Russa vive isolada sem energia elétrica na Sibéria há mais de 70 anos
Agafya Lykova nasceu na profundeza da taiga russa e só descobriu Segunda Guerra Mundial aos 30 anos
Se há quem reclame de estar recolhido desde março, esse não é um problema para Agafya Lykova, que vive em isolamento nas profundezas da Sibéria desde o seu nascimento, há 76 anos.
Ela é a última sobrevivente da família Lykov, que fugiu para as entranhas da taiga nos anos 1930, após sofrer perseguição religiosa na União Soviética. Eles são Velhos Crentes, uma dissidência da Igreja Russa Ortodoxa que protesta contra as reformas introduzidas no século 17. Após a morte do tio de Agafya pela polícia soviética, os pais dela montaram um assentamento a centenas de quilômetros da cidade mais próxima —e lá permaneceram até o fim de suas vidas.
Pelos primeiros 35 anos de sua vida, Agafya não teve nenhum contato com a civilização. Na cabana onde vive, não há aquecimento ou energia elétrica. Além de cuidar de uma plantação de vegetais, do fogão à lenha e da criação de animais, Agafya preenche os dias rezando: de tarde, à luz que entra pelas janelas, à noite, com ajuda de tochas e velas.
É a mais nova de quatro irmãos. A mãe dela morreu de fome em 1961, e os outros três irmãos morreram por falha nos rins e pneumonia, vinte anos mais tarde. Em 1988, morreu o pai e Agafya vive sozinha desde então.
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Nos anos 1970, geólogos que sobrevoavam a área de helicóptero encontraram a família. Foram publicados artigos no jornal sobre eles e a União Soviética deu à Agafya um tour de um mês pelo país. Foi a primeira vez que ela viu carros, aviões e dinheiro. Ela também não sabia da ocorrência da Segunda Guerra Mundial.
As matérias sobre a família viraram livro, o Lost in the Taiga: One Russian Family’s Fifty-Year Struggle for Survival and Religious Freedom in the Siberian Wilderness (Perdido na Taiga: O Esforço de Cinquenta Anos de Uma Família Russa Pela Sobrevivência e Liberdade Religiosa na Sibéria Selvagem, em tradução livre), do jornalista russo Vasily Peskov.
Dada à sua idade avançada e um “caroço no peito”, como ela descreve, ela não consegue mais desempenhar tão bem todas as tarefas necessárias para a sua sobrevivência. Voluntários a cedem comida e a visitam para ajudá-la em seus afazeres.
Neste ano, foi noticiado que Oleg Deripaska, bilionário russo do ramo do alumínio, concordou em pagar por uma reforma da sua cabana.
A assessoria de imprensa da reserva ambiental onde vive disse em maio que ela sabia sobre o novo coronavírus. “Ela conhece superficialmente a situação da Covid-19 no mundo e na região. Agafya Karpovna sempre se preocupa e ora pelas pessoas em tempos difíceis para o país e o mundo”, disse.