internacionalmente e o Kremlin foi alvo de sanções econômicas do Ocidente.
Em outubro de 2024, após milhares de mortos, a guerra na Ucrânia entrou no que analistas descrevem como o momento mais perigoso até agora.
As tensões se elevaram quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o uso de um míssil hipersônico de alcance intermediário durante um ataque em solo ucraniano. O projétil carregou ogivas convencionais, mas é capaz de levar material nuclear.
O lançamento aconteceu após a Ucrânia fazer uma ofensiva dentro do território russo usando armamentos fabricados por potências ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França.
A inteligência ocidental denuncia que a Rússia está usando tropas da Coreia do Norte no conflito na Ucrânia. Moscou e Pyongyang não negam, nem confirmam o relato.
O presidente Vladimir Putin, que substituiu seu ministro da Defesa em maio, disse que as forças russas estão avançando muito mais efetivamente – e que a Rússia alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia, embora ele não tenha dado detalhes.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse acreditar que os principais objetivos de Putin são ocupar toda a região de Donbass, abrangendo as regiões de Donetsk e Luhansk, e expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, na Rússia, das quais controlam partes desde agosto.
Katharina Krebs contribuiu com esta matéria
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