Reino Unido afirma que sheik de Dubai hackeou ex-mulher usando espionagem
O primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos teria usado o software Pegasus para hackear os telefones da ex-esposa
O governante de Dubai, o sheik Mohammed bin Rashid al-Maktoum, usou agentes de Dubai e dos Emirados Árabes Unidos para invadir e monitorar os telefones de sua ex-esposa, a princesa Haya bint al-Hussein, seus assessores jurídicos e funcionários, durante uma batalha legal em curso pela custódia de seus dois filhos, o tribunal superior da Inglaterra afirmou.
Andrew McFarlane, o juiz da vara de família mais graduado do Reino Unido, disse em sua decisão na quarta-feira (6) que descobriu que, por meio de uma rede de empregados e agentes, o sheik Mohammed havia hackeado os telefones celulares da princesa Haya, sua assistente pessoal, seus advogados, abaronesa Shackleton e Nicholas Manners, e dois membros de sua equipe de segurança pessoal usando o software “Pegasus” licenciado em Dubai e nos Emirados Árabes Unidos por uma empresa israelense.
O software usado incluiu a capacidade de rastrear a localização do alvo, ouvir suas ligações, acessar suas listas de contatos, senhas, calendários e fotografias, e ler mensagens recebidas por meio de aplicativos, e-mails e mensagens de texto.
McFarlane disse em sua decisão que “as descobertas representam um abuso total de confiança e, na verdade, um abuso de poder”.
“É um abuso agravado pela maneira como o pai contestou essas alegações e instruiu seus advogados. Apesar do peso das provas, a invasão nunca foi admitida, nem o fato do hackeamento ter sido feito pelo Pegasus”, disse McFarlane.
“Em nenhum momento o pai mostrou qualquer sinal de preocupação com a mãe, que está cuidando de seus filhos, com base no fato de que seus telefones foram hackeados e sua segurança infiltrada. Em vez disso, ele reuniu uma equipe forense formidável para contestar as descobertas evidenciadas pela mãe e para lutar contra ela em todos os sentidos”, acrescentou.
O julgamento foi divulgado na quarta-feira, após uma restrição de relatórios de um ano que foi levantada pela Divisão de Família do Tribunal Superior do Reino Unido.
Em um comunicado no mesmo dia, o sheik Mohammed contestou a decisão, dizendo que era baseada em “uma imagem incompleta”.
“Sempre neguei as alegações feitas contra mim e continuo a fazê-lo. Estas questões dizem respeito a supostas operações de segurança de estado. Como um chefe de governo envolvido em processos familiares privados, não era apropriado para mim fornecer provas sobre questões tão delicadas pessoalmente ou por meio de meus conselheiros em um tribunal estrangeiro. Nem o Emirado de Dubai nem os Emirados Árabes Unidos são parte neste processo e não participaram da audiência. As conclusões são, portanto, inevitavelmente baseadas em uma imagem incompleta”, disse o comunicado.
“Além disso, as conclusões foram baseadas em evidências que não foram divulgadas a mim ou aos meus conselheiros. Portanto, mantenho que foram feitas de uma maneira injusta”, continuou.
Dubai é um dos sete emirados que formam os Emirados Árabes Unidos.
Como o sheik Mohammed é o governante de Dubai, vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, seus advogados argumentaram que a Doutrina do Ato de Estado Estrangeiro – que proíbe um tribunal de investigar a legalidade de atos cometidos por um estado estrangeiro – prejudicou a jurisdição do tribunal superior do Reino Unido neste caso.
Em janeiro, McFarlane e o juiz Martin Chamberlain determinaram que a doutrina não impediu o tribunal de julgar as reivindicações da princesa Haya.
As descobertas fazem parte de uma série de audiências em andamento em Londres envolvendo a princesa, e seguem uma decisão proferida em março de 2020, que concluiu que o sheik Mohammed havia organizado anteriormente o sequestro de duas de suas filhas e as levou à força para Dubai, onde as manteve contra a sua vontade.
O sheik negou repetidamente todas as reclamações levantadas no caso em andamento.
Texto traduzido. Leia o original em inglês.