EUA e Rússia trocam prisioneiros após longa negociação
Trevor Reed, cidadão americano e ex-fuzileiro naval, estava detido desde 2019; Konstantin Yaroshenko, piloto russo, foi preso em 2010
O americano Trevor Reed, ex-fuzileiro naval que estava detido em território russo desde 2019, foi libertado em uma troca de prisioneiros entre Estados Unidos e Rússia. Segundo altos funcionários do governo dos EUA, isso não afetará a abordagem do país à guerra na Ucrânia.
A libertação encerra uma provação de quase três anos para Reed, que foi condenado a nove anos de prisão em julho de 2020 por colocar em risco a “vida e a saúde” de policiais russos em uma briga, acusação negada por ele e sua família.
“Vou tentar não chorar, porque ele não quer que eu chore”, disse a mãe do ex-fuzileiro, Paula Reed, a Brianna Keilar, da CNN, no “New Day” desta quarta-feira (27).
“Obviamente, eu vou chorar um pouco, dar-lhe um grande abraço, e seremos nós quatro juntos novamente (pela primeira vez) em alguns anos, então Vai ser ótimo”, complementou.
A soltura de Reed faz parte de uma troca de prisioneiros pelo cidadão russo Konstantin Yaroshenko, informou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, em seu canal oficial do Telegram. Yaroshenko foi condenado por tráfico de drogas em 2011, acusação que nega, e sentenciado a 20 anos de prisão.
“Hoje, damos as boas-vindas a Trevor Reed e comemoramos seu retorno à família, que sentia muita falta dele. Trevor, um ex-fuzileiro naval dos EUA, está livre da detenção russa. Ouvi nas vozes dos pais de Trevor o quanto eles se preocuparam com sua saúde e senti falta de sua presença. E fiquei encantado por poder compartilhar com eles as boas notícias sobre a liberdade”, afirmou o presidente Joe Biden em comunicado.
Paula Reed destacou a Keilar que a família estava “muito grata” pelos esforços de Biden e que conversaram com o presidente e com Trevor por telefone depois que ele saiu da prisão.
Em nota, a família também agradeceu à imprensa por manter a cobertura do caso do ex-fuzileiro, elogiando especificamente Patrick Reevell, da ABC, e Jake Tapper, da CNN.
Preocupações com a saúde
A libertação de Trevor Reed foi resultado de “meses e meses de trabalho árduo e cuidadoso em todo o governo dos EUA”, destacou um alto funcionário do governo, observando que “as conversas sobre esse assunto em particular se aceleraram recentemente para nos levar a esse ponto”.
Um fator determinante foi a preocupação com a saúde do americano por sua família, devido à provável exposição à tuberculose, bem como os efeitos prolongados da Covid-19.
O funcionário, falando a repórteres nesta quarta-feira (27), disse que “em última análise, essas negociações levaram o presidente a ter que tomar uma decisão muito difícil de comutar a sentença de Konstantin Yaroshenko, um contrabandista russo condenado por conspirar para importar cocaína”.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia já havia levantado a possibilidade de que Yaroshenko pudesse ser devolvido “em troca de qualquer cidadão americano” detido na Rússia. Ele é um piloto russo que foi detido na Libéria por agentes disfarçados da Agência Antidrogas dos EUA em 28 de maio de 2010 e levado para os EUA, de acordo com a agência de notícias estatal russa TASS.
Os agentes da corporação aparentemente obtiveram evidências de que Yaroshenko tinha intenção criminosa de transportar um grande lote de cocaína, ainda segundo a TASS. Ele estava cumprindo a sentença na Instituição Correcional Federal em Danbury, Connecticut.
O integrante do governo dos Estados Unidos não forneceu detalhes sobre como ou por que Yaroshenko foi escolhido para a troca, mas observou que ele cumpriu a maior parte de sua sentença nos EUA e agora está sob custódia russa.
“Este é um apelo difícil para um presidente. Biden fez isso para trazer para casa um americano cuja saúde era fonte de intensa preocupação e cumprir seu compromisso de resolver esses casos difíceis e reunir os americanos com seus entes queridos”, pontuou.
O pai de Reed disse anteriormente à CNN que acreditava ser provável que ele estivesse sofrendo de tuberculose, estava tossindo sangue e também tinha uma costela quebrada. Também afirmou que o americano foi levado para um hospital da prisão, mas não recebeu tratamento e foi enviado de volta para a solitária.
Quando o ex-fuzileiro iniciou uma segunda greve de fome em protesto contra o tratamento recebido pelas autoridades russas, os pais de Reed foram protestar do lado de fora da Casa Branca na esperança de garantir um encontro com o presidente.
A reunião entre a família e Joe Biden aconteceu no mês passado e durou cerca de meia hora.
2 outros americanos ainda detidos na Rússia
A divulgação da libertação desta quarta-feira também renovou atenção para o caso do americano Paul Whelan, também ex-fuzileiro naval que foi detido em um hotel de Moscou em dezembro de 2018 e preso por acusações de espionagem, o que ele nega de forma consistente e veemente.
Ele foi condenado e sentenciado em junho de 2020 a 16 anos de prisão em um julgamento que autoridades norte-americanas denunciaram como injusto.
Em junho de 2021, Whelan relatou à CNN as condições sombrias do campo de trabalho remoto onde trabalha, em uma fábrica de roupas com condições precárias, adicionando que obter assistência médica é “muito difícil”.
Em sua declaração de boas-vindas à libertação de Reed, Biden disse que seu governo “não vai parar” até que Whelan esteja em casa.
Enquanto isso, a estrela do basquete Brittney Griner continua detida na Rússia depois de ter sido presa, em fevereiro, por acusações de contrabando de drogas. Um tribunal de Moscou recentemente estendeu sua detenção até 19 de maio, segundo a agência de notícias estatal russa TASS.
Embora sua equipe jurídica tenha conseguido encontrá-la várias vezes por semana durante a prisão, um funcionário dos EUA da embaixada americana em Moscou finalmente obteve acesso consular a Griner no final de março, acrescentando que a encontraram em “boa condição’.
Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, disse a Jim Sciutto, da CNN, nesta quarta-feira, que os casos continuam sendo as principais prioridades dos EUA.
Karl de Vries, Kate Sullivan, Veronica Stracqualursi e Khadean Coombs, da CNN, contribuíram para esta reportagem