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    Reinado de Charles III terá caráter de “transição”, sem grandes mudanças, dizem especialistas

    Especialistas apostam em reinado “transicional” e acreditam que meio ambiente será principal bandeira do monarca, que assume o trono aos 73 anos

    Daniel Reisda CNN

    O rei Charles III assume a coroa britânica após 70 anos de reinado de Elizabeth II, que morreu na tarde desta quarta-feira (8). Para especialistas ouvidos pela CNN, a tendência é que Charles tenha um reinado discreto e transicional. Além disso, o monarca deve ter o meio ambiente como principal bandeira, o que pode ajudar o novo rei a diminuir sua baixa popularidade.

    Mais velho a assumir a coroa britânica, Charles III chega ao trono aos 73 anos e tem o desafio de substituir a rainha Elizabeth II, que entra para história como uma rainha “forte, longeva, de credibilidade e carismática”, diz o pesquisador da USP Pedro Costa Júnior.

    Segundo ele, o novo rei é pouco carismático e tem a sua imagem ainda marcada pela turbulenta separação com a princesa Diana, em 1996.

    Diante das dificuldades para realizar grandes mudanças na monarquia britânica, Charles III deve ser um rei “protocolar”, à espera de que o seu primogênito e próximo na linha sucessória da coroa, o príncipe William, mais jovem e popular, promova modernizações, diz Leonardo Paz, pesquisador de Inteligência Qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (NPII).

    Charles III assumirá como chefe de Estado em um momento de rupturas para o Reino Unido. Nos últimos anos, o país passou deixou a União Europeia, em um processo que dividiu a população e levou à queda da então primeira-ministra Theresa May.

    Mergulhada em uma crise política e econômica – com a inflação atingindo seu maior nível de 40 anos – Liz Truss assumiu o cargo de ministra ainda nesta semana, no dia 6. Seu antecessor, Boris Johnson, deixou o governo após uma crise de sua imagem.

    Neste cenário, a doutora em Relações Internacionais pela UNB Angélica Szucko acredita que o próprio regime monárquico pode sofrer questionamentos, especialmente entre os mais jovens.

    “Não sei exatamente como a população reagirá, mas entendo que é um momento complicado sim. Tanto pelo fato de ele suceder a Rainha Elizabeth, quanto pela mudança no próprio governo do Reino Unido. Com a saída do Boris Johnson, a atual crise econômica e a questão da guerra entre Russia e Ucrânia”, diz Szucko.

    “Ele tem esse desafio de reafirmar a importância da monarquia dentro do Reino Unido. De tentar reconstruir um pouco a imagem da monarquia”, diz completa a pesquisadora.
    Costa Júnior diz que Charles terá que demonstrar se a monarquia “realmente é capaz de gerar esse efeito de coesão social dentro do país imenso em muitas outras crises”. Segundo ele, o regime monárquico foi contestado de forma massiva pelos britânicos em 1996, diante da crise provocada pela separação entre Charles e Diana.

    Da Paz, no entanto, pontua que a monarquia faz parte do patrimônio cultural do Reino Unido. Além disso, por ter se transformado em um grande atrativo aos turistas, acaba não sendo um grande peso financeiro para a população.

    O pesquisador da USP acredita que Charles III deve promover pequenas concessões em relação a demandas da parcela da população mais liberal e pró União Europeia, mas que grandes modernizações devem ser concretizadas apenas no próximo reinado, do príncipe William.

    Sucessão

    Leonardo Paz afirma que se chegou a cogitar a possibilidade de que Charles abrisse mão do trono, para que o filho, William, herdasse a coroa. A possibilidade, no entanto, foi descartada diante do quadro econômico que o Reino Unido enfrenta.

    “Chegou-se a cogitar a possibilidade de ele abdicar do trono, passando para o filho mais velho, William. Mas esse debate já está abandonado. Inclusive, no contexto que o Reino Unido se encontra, em uma crise política e econômica, a população vai ter mais uma postura de se reunir em luto pela rainha”, diz o pesquisador.

    O historiador Alex Catharino, da Fundação da Liberdade Econômica, afirma que com a morte do príncipe Phillips, em abril de 2021, a rejeição à figura de Charles foi amenizada. Segundo Catharino, “o lado humano deve prevalecer”.

    “O movimento contrário a Charles é, de certo modo, pequeno. A posição dele no funeral do pai, muito comovido, e nos próximos dias também provavelmente abalado, geram uma comoção junto à população britânica. Esse lado humano deve prevalecer no momento”, afirma Catharino.

    Para o historiador, a noção de que o reinado de Charles será “de transição” também tende a torná-lo menos impopular.

    “As pessoas sabem que é um reinado de transição. Ainda que o reinado de Charles dure 20 anos, por exemplo, as pessoas estão de olho no futuro, nos próximos reis William e George.”

    Meio ambiente deve ser principal pauta

    O herdeiro do trono britânico é antigo defensor do meio ambiente. Em 2021, Charles discursou na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021, a COP 26. “O meio ambiente será um dos principais temas que o, agora, rei Charles vai levantar em sua plataforma enquanto rei”, diz Leonardo Paz, da FGV.

    O professor pontua, no entanto, que o cargo de rei tem um poder político limitado. “Tem pouca capacidade de direcionar a política externa para algum tipo de ação mais concreta, isso é papel do primeiro ministro. A monarquia funciona como uma força de soft power, a lógica de um poder que leva valores e ideias”, afirma paz.

    “O meio ambiente é, hoje, uma agenda global e ele vai tentar levantar essas bandeiras para também engajar um pouco de popularidade. Essa atuação prévia, antes da coroa, mostra que ele já tem uma atuação e sensibilidade com essas causas.”

    Fotos – Charles III, o novo rei da Inglaterra

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